Capítulo 31

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TERCEIRO MÊS
May POV
Acordei com o canto de um pássaro em algum lugar. Não me lembrava de ter um sono assim tão leve, por isso a sensação de simplesmente ser arrancada dos meus sonhos tão facilmente era estranha. Mas não me importei.
Me espreguicei, ainda de olhos fechados, me virando completamente na cama e, no processo, dando de cara com William.
Ele vestia um conjunto básico cinza - calça de moletom e camisa simples. Me lembrei que, na noite anterior, não cheguei a vê-lo tirar o paletó antes de nós dois cairmos no sono. Por isso, tudo indicava que ele já estava acordado havia algum tempo, embora seus cabelos ainda estivessem um pouco úmidos do banho que não o vi tomar.
Ele me encarava de forma séria. Seus olhos estavam tão claros e translúcidos aquela manhã que pareciam ser feitos de vidro.
Adivinha? - Ele falou, ainda me encarando, a poucos centímetros de mim, com uma expressão de ansiedade e surpresa.
Ainda confusa pelo sono, não notei que ele parecia um pouco divertido. Por isso, aquela pergunta, me pegando desprevenida, fez com que eu me assustasse.
Que foi? - Perguntei, já preocupada, tentando deixar minha voz clara, embora ainda muito rouca.
Eu vou ser pai. 😂
Encarei-o por um bom tempo, tentando colocar os pensamentos em ordem e finalmente entendendo o que ele estava dizendo. Enfiei o rosto no travesseiro e murmurei contra ele.
Não me assusta assim!
Ouvi-o sorrir ao meu lado, enquanto beijava meu pescoço de um jeito fofo.
Mas é verdade, não te contaram? - Ele começou, respirando contra meus cabelos, enquanto um braço envolvia a minha cintura - Eu vou ser pai mesmo!
Me contaram. - Provoquei, ainda contra o travesseiro - Antes mesmo de contarem pra você.
Senti seu abraço afrouxar um pouco à minha volta.
É... Eu devia estar lá nessa hora.
Encarei-o outra vez, talvez querendo me desculpar por alguma coisa.
Eu não sabia o que era... Pensei que fosse outra coisa... Desculpa.

Tudo bem... - Ele falou, penteando para trás com os dedos os fios do meu cabelo, mas ainda assim consegui ver um pequeno traço de uma tristeza verdadeira por não ter recebido a notícia junto comigo.
Você pode acompanhar de perto a gravidez a partir de agora. Já é alguma coisa, né?
Ele sorriu de uma forma um pouco maléfica, e por um momento tive medo do que se passava na cabeça dele.
Ah, não se preocupe. Eu vou estar muito presente.
No exato momento que minha resposta seria dada, o celular de William tocou no criado mudo ao seu lado. Ambos olhamos para o telefone, mas nenhum dos dois se mexeu.
Não vai atender? - Perguntei, quando me dei conta de que William parecia um pouco longe daquela dimensão.
Você acha que é necessário? - Ele me perguntou, com uma cara triste.
Pode ser alguém importante. Alguém querendo falar com você.
Ele soltou um muxoxo de descontentamento e se afastou de mim com relutância, rolando na cama para alcançar o aparelho que ainda tocava a mesma música irritante.
, claro... - Ouvi-o dizer logo depois de identificar a quem pertencia a chamada. Quando ele voltou a deitar ao meu lado, destravou o aparelho e atendeu a ligação, sem, entretanto, posicioná-lo próximo ao ouvido.
Encarei a situação um pouco curiosa.
Você está no alto-falante, mãe.
Era Barbara. Talvez seu instinto materno a tivesse avisado que aquela era uma boa hora para ligar e se inteirar da vida do filho.
William... - Ouvi-a dizer, e sua voz parecia estranhamente controlada. Como se ela estivesse se forçando a não gritar - Ana me ligou...
Eu estranharia se aquela fofoqueirazinha não tivesse ligado. - Ele rebateu de bom humor, encarando debilmente o celular, assim como eu.
Lembrei que, na noite anterior, Ana havia ligado para William. Mas eu não sabia o teor da conversa que eles tiveram, porque além de ter sido rápida, muito poucas palavras haviam sido trocadas.
Então, Ana havia ligado para Barbara. Mas o que ela tinha contado? E ainda, do que exatamente ela sabia?

É verdade? - A voz chorosa de Barbara soou outra vez, e subitamente respondi à minha própria pergunta mentalmente: Tudo. Ana sabia de tudo.
William me encarou, como se me pedisse para prosseguir. Ponderei por um momento se deveria ser eu a dar a notícia a ela, mas como ele parecia animado com a idéia, fiz sua vontade.
Oi Barbara... - Comecei, apenas para informá-la de que eu também estava ali - Bem... Sim... É verdade.
Houve alguns segundos de silêncio, até que um grito agudo chegou aos nossos ouvidos através da ligação, fazendo com que William distanciasse o aparelho e apertasse um botão - provavelmente cancelando o alto-falante -, calando imediatamente o gritinho da mãe do outro lado da linha.
Ele colocou o celular próximo ao seu ouvido, agora mantendo a conversa apenas entre os dois. William sorria de uma forma tão feliz que, por mais que eu não soubesse o que Barbara estava falando, senti vontade de sorrir também. Ainda assim, pude captar fragmentos do diálogo apenas analisando as respostas que ele dava. Coisas como "há quanto tempo", "quando vocês souberam" e "como May está" com certeza foram perguntadas.
Momentos depois, Carlos entrou na conversa também. William parecia radiante em contar detalhadamente para os dois a novidade, e a cada resposta seu sorriso se alargava ainda mais, o que automaticamente fazia com que meu coração perdesse algumas batidas e minha respiração saísse em suspiros apaixonados. Vez ou outra ele olhava para mim, com um olhar de preocupação um pouco exagerado e esquisito. Nessas horas, tudo que eu fazia era sorrir para ele, apenas com a intenção de dizê-lo, sem interromper sua ligação, que estava tudo bem.
Foi quando, depois de muito tempo, fiz menção de me levantar, que ele pareceu mais apreensivo.
Pai, tenho que desligar agora. May quer ir ao banheiro. Até mais, um beijo.
E assim, sem mais nem menos, desligou, vindo ao meu encontro e se pondo de pé à minha frente. Encarei-o um pouco surpresa, imaginando Carlos naquele exato momento ainda olhando para o telefone com um ar de "que porra foi essa?"

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