Kobaiaz: Episódio Zero - Parte I

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Os últimos dias não tem sido dos melhores.

Tenho começado a dormir menos por conta dos plantões extras em que tenho me colocado. Tudo porque desde que este mundo foi tomado pelo medo, muitos médicos abandonaram seu posto nesta guerra.

Vivemos num mundo que se liga diretamente a um mundo paralelo. Duas realidades distintas. Interessante que isso é mais surpreendente do que o dom de ter superpoderes a partir do princípio de que o esforço e, principalmente, o estudo conferem esse dom.

Desde que os acontecimentos envolvendo um garoto de 18 anos em uma luta na chamada Torre Prateada ocorreram, o mundo tem ficado cada vez mais de cabeça para baixo.

Mas para muitos, a rotina continua.

O que acontece é que nós sempre fomos as cobaias desse outro mundo paralelo, numa tentativa absurda de criar o que eles chamam de “medicina perfeita” e “mundo perfeito” – tanto é que relatos em textos desse mundo nos definem como “KOBAIAZ”.

Ainda assim, tenho cumprido mais plantões, o que incluem missões de campo e de exploração... Nesse outro mundo.

Minhas habilidades com os instrumentais, o dom de saber manuseá-los, manter a calma em muitas situações e lidar com a frieza em muitos momentos auxiliam bastante nas missões de urgência e nas explorações em busca de respostas por uma solução que quebre todas as relações com esse outro mundo e possamos viver em paz.

Essa guerra precisa acabar.

O governo já está criando programas para importar médicos de outros países, na tentativa de criar um exército em um caso de uma guerra mais ampla. O grande problema é que a Federação pode estar cometendo um erro muito maior fazendo isso.

Enfim, não consigo acalmar meus pensamentos, mesmo enquanto leio Game of Thrones, um livro fantástico, em minha opinião. Não consigo me distrair e não ficar nervoso o suficiente ao saber que logo, estaremos precisando intimar academeds, meros estudantes da Medicina, para nossas missões de campo.

Não que os academeds venham a ser um problema na missão, mas é que não pretendia mesmo fazer com que eles enfrentassem de cara uma realidade tão cruel em que vivemos. Infelizmente, tornou-se necessário. Felizmente eles só estariam conosco na próxima semana.

Observo um pouco a minha equipe.

Allegra está se preparando para sair da sala e ir fumar um pouco, como de costume. Ela não parece, mas é a mais velha do grupo. Sua sobrinha Joane está sentada em uma das cadeiras da sala, enquanto observa o celular e espera o momento da missão. Luke mexe em sua nova máquina fotográfica, programando-a e deixando preparada para em alguma eventualidade tirar fotos. Tales observa o monitor do computador, entediado. Não sei dizer, por um breve momento, se Mitsuda está dormindo ou acordado, até que vejo que ele me fita com seu olhar japonês.

- Preocupado, Vasquez? – ele questiona.

- O suficiente, Mitsuda. – respondo enquanto mexo nos meus óculos e tiro-os para limpá-los. – Assim que a outra equipe vier nos substituir, entraremos em campo.

Poucos sabem, mas onde hoje existem grandes hospitais de urgência e emergência já existiram várias colunas que sustentavam as conexões deste mundo com o outro. Graças a isso, em alguns deles podemos acessar diretamente o outro mundo e explorá-lo. Basicamente é uma missão de reconhecimento, buscando conhecer o que sustenta o outro mundo, seus habitantes, e porque, insanamente, querem destruir nosso mundo em prol do deles.

A minha equipe nunca teve baixas, mas já ouvi relatos de outras equipes que perderam a maioria de seus membros.

Deixe-me explicar algo. Poucas pessoas conhecem as histórias desse outro mundo, porque o Governo e o Conselho Federal de Medicina ocultaram todas as informações possíveis. Apenas pessoas que presenciaram todo um mal, ou tem alguma ligação com isso sabem de mais do que a maioria das pessoas está sabendo neste momento.

No Domínio do MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora