Blind • 2Jae (HIATUS)

Capítulo V ● Youngjae

— ...Em datas comemorativas, como no natal por exemplo, nas pausas entre as batalhas, muitos dos soldados que ficavam no front da guerra se juntavam com os inimigos para comemorar, porque mesmo que fosse uma guerra, ainda eram pessoas ali, e a maioria, mesmo que na luta fossem inimigos, na vida na verdade não tinham nada um contra o outro, e também... — Meu professor de História, Sr. Lee, que dava a aula dele como tinha que ser, é interrompido pelo barulho da porta se abrindo, e eu podia ouvir meus colegas de classe virando os rostos para a porta, onde a pessoa que interrompeu o professor se encontrava, mas eu, por outro lado, estava ocupado digitando as informações que aprendi na aula em minha máquina de datilografia.

Minha sala era uma das mais propensas a ser visitada quando alguém decidia conhecer a escola, talvez por ser uma das maiores e com o maior número de alunos interessados em aprender, ou então só por ser a mais próxima da porta da entrada principal, eu não sei, mas isso sempre acontecia e por esse motivo eu não dei muita atenção para o que acontecia ao meu redor, não até meu nome ser citado.

— Desculpe professor, lamento interromper sua aula, mas preciso falar com o aluno Choi Youngjae... — A voz era do coordenador da escola, eu sabia, mas não conseguia me lembrar se fiz algo de errado para ser chamado por ele, por esse motivo eu estava bem confuso e assustado. Não é legal quando seu nome é chamado na diretoria, isso quase sempre significa encrenca, e mesmo que eu seja frequentemente convidado a ir até lá, por conta da minha deficiência e outros N motivos, eu ainda sinto minha barriga gelar sempre que isso acontece, como se eu estivesse andando em uma montanha russa bem alta, e esses momentos fossem a hora exata em que ela chega no topo, antes de megulhar em uma queda profunda e assustadora. — É algo importante.

— Claro Sr. Yang. — Escuto os passos do professor se aproximando de minha mesa, e eu já estava guardando minhas coisas quando senti sua mão tocar meu ombro. Sr. Lee é um dos meus professores preferidos da escola, ele nunca agia como se eu fosse diferente dos outros alunos, nem mesmo quando me conheceu, e isso, para mim, era uma virtude que poucas pessoas possuíam, a de não julgar o diferente como incapaz, porque afinal, nenhum de nós somos.  —Youngjae, você pode ir.

— Obrigado, professor. — Sorrio na direção de onde vinha a voz, agradecido, e escuto um "de nada", antes de sentir o professor se afastar para o lado, para que eu pudesse passar. Pego minha mochila perto da cadeira onde antes estava sentado e desdobro minha bengala para me mover até a porta, não preciso realmente dela para andar pela escola, mas a uso mesmo assim, porque nunca se sabe quando alguém sem querer vai colocar o pé no seu caminho e te fazer tropeçar e cair. 

— Sua mãe está aqui e pediu para que você fosse liberado mais cedo hoje. —
Coordenador Yang explica assim que chego perto dele, antes de pegar minha mão delicadamente e colocar em seu braço para me guiar melhor.  Eu agradeço baixinho por isso, antes de acompanha-lo em direção a sala do diretor. Eu nunca nego ajuda, mesmo que as vezes eu não precise realmente dela, eu sei que isso de alguma forma faz as pessoas se sentirem melhor, e isso é bom.

Eu ainda não entendo o que realmente está acontecendo, meu pai e minha mãe, como SonHee disse que eu podia chama-la um tempo depois de ter se casado com meu pai, quase nunca vinham na escola, salve as reuniões de pais ou festas comemorativas, então, se ela estava aqui, algo tinha acontecido.

— Você sabe por que ela está aqui Sr. Yang? — Sinto meu coordenador ficar meio tenso do meu lado, e isso aciona alarmes no meu cérebro, é algo ruim, eu já sabia.

— É melhor que ela te explique, Youngjae. — Assinto com a cabeça, sussurrando um tudo bem e ficando quieto ao lado do homem, deixando que ele me guiasse em silêncio até onde minha mãe me esperava.

A escola onde eu estudo é e não é uma escola especial para pessoas cegas. É, porque todos os professores, coordenadores e pessoas que trabalham aqui são treinados para lidar com crianças e adolescentes como eu. E não é, porque também tem crianças que enxergam aqui.