A Última Ceia

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Aviso: Este capítulo possui conteúdo sensível, caso ache que algo aqui contido pode servir como gatilho, interrompa a leitura.

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Com a garganta quase se fechando em um pedido de socorro, dedilhava delicadamente com os pequenos dedos trêmulos nas teclas gastas e amareladas do antigo piano há tanto tempo esquecido em seu porão; tentava se lembrar de uma melodia qualquer tentando acalmar as palpitações nervosas de seu coração, talvez não tivesse sido uma boa escolha, já que não tocava em seu antigo companheiro a 10 anos e estar ali frente a frente com o objeto que continha um pedacinho de sua vida em cada nota o deixava um pouco mais ansioso, sendo exatamente o que queria evitar; era como se a cada tecla apertada, cada um de seus segredos, pouco a pouco, fossem sendo revelados, mesmo que não tivesse ninguém ali para ouvir a canção melancólica e apagada de sua vida.

Depois de um certo tempo, Jimin passou a fazer as coisas a sua maneira, meio sem jeito e tentando não pensar demais, tentava desligar sua mente para fugir de sua própria insanidade, a ponto de passar a ouvir a voz de seu coração conversando com sua mente, ouvindo as lamúrias, angústias e medos que mantinha guardado no cantinho mais obscuro de seu miocárdio, mesmo que sua função devesse ser apenas bombear sangue; mesmo que lutasse contra, Park começou a sufocar, como se alguém estivesse segurando sua cabeça embaixo d'água e não permitisse que ele puxasse pelo menos 3 segundos de ar, as palavras ditas a si mesmo o espancavam na boca do estômago, sentia-se enjoado e um gosto amargo se sobressaía na sua boca, não importando quantos pacotinhos de bala, que sempre carregava em um de seus bolsos, colocasse na boca.

Tomou mais um longo gole da vodka com gelo e deixou o copo em cima do piano, o gosto amargo se misturou com o doce de suas lágrimas, nem mesmo se importava mais em enxuga-las, deixava que pingasse em seu suéter o deixando em um tom de azul ainda mais escuro, a sensação de umidade de sua roupa não o incomodava; abria a boca tentando soltar uma palavra que fosse, mas era apenas um grito sem som se esvaindo no ambiente vazio, mas ao mesmo tempo era tão alto que sua voz já não existia, eram páginas e páginas viradas, mas não tinha mais história, eram apenas folhas pautadas sem palavras a contar.

Sentiu que aquele era o momento e por um segundo pôde sorrir, a melodia tocada foi se esvaindo aos poucos, percebeu naquele momento que tocava "Waltz of the flowers" de Tchaikovsky, ria da ironia construída por si mesmo, contava uma história doce e romântica enquanto a sua vida se esvaia em milhares de pedacinhos de vidro estilhaçados; enquanto chegava ao final da canção, sua visão escurecia e sua cabeça pendia pesadamente para frente, sussurrou "Me desculpe" até encostar totalmente a testa nas teclas de seu piano.

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Já devia ser a quarta aspirina que tomava em menos de 12 horas na esperança de amenizar a dor de cabeça; Taehyung tinha passado a semana com fortes enxaquecas, mas nenhuma delas tinha sido tão forte quanto a que estava naquele dia, não conseguia nem mesmo manter a luz de seu abajur acesa, quando acordou tentou ligar para Jimin querendo saber a que horas ele iria para sua exposição, mas o mesmo não atendia o telefone; Ah, a exposição, a causa das suas noites sem dormir, de suas mini crises de ansiedade e no momento a sua maior felicidade.

Kim nunca foi de ligar para o que as pessoas pensariam de si, mas naquele momento, uma crítica negativa e a sua carreira de artista, que mal tinha começado, estaria no fim. Em poucas horas um salão chique de Gangnam estaria lotado com as suas obras mais inspiradoras, juntamente com os mais renomados críticos artísticos da Coreia e só de pensar no que poderia acontecer dali para frente, o seu estomago embrulhava e o seu corpo começava a coçar, como um mecanismo bizarro de defesa.

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⏰ Last updated: Oct 26, 2019 ⏰

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