Capítulo 9

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Wolfgang Boorman

Ao fundo de seus olhos uma escuridão que se assemelhava a um poço de sangue, as sobrancelhas franzidas e as rugas no meio delas, era ódio. Respiro fundo para que algo dentro de mim fosse capaz de impedir ela, no entanto, observar essa nova Trea adicionava camadas a minha mente que talvez eu nem fosse capaz de pensar.
Acredito também que algumas de suas palavras não era tão um blefe, mas seu posicionamento naquele momento não agradariam aqueles que estavam em sua frente.
Ela dá um sorriso de lado levemente debochado, passando as mãos por entre seus cabelos negros e sua respiração parece não existir, ou talvez esteja tão rápida que seria impossível de captar.
Trea começa a piscar os olhos freneticamente e começa a dar alguns passos para frente.

— Bom... — Todos permanecem imóveis. — Sabe bispo, você lembra de Adelaine?

O bispo agora mais do que nunca salta seus olhos como se os mesmos fossem capazes de sair dali correndo.

— Ah você não lembra? Mas eu lembro, saiba que eu ainda lembro dos gritos dela. Você quer que eu conte a eles o que foi que ela gritou naquele dia? Quer que eu lembre você do que ela gritou ou eu vou ter que fazer você repetir? Então bispo? O gato comeu sua língua? — As mãos de Trea apertavam seu vestido para que ela pudesse caminhar mais perto deles.

Todos ao redor se olhavam curiosos e ao mesmo tempo com uma expressão de medo, pois imprevisível era a palavra que mais estava tomando conta de nossas vidas.
Aperto os olhos e sinto minhas mãos ficarem um pouco suadas.

— Não fale bobagens. — O som da voz do bispo parece ecoar na grande sala.

— Vocês só sabem as coisas que sabem pelo acaso. Acham mesmo que Deus faria vocês saberem de certas coisas por que confia em vocês? — Ela solta ar pelas narinas enquanto dá um sorriso cerrando os lábios.

Naquela altura eles pareciam jogar algum tipo de jogo de xadrez, onde um passava a vez para outro.

— Sua boca é como... — O bispo balança a cabeça e olha para o chão um pouco distante.

— É como o que? Me diga? É a voz mais verdadeira que você irá ouvir em toda a sua vida, e eu farei questão de ser a última que você escute.

Ela chega perto o suficiente, perto o suficiente para deixar todos naquela sala sem ar e os olhos soam como um lobo em meio a uma carnificina, um predador que depois de dizimar um rebanho, ainda queria mais.
Os dedos dela perfuram sua carne pálida que agora é tomada pelo rubor de seu sangue. E quanto mais ela aperta mais as veias querem fugir de seu corpo.

Enquanto ela o encara com uma expressão que agora não seria mais dada como loucura, mas sim como um ecstase que só ela entenderia e poderia sentir, ela o levantava com uma única mão.

Meu corpo sucumbia ao medo e ao desespero e todos ao meu redor seguravam o grito. Damos um passo a frente mas seus olhos são tão hábeis que ela nos fita de tal modo que somos paralisados por sua expressão. Como ela queria aquilo e como ele parecia ser domado por todo o seu poder.

— Não dêem um passo. — Os outros religiosos atrás dela apenas acentem com a cabeça apenas prevendo aceitar aquele destino de seu líder. — Eu estou te salvando você sabe não é? Sabe que eles iriam vir atrás de você uma hora ou outra. E a morte que eu lhe darei será um presente.

Sua voz soava de forma melancólico e piedosa, totalmente diferente do que estávamos vendo.

Quando não imagino mais nada, seu corpo cai de maneira pesada e os olhos saltados virados para nós com sua última expressão de clemência não restava dúvidas. Ele estava morto.

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⏰ Última atualização: Aug 17 ⏰

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