29º Capítulo

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- Falaram de mim? - Oiço o André, que lentamente se aproxima.
- Estava a dizer à tia se esta semana os dois não me podiam levar ao treino...
- Sabes o que é, campeão? Estou a treinar todos os dias...

Pedro acena e não há um pingo de tristeza na sua face.

- Filho, o Benfica tem de ganhar, que isto já são alguns jogos a serem difíceis... - diz o meu  cunhado e eu agradeço pela sua ajuda.
- Sim! O Renato está-me sempre a chatear com isso!
- Quem é o Renato? - pergunta o André e eu começo-me a rir.
- É um miúdo da escola, joga no Sporting.
- Oh, Pedro. Então mas  eles não ganham um campeonato há mais de vinte anos. Deixa-o falar -  acabo por lhe dizer e todos nós nos começamos a rir.

Assunto do treino esquecido.

Pedro dá-me a sua mão e faz-me olhar para ele.

- Mas, podes ir buscar-me à mesma, tia?
- Claro. Eu depois aviso os pais.

Sorrimos e eu levo-os à porta.

Assim que me despeço e fecho a porta, sinto o André atrás de mim. Ele coloca as suas mãos na minha cintura.
- Agora, nós. - Ele sussurra ao meu ouvido.

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- Hum... O teu sofá é bom...

Sorrio e continuo a beijar-lhe o pescoço.

- Não sei se dará jeito deitar-mo-nos aqui... - Sussurro, sentido as suas mãos que sobem pelas minhas costas.
- Dá... Acredita que dá...

Começo-me a rir, mas logo paro quando uma das mãos de André passa pelo meu peito.

- Tenho saudades tuas...
- André... - Ganho coragem e faço-o sentar no sofá. Coloco-me no seu colo e circundo a sua cintura com as minhas pernas.

Respiro profundamente, para que me possa concentrar um pouco.
 - Parecemos uns miúdos - acabo a sorrir.
- Não tenho culpa de seres viciante...
- Sabes que tudo me parece meio surreal?

André encosta-se no sofá e coloca as suas mãos sobre as minhas.
- Mas é real...

Prendo o meu olhar no seu e consigo ver paixão.

- Eu sei...

É claro que consigo ver paixão, mas é ele. O André Almeida está ali comigo e um pensamento passa pela minha cabeça. Aquilo que falei com a minha irmã sobre a minha família.

- Luísa?

Volto a olhar para ele e vejo como ele está confuso. Eu sei, não será a melhor hora para isto. Mas a minha irmã tem razão. Algum dia terá de ser.

Saio de cima dele e levanto-me.

- Vou preparar alguma coisa para comermos.
- Ok... Mas, estamos bem? - Oiço-o já a caminho da cozinha.

Viro-me para vê-lo sentado no sofá a olhar para mim:
- Sim...

Será que devia falar sobre a minha família, os traumas... Não sei. Estávamos tão bem, na nossa bolha, naquilo que temos de real e puro, como ele uma vez definiu.

Qualquer pessoa, depois do que acabou de se passar, viria atrás de mim para a cozinha a fazer-me questões. Mas, o André não. O André entende que eu preciso de tempo e está a dar-me esse espaço.

Pouso a faca na bancada e suspiro. Como é suposto eu não me querer atirar de cabeça nesta relação que tenho com o André? Sem qualquer palavra, ele entende como eu preciso de tempo, preciso de ter espaço para me reorganizar, porque ele sabe que mais cedo ou mais tarde, eu vou acabar por falar.

Tenho medo. Aquele tal medo irracional tomou conta de mim por breves momentos. Naquele momento em que me levantei e vim a correr para a cozinha.

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