Prefácio

3 1 0
                                    

Qualquer tipo de peso sempre me angustiou. Eu buscava, fervorosamente, a leveza de todas as coisas, como naquelas manhãs ensolaradas de feriado, sem compromisso algum, sem tempo. Mas as coisas pesam. Sempre sentia o peso de tudo, principalmente o meu próprio. E talvez, por isso, buscava alguma leve compensação, como esquecer a passagem das horas. A passagem do tempo é descontraída quando se esquece, mas assusta extremamente ao ser notada.

Já o peso da palavra sempre me encantou. Ele me atraía por ser, de alguma maneira, docemente definitivo e descompensado. Não há volta. Era essa a sensação de estar leve que eu buscava. A gente carrega nos olhos o peso e a leveza de toda palavra que já sentiu e ouviu, cada uma faz parte de quem cada um é. Como a poeira que a gente carrega de todo lugar que passou. Esse peso não me pesa, apenas me firma os passos. Deixo-me aqui àquele tempo farto de primeiras sensações, ainda que tardias. Aos sustos do início, aos escorregões do não saber e à língua, que teimava em dizer aquilo que ainda não sabia transformar em poesia. 

VeracidadeWhere stories live. Discover now