For you

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Dazai estava cansado daquilo tudo, se sentindo exausto ele caminhou pelas ruas de Yokohama, cambaleando e segurando as lagrimas que ficaram entaladas dentro de si apenas por não ter o costume de se expressar dessa forma.
Estava tudo acabado e ele se perguntava se poderia superar com tanta facilidade um sentimento de amor tão avassalador, talvez o único sentimento verdadeiro que ele tinha experimentado nesses últimos pequenos longos tempos vividos, e tinham sido longos cinco anos, cinco anos de uma amizade pura, mesmo com seus altos e baixos.
Ele se perguntava se aquilo era realmente real, se era certo se afastarem daquela forma tão brusca.
Mas já acontecera e nada poderia ser feito para mudar algo nessa história que francamente, chegava a ser chata de tão trágica, eles realmente tinham estragado tudo. Ou melhor, ele havia estragado tudo e da pior forma. Soltando seus demônios com tanta destreza a alguém que não merecia tal ato, a alguém que sempre estava ali, ao seu lado, aguentando seu tormento junto a ele e sendo um de seus principais pilares.
Dazai sentia raiva de si mesmo, por ter se apegado e principalmente ter feito alguém de seu pilar por tanto tempo, pois quando nos abrimos para alguém estamos mais vulneráveis a ser feridos.
Não deveria ser surpresa pra ninguém que algo assim aconteceria, nem para si mesmo, pessoas vêm e pessoas vão então porque se sentia tão derrotado? Como se lutasse com 10 leões prontos para devora-lo todas as noites, todas as madrugadas. Suas paranoias, seus medos, suas angustias e sua ansiedade apenas pioravam e era em tempos assim que ele apenas pegava suas chaves e saia para a rua, sem direção, sem se importar com nada, apenas andava. Ele esperava que essa sensação desaparecesse e que finalmente o deixasse em paz. Pensava em se jogar de algum lugar alto o suficiente e assim sempre que caminhava passava por uma ponte com um ligeiro rio que levava ate o grande mar que ali naquela cidade existia, ali naquela ponte, naquela noite estrelada onde tudo parecia tão fodidamente correto para todos menos para ele, como se o universo brincasse com sua cara. Ele era um homem realmente digno de ser um mero brinquedinho para o universo? Ele se perguntava enquanto virava as costas para o rio, seguindo aonde quer que seus passos o levassem.
Dazai parou em um dos únicos lugares que ainda estava aberto e que conhecia bem, era um bar um tanto quanto requintado, parecendo acolhedor a quem viesse.
Entrando ele logo viu os cabelos cor de fogo da pessoa que sempre o atendia e escutava suas (ainda que poucas) piadinhas, era difícil para Dazai perder suas velhas manias de se esconder atrás de uma mascara. Mas hoje não era à noite pra tal coisa, mais melancólico que o normal Dazai sentou-se confortavelmente ainda que parecesse um tanto quanto incomodado com algo que visivelmente o perturbava.

