Feliz Aniversário!

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Margareta e sua filha Nina Silva viviam em um apartamento muito pequeno,  muito feio e muito afastado do centro de Londres. O sobrenome latino denunciava a origem do pequeno núcleo familiar, ambas eram brasileiras, mas dos tempos nos trópicos pouco falavam, Nina não se lembrava de nada, e Megareta mal conhecia outros brasileiros em Londres, na verdade ambas viviam sem muitos contatos sociais, Nina mal saia de casa e tinha poucos colegas na escola, já Margareta se dividia entre dois empregos, e alguns bicos. Eram dias muito difíceis, Nina era criança então não podia trabalhar, e os salários de Margareta mal cobriam as contas sendo raros os momentos em que podiam sair para fazer alguma coisa.

Naquela noite Nina não foi se deitar, ficou em frente a velha tv de imagens em preto e branco, enrolada no edredom. Era uma noite fria de novembro, mas evitavam ligar os aquecedores para diminuir os custos. Já passava de meia noite quando a maçaneta girou e Nina correu para a porta.

- Lembra que dia é hoje? - disse Nina se jogando num abraço que surpreendeu Margareta que mal havia entrado em casa.

- Nem é dia ainda! - disse  a mãe se desfazendo do abraço, seu semblante transparecia cansaço com seus cabelos presos num coque quase desfeito e os olhos que carregavam o peso de dias sem dormir. Já os olhos cinzentos de Nina brilharam prestes a transbordar como as nuvens plumbeas de um dia de chuva, entendia que a mãe estivesse cansada, mas havia esperdo aquele momento o dia todo.

Megareta apoiou a bolsa na bancada entre a sala e a cozinha ignorando a filha, então com cuidado tirou da bolsa uma torta de maçã que tinha cerca de um palmo. O rosto de Nina se iluminou na hora, Margareta com um sorriso no rosto equilibrou sobre o doce uma vela em forma de 11 quase do tamanho da  própria torta, e disse:

- Era para ser surpresa amanhã cedo!

Nina sorriu travessa, Margareta acendeu a vela e cantou os parabéns em português, as vezes gostava de relembrar a língua deixada no passado, Nina era fluente na língua, embora soubesse pouco da sua cultura de origem. Magareta por fim disse:

- Não esquece de fazer um pedido antes de soprar.

Nina soprou a vela com um desejo bem simples: mais tortas de maçã. Era seu doce favorito e uma regalia rara.

Depois de comer não demorou muito para que ambas fosse se deitar, era tarde Nina tinha aula pela manhã e Margareta mal conseguia se manter de pé, então se depediram dando boa noite e cada uma foi para seu pequeno quarto. Nina deitou-se na cama puxando as cobertas, mas logo que colocou a cabeça no travesseiro sentiu um inseto grande cair sobre suas cobertas, no susto ela o atirou para cima, assim que se recompôs percebeu que era uma mariposa com grandes olhos nas asas. Com muito cuidado Nina pegou a mariposa, abriu a janela e a atirou para fora, a mariposa voou junto a brisa fria, e Nina sentiu o corpo estremecer de frio enquanto via o inseto bater asas para longe, foi então que percebeu uma mulher de meia idade vestida com uma capa vermelha brilhante segurando um caderno de anotações, em pé no meio do pátio deserto do condomínio. Nina se curvou um pouco para olhar melhor a estranha a figura, mas ela desapareceu na primeira piscada d'olhos.
Pensando na figura que viu, Nina foi se deitar, mas demorou para dormir.

Assim que amanheceu Nina apenas se arrastou para cozinha, preparou o chá mais forte que conseguiu, e abriu a geladeira na esperança de encontrar algum pão amanhecido, mas encontrou outra coisa. Assim que puxou a porta pegou uma tortinha de maçã que quase foi de encontro com o chão, a geladeira estava cheia delas. Nina não acreditou no que viu, sem pensar muito foi logo devorando quantas tortas pode e pegou mais algumas para comer no caminho da escola. Parecia um sonho, mas além de quase quase passar mal, assim que a euforia passou ficou pensando se sua mãe não teria arranjado as tortas para algum serviço e logo o peso na consciência a tomou. O sentimento durou o dia todo, até que ao voltar da escola viu que não havia nada na geladeira além de uma lata aberta de spam, além disso misteriosamente sua mãe também não falou nada sobre as tortas. "Aquilo teria sido real?" se perguntou Nina, mas não encontrou uma resposta.

Nina e castelo de HogwartsOnde histórias criam vida. Descubra agora