Capítulo 22- A Reconciliação pelos olhos de William

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William POV
Aquela não parecia ser a garota pela qual eu procurava com tanto desespero, a garota que ultimamente habitava todos os meus sonhos e lembranças. Não parecia ser a garota que eu havia me apaixonado acidentalmente, porque não havia traços da Maite que eu conheci ali. Não havia resquícios dela, a não ser por uma exceção: aqueles olhos. Eu os reconheceria em qualquer lugar, em qualquer situação.
Era ela. Com alguns quilos a menos, uma maquiagem escura e extremamente inapropriada para o seu tom claro de pele, o que tirava bastante de sua beleza natural. Além disso, trajava um vestido
incrivelmente curto e justo, seguindo o padrão de todas as mulheres naquela rua, e saltos altos que a deixavam com muitos centímetros a mais. Sua expressão parecia ser vazia enquanto ela abaixava na janela do carona, mas ao realmente me enxergar ali, sua máscara de indiferença pareceu quebrar imediatamente.
Eu fiquei mudo e imóvel, porque não sabia como agir. Vê-la daquele jeito, naquela situação, despertou em mim uma fúria inexplicável, então eu tive que me forçar a manter a calma. Era de alguma forma irracional, mas não havia como evitar a raiva que eu sentia agora. Raiva de tudo e de todos. Raiva dela.
Ainda assim, foi difícil conciliar essa ira com a sensação de alívio que me assolou. Eu realmente havia conseguido encontrá-la, contra todas as chances. Fosse por milagre ou por sorte, ela estava ali, a poucos centímetros de mim, e se não fosse pela raiva que pulava dentro de mim, eu poderia até sorrir.

Não sei quanto tempo ficamos em silêncio, mas algum tempo depois sua expressão voltou a ser a mesma que eu havia visto no primeiro momento. Enquanto ela voltava a ser completamente indiferente a mim, como se eu fosse só mais um cliente a espera de seu preço, eu tentava buscar alguma coisa para dizer a ela. A única coisa que me vinha à cabeça era um pedido de desculpas, tão sincero e desesperado que teria saído como uma súplica, caso meu arrependimento não estivesse sendo abalado pela minha raiva pulsante. Raiva, porque ela ainda não tinha entrado naquele carro e me xingado de qualquer coisa. Raiva porque ela ainda estava disponível para qualquer cliente que quisesse parar ali e escolhê-la pelo preço maior.
Cinquenta dólares.
Minha surpresa em ouvir o som da sua voz outra vez, me certificando de que não fazia parte de mais um dos meus inúmeros sonhos com ela, foi substituída imediatamente pelo choque do significado daquela frase. Ela estava cobrando cinquenta dólares pelo programa. Cinquenta míseros dólares para se vender a mim, ou o que era pior, a qualquer um que estivesse no meu lugar. Esse era o preço que ela cobrava para deixar um homem tocá-la e tê-la da forma que quisesse: Cinquenta dólares.
Não sei o tamanho do choque que deixei transparecer em meu rosto, mas não me importei. Aquelas duas palavras haviam me ferido com uma intensidade que eu não imaginava, e me senti ainda pior quando achei ver um sorriso quase imperceptível no canto de sua boca, como se ela quisesse me ferir de verdade com aquilo.
Eu não sabia o que responder. Minha vontade era de gritar com ela, de sacudi-la e perguntar o que diabos ela estava fazendo, e quando abri a boca para falar qualquer coisa, fui imediatamente interrompido por outra voz, que soava ao meu lado, na janela do motorista. Eu não sabia quem era a mulher próxima a mim, porque não me dei ao trabalho de checar se a conhecia ou não, mas parecia que ela agora falava algo diretamente para mim. O que quer que tenha sido, eu não saberia dizer ao certo, porque o choque das palavras de Maite ainda estava me machucando.

Quando finalmente notei que a pessoa não nos deixaria a sós outra vez, me forcei a desviar os olhos dela, com medo de que simplesmente evaporasse, e me dirigi à mulher ao meu lado.
Você, cala a boca!
Ela pareceu se indignar com minhas palavras, mas eu não dei a menor importância a isso, porque havia uma outra pessoa ali - a única pessoa que importava - então imediatamente virei-me outra vez para ela, e ainda com o mesmo tom na voz, falei outra vez.
E você, entra no carro!
Me arrependi imediatamente por falar com ela da mesma forma que havia falado com aquela mulher, e pediria desculpas por isso também mais tarde, mas naquele momento a única coisa na qual eu pensava era tirá-la dali o quanto antes, e mantê-la perto de mim em qualquer lugar longe dos outros. Por isso, nada pude fazer a não ser pisar no acelerador assim que vi Maite bater a porta do carona ao meu lado. ...
Eu estava nervoso. Muito nervoso. Não sabia se meu nervosismo aparecia em meu semblante, mas imaginei que não, porque se aparecesse, Maite provavelmente estaria com medo de mim. Mas ela parecia apenas absorta em seus próprios pensamentos, com aquela indiferença irritante em seu rosto e em sua atitude. Aquela indiferença que, mesmo de uma forma irracional, me deixava muito puto.
Eu não queria que ela estivesse indiferente. Preferia ter que aguentar sua ira, preferia que ela me xingasse de nomes baixos e me socasse durante todo o percurso até minha casa, mas ela não fez nada a não ser continuar calmamente em seu banco de carona, olhando para a estrada com uma postura fria e conformada.
Aquilo me deixava puto porque eu não queria que ela aceitasse a situação. Não era para ser assim, aquilo estava muito errado, mas ela não parecia se importar. Vê-la se fantasiar de prostituta de esquina e não dar a menor importância para isso era mais do que eu podia e queria aguentar.

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