Neve e suor

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Então foi assim mesmo, como um conto de fadas. E se for apenas na minha memória, que seja! Me consola, me anima, me faz sentir amada do jeito que sou (ou era).

Eu que nunca tinha saído do Brasil, fui para NY de classe executiva! E pagando classe econômica. É ou não é um sonho?

Era noite de 24 de dezembro, o aeroporto de NY estava fazio. Logo que passei meu passaporte no token, um agente me avistou e chamou. Eu tremia na base com tanto medo por tudo o que ouvia falar dos agentes de imigração dos EUA. Ele me perguntou quantos dias eu ficaria, com um sorriso no rosto me deu um "Welcome to United States" e carimbou meu passaporte.

A partir dali, meu nervoso aumentou. Eu iria conhecer o cara que conversava apenas por vídeo por 11 meses. Meu Deus!!! Meu coração parecia que iria sair pela boca (que aliás estava seca).

Peguei minha única mala na esteira e fui em direção à saída.

"Onde está esse cara??? Será que me deixou aqui sozinha???Era catfish???", pensei.

Estava em meio à pessoas que nunca vi, sem falar nada em inglês, apenas com 2 telefones de dois brasileiros que moravam em NY, caso desse algo errado.

Vários pensamentos brigavam na minha mente, até que senti mãos quentes envolvendo minha cintura, por trás (depois ele disse que estava avaliando minha bunda). Levei um susto, e assim que virei reconheci os olhos do homem que balançava meu coração de 38 anos.

Ele estava lindo. Com o brinco que eu achava um charme, careca, barba feita, cheiroso, com flores nas mãos.

Nos abraçamos, nos emocionamos, levei um pouco do BRASIL para ele matar a saudade dentro daquele abraço. Nenhum beijo, a não ser aquele beijo gostoso e delicado que ele deu na minha mão.

Um cavalheiro, sim! Bruto por fora, delicadíssimo nas atitudes.

Ele havia comprado uma jaqueta grossa para mim, luvas e touca, pois era inverno em NY. Quem disse que eu estava com frio? Estava suando em bicas!

Saímos do aeroporto, e para mim, essa memória será eterna! Sentir aquele ar geladíssimo, com chuva, e eu de blusinha de alça morrendo de calor, foi inesquecível!!!

Seguimos para o carro, em minhas mãos somente as flores que ele me deu. Com ele, todas as bagagens, casaco, e bolsas de mão.

Entramos no carro, e pedi para abrir as janelas mesmo com uma chuva fina porque estava muito quente dentro do meu corpo "adrenalítico". Ele, muito cheiroso, se sentou no banco do motorista, e me olhou longamente. Senti seus olhos penetrando na minha alma sem mesmo nenhum toque. "Danado!!! Ele sabe o que está fazendo!!", pensei.

Começamos a conversar sobre a viagem, sobre o tempo, mas eu só conseguia pensar em quando o beijo finalmente chegaria. Estávamos indo em direção ao hotel (porque ele morava em um quarto alugado, e queríamos privacidade) até que ele lembrou de pegar o vinho que havia comprado para a ocasião.

Paramos na Mulbery St, em Newark, New Jersey. Antes de sair do carro ele me disse para eu me preparar, porque ele queria me dar um "selinho" quando voltasse. 

Gente...a tortura das palavras tinha que valer à pena!!! Vim de tão longe, passar o Natal com alguém que nunca havia sentido o cheiro (e que cheiro bom!) e agora estava sendo assediada lentamente, quando eu queria mesmo era que ele me pegasse com aquela pegada brasileira (e baiana), apimentada, forte e quente (porque agora sim, eu estava com frio).

Mulberry StOnde histórias criam vida. Descubra agora