May POV
A manhã seguinte começou chuvosa. Só fui capaz de despertar às 9:50h da manhã pelo barulho que algumas gotas faziam contra a janela do meu quarto. Meu corpo ainda se assemelhava um pouco a gelatina mole, fazendo com que minha vontade de levantar da cama fosse nula.
Antes mesmo de checar, eu sabia que estava sozinha. O peso, o cheiro e o calor do corpo dele não estavam ali, eu podia sentir ainda de olhos fechados. Talvez porque eu começava a me acostumar com essas coisas, mas a ausência dele era imediatamente captada por algumas terminações nervosas no meu corpo, e então, inconscientemente, eu sabia que estava sozinha.
Me virei na cama, ainda com preguiça, e encontrei ao meu lado um papel com algumas palavras e uma chave. A curiosidade me despertou imediatamente, então peguei o papel e li a caligrafia perfeita de William: "Fui trabalhar. Não quis acordá-la.
Essa chave abre a porta da sala. Ela é sua. Quer jantar comigo hoje à noite?
Te amo.
William"
Meus olhos pararam na última frase, como se ali existisse algum significado oculto, como se quisesse entender o que exatamente ele quis dizer com aquilo.
"Te amo".
"Amo".
Reli aquelas duas palavras, imaginando as diferentes formas e entonações que ele daria à frase ao dizê-la. Imaginando as palavras saindo da boca dele, enquanto seus olhos me mostravam que aquilo era verdade.
Derreti como uma boba em cima do travesseiro, trazendo o papel perto do rosto e tentando sentir ali o perfume dele, parecendo uma pré-adolescente romântica e apaixonada pelo mais perfeito dos príncipes encantados.
Eu também te amo. - Falei em voz baixa - Amo muito.
Me perguntei se teria coragem de dizer aquilo em voz alta se estivéssemos cara a cara, como uma resposta à declaração dele ao vivo e a cores. Confessar para mim mesma a mais óbvia das verdades era fácil, até porque não havia mais como tentar me convencer do contrário, mas confessar minha alma a ele era um pouco mais perigoso.Mas não confessar o quanto eu o amava estava pesando. Não porque ele precisava saber, mas porque uma parte de mim queria gritar isso em plenos pulmões, como se de alguma forma eu pudesse me libertar da minha própria prisão. Infelizmente, a outra parte em mim me mantinha presa aos meus medos e incertezas, acreditando que a "revelação" - não tão surpreendente assim - seria demais para a boa vontade dele.
Eu ainda não era capaz de dizer a ele aquilo. E esse fato era desesperante. E o fato de que eu precisava deixar isso claro era ainda pior.
Me levantei ainda cambaleante, sentindo meu coração ferver com as palavras escritas por William e pelo seu voto de confiança. Eu sabia que ele estava receoso com minhas atitudes, e imaginava o quão difícil devia ter sido para ele me dar, de bandeja, a opção de deixá-lo ou não. Me perguntei se, caso eu fosse embora, ele iria atrás de mim.
Imaginei que sim. As palavras do dia em que ele me disse toda a verdade ainda estavam frescas na minha memória, e embora ele parecesse um pouco descompensado naquela ocasião, me pareceu estar sendo bastante verdadeiro e decidido. Então, se eu realmente fosse embora, não ficaria surpresa em tê-lo me perseguindo como algum tipo de predador.
Tomei um banho quente e revigorante. Como sempre, lembrei da noite anterior, mas dessa vez, tive que me ater um pouco mais aos detalhes. Da mesma forma que William havia sido o primeiro homem com o qual eu realmente havia sentido prazer, ele agora se tornara o primeiro a me tocar de uma forma tão íntima, e me dar conta disso era maravilhoso.
Me perguntei então no que mais ele seria o primeiro a partir de agora.
Preparei um café da manhã modesto, sem querer tirar muitas coisas do lugar. Como já eram 11:30h, comi pouco para que meu almoço não fosse prejudicado. Me perguntei então onde exatamente eu almoçaria, mas sabia que o resto daquele dia dependia do que eu estava prestes a fazer.
Mais nervosa do que eu gostaria de estar, peguei meu telefone e, com uma anotação na outra mão, disquei o número ali escrito.
Alô?No exato momento em que a voz de William atendeu no outro lado da linha, senti meu rosto ferver de repente, então eu sabia que devia estar vermelha como um tomate maduro. Tentei não pensar que minha vergonha tinha alguma coisa a ver com as lembranças da nossa noite íntima, porque isso, além de não fazer o menor sentido - já que eu não era nenhuma inocente virgem - fazia com que eu parecesse uma idiota.
Oi... - Foi tudo que consegui responder.
May?
É, sou eu.
O que aconteceu? - Ele perguntou, em um tom de voz preocupado.
Nada. Está tudo bem... - Enquanto eu falava, sentia meu rosto ferver cada vez mais, e então senti ódio de mim mesma por ser tão incrivelmente imatura - Desculpa te atrapalhar...
Não está atrapalhando.
Eu só queria falar com Victoria.
Wiliam ficou em silêncio, ponderando minhas palavras.
Victoria?
É...
Quer falar com ela? Sobre o quê?
Bom... É um assunto de mulher... - Respondi, já sentindo a tensão contrair os músculos do meu pescoço.
Ah... - Ele parecia pensativo, talvez se perguntando qual tipo de assunto feminino eu teria com sua secretária e melhor amiga que, aliás, não gostava de mim - Só um minuto.
Não precisei esperar tanto. Quase imediatamente, do outro lado da linha, uma voz feminina me respondeu.
Alô?
Oi Victoria. É a May. Desculpe te incomodar, sinto muito, mas eu preciso da sua ajuda. Pensei que talvez nós pudéssemos almoçar juntas, se você não tiver alguma coisa melhor pra fazer, é claro.
Então era assim? Quando eu ficava nervosa com Victoria, agia como uma perfeita tagarela. Quando era William quem me deixava nervosa, eu ficava muda.
Minha total falta de sentido começava a me irritar profundamente.
Ahm...
É sobre William. Preciso de uma opinião sua.
Ela pareceu ponderar.
Bom, não sei se posso ir. Eu tenho só uma hora de almoço...
Ouvi a voz de William ao fundo interrompê-la, dizendo algo incompreensível.
Tudo bem, posso ir. Meu chefe é muito generoso, você sabe.
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