No relógio da igreja, o tilintar do sino anunciou um novo dia. Naquele noite atípica, muitas famílias não tiveram o descanso merecido, o caminhante da noite surgiu como uma assombração na penumbra e o anseio era por ver a luz do sol e deixar o fato no corredor do esquecimento. O sol não deu o ar da graça, o céu cobria-se de neblina, sair na rua era impossível, não se enxergava um palmo na frente do nariz.
Naquela manhã, nenhuma criança foi à escola, nenhum homem ou mulher saiu para trabalhar, todos os habitantes, sem exceção, mantiveram-se reclusos em seus lares. Isso jamais havia acontecido, um fenômeno totalmente atípico. O dia se fez noite, a lua também não apareceu, a nuvem nebulosa insistia em permanecer no vilarejo. Nesse ritmo, passaram quatro dias e quatro noites. A penumbra negra recaia intensamente, mesmo os olhos acostumados à escuridão nada conseguiam ver.
Recostado em um banco da única praça o estranho caminhante. Por um tempo ele permitiu-se ver sombras, leves e rápidos vultos, que em sua consciência tinha um som familiar aos habitantes. Afundou-se em sua maldita culpa e, agora, não vê nada além da negritude noturna. O relógio, da torre distante, dava suas doze badaladas. Sabia- se que eram doze horas, a fome apertava no estômago... mas até a fome é efêmera, basta fechar os olhos e deixar a cólica passar.
Na efemeridade da vida, a eternidade se sobressai. Existem tantos mortos eternos e tantos vivos efêmeros ...
E Juliete era eterna, mesmo estando em outro plano, se é que isso existe, pois ninguém nunca voltou para contar.
A escuridão, o silêncio, a tristeza
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Um conto nada de fadas
Short StoryCapítulo III(...) Hoje, não passava de um caminhante da madrugada. Talvez precisasse do silêncio ensurdecedor para calar seus pensamentos turbulentos (...)