– garçom, por favor, uma dose de tequila com detergente – pediu com a tranquilidade costumeira
Revirando os olhos e bufando o ruivo respondeu com o mesmo tom duro de sempre – primeiro meu nome é Chuuya, segundo não temos algo desse tipo no cardápio, peça outra coisa
Dazai ficou em silêncio, com um fraco sorriso de canto e seus olhos um tanto quanto vazios, Chuuya se demorou no rosto do moreno e suspirou
– Escuta, você não pode vir aqui sempre e me olhar com esse rosto como se acabasse de enterrar alguém e depois encher a cara e sair cambaleando noite a fora como um sem teto.
– Ah meu querido Chuuya – os olhos de Dazai escureceram – sinto como se tivesse enterrado a mim mesmo.
Chuuya olhou mais profundamente para aqueles olhos de amêndoas para finalmente se sentar a frente do homem.
– Me conte.
Como se saísse de um transe Dazai piscou virando ligeiramente sua cabeça
– Me conte como isso aconteceu. Desabafe, não lide com tudo sozinho. Tire isso dos seus ombros, claramente é algo que vem te perturbando há meses.
Dazai riu, ressoando um pouco oco
– E porque você acha que eu necessariamente desabafaria com você, um completo estranho?
– Você me pediu em casamento ontem – Chuuya o observou com um olhar estranho no rosto
– Me desculpe, eu oque??
– Esquece você estava muito bêbado pra lembrar, enfim – suspirou – deixe-se ser ajudado. Mesmo se for por um estranho completo, alguém que não te julgaria simplesmente por ser um estranho.
Dazai ficou em silêncio, observando a bancada em sua frente friamente, não parecia uma ideia completamente estranha, porém fugia de todos os seus princípios.
Já desistindo de tal ato o ruivo apenas suspirou e começou a se levantar até ouvir uma voz baixa ressoar atrás de si.
– Eu, recentemente, perdi alguém, alguém que me era muito querido.
Chuuya congelou, voltando roboticamente ao seu lugar disposto a ouvir o que tanto machucava aquela pessoa.
– Céus eu devo estar realmente desesperado para falar com alguém desse jeito – Riu amarguradamente
– Continue, por favor. – Chuuya pediu educadamente vendo o maior respirando fundo e logo soltando um suspiro cansado.
– Eu perdi uma amizade que a mim era muito querida. Eu vejo nossas conversas antigas enquanto sinto a mim mesmo me desfazendo, era meu leal melhor amigo. Eu queria ter dado ouvido as coisas de seu coração, como ele fazia por mim, mas apenas coloquei a culpa aqui ou ali. Sem realmente encarar, eu fui um covarde como sempre fui e sempre vou ser. Eu só... Queria poder pedir desculpas apropriadamente.
– E porque não pede? – Chuuya perguntou com cuidado
– Não posso. Simplesmente não posso, foi uma porta que se fechou abruptamente, uma porta que dessa vez é sem volta. O quão estranho seria a pessoa que você possivelmente odeia chegar em sua frente implorando perdão? Eu continuo o mesmo fraco de meses atrás, o mesmo que não consegue encara-lo frente a frente que apenas grita ao vácuo esperando alguma resposta do além. É angustiante.
– Eu imagino que seja – Chuuya proferiu de uma forma calma – mesmo que eu não possa saber exatamente seu sentimento, sei como é perder coisas importantes, pessoas importantes.
– Dói porque é insano.
– Dói porque você nunca imaginou que isso aconteceria, dói, pois te era querido. E é completamente normal doer. – Chuuya proferiu com calma.
– É normal ser angustiante? Como se uma faca me rasgasse, como se todos os meus medos e piores pesadelos saíssem da minha cabeça e se materializassem, é tão...
– É um trauma e existem vários tipos de dores. E todas devem ser devidamente respeitadas – Chuuya suspirou – Não se sinta culpado por estar sentindo algo, muito mais por alguém que você tanto considerava isso é totalmente humano de sua parte.
– Então eu deveria considerar que ser um ser humano dói mais do que deveria, eu supostamente deveria ser um monstro. – Dazai riu amarguradamente
– Você supostamente está no lugar certo. Não se veja como um monstro, ou o errado da situação. A situação como um todo já é desconexa, mas aconteceu. E seguir em frente não é fácil eu sei, mas se você não tratar esse trauma e der o devido respeito e cuidado que esse trauma merece as coisas podem ficar mais difíceis.
– Falando assim até parece fácil, eu então deveria encarar essa situação como um meio de evolução? Mesmo doendo tanto?
– É pelo meio da dor que aprendemos e descobrimos coisas novas.
O silêncio se fez presente entre os dois, como algo avassalador e que apenas os dois entendessem
'' Isso não esta funcionando '' pensou Chuuya '' Se eu ao menos...''
– E supostamente não era para você me servir algo? – Riu Dazai, mandando uma pequena indireta.
– Ok – Chuuya saiu de seu devaneio momentâneo – Oque deseja?
– O que tiver.
Pensando com cuidado Chuuya pulou do banco proferindo alto
– Vinho então
– Não – Dazai bufou – tudo menos vinho chibi
Chuuya suspirou entregando a taça de vinho
– Escreva uma carta. Não envie, apenas escreva. Escreva o que gostaria de dizer a ele, tudo. Solte tudo que pensa, chore se precisar chorar, ria se precisar rir, implore se precisar implorar, apenas escreva.
– Você poderia ser minha carta – Dazai sorriu sem mostrar os dentes enquanto brincava com seu recém vinho, descaradamente se oferecendo.
– Escreva. Uma. Carta. – Disse duramente.
– Ok, ok, mas qual é a graça de escrever uma carta se não poderei envia-la?
– Então envie, mande a carta.
O silêncio se fez presente mais uma vez naquela noite. Dazai rodava o vinho em sua taça, prestando atenção em cada curva da mesma.
– Você realmente se acha o monstro da situação não é? Como se não tivesse direito algum em se sentir assim. Mas deixa eu te dizer, você tem o direito e nenhum de vocês é o errado. Não ache que foi porque você não foi o suficiente para aquela pessoa, deixe ir. Se permita deixar ir.
Então escreva, bote um ponto final nem que seja para si mesmo e bola pra frente. A vida não para mesmo que desejássemos que parasse, e eu sei que isso é algo rude de se ouvir, mas é a realidade e simplesmente não podemos fugir dela. Dazai encare sua realidade
– E se eu não conseguir? – Sussurrou o moreno, seus olhos mais escuros e caídos, logo perdendo seu brilho que normalmente sempre ali havia.
– Você vai conseguir. E você não vai estar sozinho
– Bem eu deveria então te comunicar que não tenho ninguém alem de mim agora – Riu secamente
– Bem e eu deveria te comunicar que talvez você tenha a mim agora, um bartender que poderia vir a ser seu amigo e não mais um estranho, quem sabe...
– Um bartender, meu amigo? Hmm então você deixaria de ser um simples estranho.
– Exato.
– Dazai – Dazai estendeu as mãos, se apresentando.
– Chuuya – Chuuya devolveu o aperto de mãos – E escreva a carta.
Dazai suspirou pesadamente – Escreverei a carta então, não sei como poderia me ajudar nesse estado, mas irei escrever. Te garanto. E por favor, mais uma dose
– Como seu oficial novo amigo devo te aconselhar, ou melhor, te proibir de beber mais uma dose.
– Não somos mais amigos. – Decretou Dazai.
– Fora do meu bar – Riu Chuuya
– Mas francamente? Obrigado. Raramente alguém se dispõe a ouvir alguém dessa forma, principalmente um estranho e se auto convida pra ser amigo dele.
– Devemos escutar as pessoas e tentar ajuda-las o máximo possível, é assim que nos deveríamos viver e fazer novas amizades nas quais você pode contar e construir novos pilares é algo essencial. Ter pilares não é algo errado, ter pilares é reconstruir eles mesmo que eles caiam. Seres humanos também são como uma matilha de cães, um sozinho morreria facilmente.
– Eu odeio cães – sussurrou Dazai
– Adotarei um então.
Dazai sorriu com a ironia de seu novo amigo, se levantando. 
– Obrigado novamente. – Dazai colocou algumas moedas pagando pela bebida oferecida – Voltarei amanha, amigo
Dazai disse se sentindo um tanto estranho, era a primeira vez que usava essa palavra para outro alguém que não fosse aquele que ele já estava tão acostumado.
– Dê-me seu numero, amigos supostamente deveriam manter contato.
Dazai sorriu e pegando uma caneta que sempre levava em seu bolso, pegou gentilmente a mão de Chuuya, anotando aquilo que se foi pedido. Assim a soltando quando terminou.
– Te enviarei uma mensagem logo.
– Estarei no aguardo. 

