Capítulo Único

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Seungcheol levantou do sofá para atender uma ligação do interfone de seu apartamento, com o porteiro avisando a chegada de uma carta para ele. Sabia que estava vindo, apenas não esperava que chegasse naquele dia.
Entrou no elevador silencioso e vazio, e apertou o botão do térreo. Trocou poucas palavras com o senhor de meia idade atrás do balcão da recepção, pegou o papel e subiu novamente até seu andar, voltando a deitar no sofá (onde passava maior parte de seu tempo ultimamente) assim que entrou.
Analisou o envelope, que era igual a todos outros que já recebera e esboçou um sorriso, como fazia todas as vezes ao ler o nome de Wen Junhui.
Não era comum que jovens do século XXI trocassem cartas com toda a tecnologia existente, mas aquilo era uma coisa deles. Algo especial, que fazia parte da história da amizade dos dois.

"Cheollie,

Espero que esteja bem. Como vai a dieta? Duvido que tenha conseguido passar mais de uma semana sem frango frito. Vamos apostar quando eu chegar aí.
Sim, tenho uma notícia boa. Fiz as contas pra que a carta chegue antes que eu, afinal, não tem graça se eu tiver aí com você enquanto você lê, mas conta uns três dias pra frente e eu te ligo avisando o horário que o meu vôo deve pousar aí na Coréia. Estou com saudades do seu sofá e do seu gato, é só por isso que estou voltando.
Por falar nele, como vai o Cherry? Ele melhorou da patinha?
Ai, Hyung... Sei que perguntou da faculdade na carta passada mas não tô no pique pra escrever coisas ruins hoje. Acho que deve imaginar como toda essa história de TCC é um inferno. Quando eu chegar, te conto tudo, tá? Já terei feito a primeira apresentação até lá.
Bem, acho que é isso. Arruma essa bagunça de casa antes que eu chegue, por favor! Sou seu melhor amigo, mas sempre vai ser estranho achar cuecas suas jogadas no meio da sala.
Até mais, hyung!

Com saudades APENAS do seu gato, Junnie."

Limpou as lágrimas que caíam como cascatas por suas bochechas. Olhou a sala arrumada e o pensamento de que Jun nunca a veria daquele jeito fez seu choro intensificar.
Levantou, se poupando do esforço de limpar as gotas salgadas que cairiam pelas próximas horas pelo seu rosto e foi até a gaveta onde guardava as cartas. Aquela era a última que recebia, mesmo não querendo acreditar nisso.
Tinha vontade de escrevê-lo, o xingando de todas as coisas possíveis por ir de carro, não de ônibus justo naquele dia. Por não aguentar só um pouco mais, enquanto os paramédicos chegassem. E principalmente, por abandona-lo naquele mundo em que Wen Junhui era a única pessoa que Choi Seungcheol tinha.

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