Meu estúpido melhor amigo

Perguntas

A tarde havia sido longa. Eu já não sabia mais o que fazer com aquele garoto dentro da minha casa.

Digo, claro que foi bom... Foi bom até demais. Mas estar com ele era lembrar de partes do meu passado que eu desejava nunca mais rever. Estar com ele era querer alguém que mesmo após ser tão machucada.

Por isso, jogo meu cabelo rosa e verde pro lado e falo:

–Acho que já está tarde, Noah! –Exclamo olhando pro religio. Já eram 8 da noite. Ele passou o dia INTEIRO na minha casa.

–Nossa! Tem razão! Eu nem tinha visto a hora passar! –Ele diz. –Foi mal ter tomado a sua tarde.

–Imagina! Foi legal passar a tarde vendo filmes da Disney e comendo comidas brasileiras. –Por que aquela frase soou pesada pra mim?

–Também gostei muito, Lola. Sabe, pode parecer besteira, mas... –Ele faz menção a falar, mas desvia o olhar balançando a cabeça como se essa ideia nunca houvesse passado por sua cabeça.

–"Mas" o quê? Agora fala! Começou, termina!

–É bobagem!

–Noah! –Digo em tom manhoso e percebo que ele franze as sobrancelhas me olhando ainda mais estranho. Ele solta uma risada frouxa pelo nariz, confuso, talvez rindo de si mesmo.

–Posso fazer uma pergunta?

–Você não quer me responder, mas quer que eu responda a sua pergunta? –Indago cruzando os braços olhando-o de cara feia.

–Tipo isso! –Ele fala abrindo um sorriso. Um sorriso lindo e provocador que ele sempre soube dar. E sempre soube como mexia comigo...

–Depende! Pergunta! –Digo ja me pondo de pé, levando-o até a porta. Ele hesita em falar, mas resolve por perguntar meio sem jeito.

–Você é do Sul... certo?

–Certo! –Minto.

–Passou alguns meses com seu irmão no Rio de Janeiro e por isso tem esse sotaque carioca?

–Isso! –Mais uma mentira reafirmada.

–De qual estado?

–Rio Grande do Sul.

–Cidade? –Pensa rápido, Leticia!

–Gramado!

–Rua?

–O que é isso, Noah? Quer me sequestrar? Quer minha ficha médica? –Pergunto mudando de assunto. Aquelas perguntas eram suspeitas... –Por que quer saber isso?

–Por que não quer me responder?

–Ficou doido? Eu respondi!

–Tem dificuldade em falar sobre pressão, não tem?

–Um pouco, quero dizer, eu tenho ansiedade, então... –Assim que falo me arrependo. Calo a boca imediatamente, e ele me fita com aqueles olhos azuis que não faziam a mínima questão de desviar de mim, mesmo que isso me deixasse enrubescida.

Eu vivia tendo crises de ansiedade na minha infância por causa da minha mãe super protetora, Noah sempre estava lá comigo pra me acalmar e me trazer de volta ao normal. Ele sabe perfeitamente disso.

–Ouvi dizer que escutar Elvis é muito bom pra acalmar uma crise de ansiedade! –Ele fala. –Bem, eu vou indo Lola, boa noite.

–Boa noite, Noah.

Eu sempre ouvia Elvis pra acalmar minhas crises, e quando não o tinha por perto, ele cantava pra mim. Qualquer uma que eu pedisse, ele sabia a letra de cor, só pra me acalmar.

Por quê raios ele ainda se lembra disso?