Eu tive medo.
Tive medo desde que comecei essa vida, desde o ponto em que eu passei a me adaptar a uma figura pública e viver através de roteiros e mais roteiros. Só que no início era uma novidade, algo bom que eu nunca havia experimentado, uma brincadeira. Com o tempo foi sendo trabalho, trabalho, trabalho. Uma responsabilidade que gritava em mim e parecia me tornar superficial. Eu senti vontade de me jogar algumas vezes, confesso ― passado. Ao passar dos anos foi sendo algo cansativo, eles se preocupavam muito com a minha imagem.
E mais sobre a minha imagem, meu medo acumulou junto com as teimosas borboletas em meu estômago. Não foi uma simples paixãozinha, foi mais, e me pegou de uma forma que não acredito até hoje; provável por ser meu primeiro amor. Jeon Jungkook. Até dava para ignorar: nunca gravamos juntos, nem nunca nos vimos. Seria fácil esconder, certo? Errado! Jungkook sempre teve a fama de conseguir tudo o que quer, pelo visto os boatos eram verdadeiros e o que sentíamos recíproco. Descobri muitas coisas ao seu lado, éramos bons em passar despercebidos da mídia. Tivemos sorte de ter um ao outro, e talvez azar pelo que somos. Mesmo sabendo que os tempos mudaram e que as coisas são diferentes agora, tenho medo disso tudo, de fazer mal a ele. Tenho vergonha às vezes. Não dele e muito menos do que temos, mas de ter que tomar o dobro de cuidado para esconder nós dois.
Ele merecia, bom, ele merece muito mais.
Às vezes a vida nos prega peças, não? Pensei sobre tudo isso no curto período de tempo que assinava os papéis para mais um trabalho - também martelei isso em minha mente enquanto ouvia sobre os detalhes da história, foi realmente difícil prestar atenção dessa vez. Eu pensei sobre meus medos, sobre minhas certezas, meus gostos e meu namorado. Tanto tempo escondendo isso para no final interpretar cara gay nos anos cinquenta, ao lado de Jeon Jungkook! Eu estava inseguro, mas como já disse: o que Jungkook quer, ele consegue. Então lá vamos nós. Não poderia dar muito errado, praticamente todo ator que faz personagem lgbtq+ é cishet. Era só mais um papel, eu não estaria assumindo o namoro. Apenas um papel de um cara gay com o namorado dele que no caso é o meu namorado.
[...]
- Você não queria. - Escutei-o murmurar do sofá um tempo após chegarmos em casa. Parado olhando para algum ponto em específico, com uma expressão meio tristinha e as mãos inquietas brincando com a barra da camiseta que usava ele comentou baixo e eu não pude raciocinar bem sua fala por estar na cozinha.
- O que?
- O papel. Você não queria pegar o personagem. Eu sei. Por que assinou então? - Firmou a voz e pôs impulso para ser mais alta, ouvi com clareza.
- Você queria. - Fui simplista, seus olhos queimaram em mim como se eu fosse uma piada, eu senti isso mesmo estando de costas para ele. Acho que ele se irritou um pouco, um pouco.
- Se eu quiser que você abandone sua carreira você vai abandonar também? É isso?
- Depende. - Circunstâncias, existem circunstâncias.
- É uma piada - neguei -, eu não posso decidir da sua vida, Taehyung! Eu disse que queria pegar o papel, foi a primeira vez que acabamos sendo chamados para alguma coisa juntos sem nada que impedisse, mas se você não se sentisse confortável era só recusar. Você tem livre arbítrio, oras. - Chequei se ele não estava realmente irritado, de certa forma não, já o vi pior. Caminhei a passos lentos até sentar-me ao seu lado e o entregar uma xícara de café quente. - Eu não quero que você faça algo contra sua vontade por minha causa. - Manteve o objeto em suas mãos, encostadas às pernas.
- Eu sou grandinho, eu sei bem o que faço, não se preocupe. Você sabe que quando eu quero algo eu quase nunca consigo fazer sem que alguém me de um empurrão. Não sou corajoso o bastante. Eu quis o personagem, estou apenas inseguro. - Sorri e selei meus lábios em sua bochecha por um curto período de tempo. - Estou feliz que vamos poder passar um tempinho a mais juntos e poder parecer próximos sem ficar nos escondendo por ai. É o melhor que temos.
- Está tudo bem mesmo p'ra você fazer o papel?
- Sim, criança, está - cheguei mais perto dessa vez para o beijar, e sem dúvidas, meu namorado tem o melhor beijo, não importa quantas vezes eu beije, sei que nunca vou cansar.
Eu poderia ficar beijando ele para sempre, isso se esse idiota - idiota no sentido carinhoso - não tivesse derrubado café quente em si mesmo.
[...]
Dizer tchau antes de fechar a porta dói um pouco - ou muito. Gostaria de poder ficar com Jungkook por dias e dias, sem trabalho, sem responsabilidades, só nós dois curtindo a presença do outro. Seria muito bom, me faz sentir saudade. Não importa quanto tempo passemos juntos, eu vou continuar sentindo falta dele. Não que eu seja totalmente dependente dele, mas sempre me dá a sensação de que falta algo, e que estaria tudo mais certo se ele estivesse aqui.
Às vezes me dá uma vontade louca de simplesmente largar tudo para o alto e dizer que namoro o cara mais lindo do mundo, infelizmente eu não posso fazer isso, mesmo que de vontade de sair na rua de mãos dadas com ele. Eu também teria esse medo se não fôssemos famosos, porém seria mais fácil...
Ou talvez seja uma ilusão da minha mente, para pensar que em alguma outra realidade nós tenhamos um destino mais tranquilo.
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singular. kth + jjk
Fanfictionkim taehyung e jeon jungkook eram nomes comuns de se escutar em meio a séries, filmes e dramas, todos muito bem falados. dois atores que poderiam fazer mágica com qualquer papel que você os desse, até mesmo um casal gay na década de cinquenta. singu...