Dazai se virou e foi para a saída, se sentindo de alguma forma mais leve, leve como uma vez ele se sentira ao lado de um outro alguém que ali já não estava mais presente.
Caminhando pelas ruas de Yokohama o mesmo se perguntou se tudo aquilo fora real e que talvez nunca mais fosse ver o homem baixinho, de cabelos cor de fogo e que parecia por muitas vezes rabugento por mais que bonito. Até seu telefone tocar o sinal de notificação de mensagem, com o coração batendo mais rápido ele rapidamente destravou o celular lendo as seguintes palavras

'' – Volte rapidamente para a casa, não ouse desviar de seu caminho e tome um banho! Não se deixe levar pelos pensamentos da madrugada, durma e não se estresse, amanha é um novo dia. ''
Com um sorrisinho no rosto a única coisa que Dazai pôde dizer foi:
'' – Aww chibi, parecendo uma mãe de tão preocupada ( ˘ ³˘)''

Dazai jogou seu celular no bolso, com um leve sorriso parou a frente da ponte que tanto o esperava dia a pós dias e silenciosamente pensou que talvez, aquele não fosse o dia de simplesmente terminar com tudo. E que talvez, só talvez, não fosse tão ruim olhar para o sol nascendo ou ter um novo entardecer de sua vida.

For my ex dear best friendWhere stories live. Discover now