Eu era feita de inseguranças, e todos aqueles vestidos com espartilhos que me apertavam tanto, que faziam com que eu sentisse meus ossos ao tocar na minha cintura, por cima do vestido, me deixavam ainda mais insegura, pois quando eu os tirasse, sabia que voltaria a ser aquele pequeno bolo redondo de arroz. Mas quando me arrumava, ao sair de meu quarto, sempre recebia elogios, pois estava perfeita, para os olhos que me vissem e percebessem que eu não tinha uma gordura sequer na barriga.
Cassandra era quem sempre me ajudara com a vida, com os espartilhos e os vestidos, também sempre soubera de todas as minhas inseguranças, pois a mesma, ouviu calada junto a mim.
"Ayena, já não aguento mais todas essas atividades que temos de fazer: aulas, aulas e mais aulas, não temos mais tempo nem para conversarmos." - disse Cassandra se jogando em minha enorme cama e espalhando seus lindos cabelos pretos e ondulados no colchão, e olhando para mim.
"Eu também estou cansada, mas é nosso dever, tu sabe, nossos pais confiam que seremos damas da alta sociedade, assim como eles." - eu disse fazendo sinal para que a mesma levantasse e me ajudasse com o espartilho - "Por isso me ajude com isso aqui."
"Está bem" - levantou, apreciando cada detalhe do meu espartilho novo - "Que lindo! Geovane que te deu?" - falou apertando as fitas e fechando em um belo laço.
"Sim, meu pai tem um ótimo gosto para espartilhos." - eu disse sentindo-me orgulhosa de meu pai, mas tratei logo de mudar de assunto - "o teu vestido está deslumbrante, é novo?"
"Sim, minha mãe mandou costurar faz alguns dias" - falou, passando a mão pela cintura perfeitamente afinada pelo espartilho que a incomodava - "Mas não usei antes, na verdade não sei nem o motivo"
"Pois bem, está magnífica, mas temos de ir para a sala, pois em poucos instantes Morgana chegará, para termos aulas de etiqueta" - disse a puxando pelo braço para descermos as enormes escadas de minha casa.
"Está bem Ayena, acalme-se!" - disse Cassandra, parando subitamente ao chegarmos na ponta da escada - "Não podemos descer as escadas correndo feito loucas!"
"Cassandra tem razão, Ayena, vocês são damas da alta sociedade, não podem andar por aí, como 2 loucas." - disse meu pai, aparecendo logo atrás de nós 2 e me dando um beijo no topo da cabeça, ao passar por nós, descendo as escadas.
"Perdoe-me papai, isso não acontecerá novamente" - eu disse ajeitando o meu vestido, que já estava um pouco amassado com a correria.
"Eu avisei a ela, senhor Durand, mas ela não me escuta" - disse Cassandra, se enchendo de orgulho de si.
"Maia Ayena Durand, ouça a sua melhor amiga, ela sabe como se portar adequadamente."
"Papai!" - eu quase gritei, emburrada - "prometo melhorar, e seguir Cassandra por onde ela for e copiar tudo o que ela fizer."
"Pois bem, seja como Cassandra e tudo dará certo" - disse meu pai, rindo do meu pequeno ataque de ciúmes - "vão meninas, desçam, daqui a pouco a senhora Hildegard chegará para dar a aula, onde está Morgana? Não chegou ainda?" - meu pai perguntou, nos ajudando a descer os degraus.
"Ainda não papai, mas logo logo ela chegará, Morgana não gosta de chegar atrasada."
"Aí está a madame" - disse Cassandra com certo deboche e brincadeira na sua voz, se referindo a garota loira que surgia no vão na sala.
"Santo Deus! Um belo senhor de cabelos castanhos, com duas cobras ao seu lado! Por favor senhor Durand, saia de perto destes animais venenosos!" - disse Morgana arrancando meu pai que ria, dos nossos braços e levando-o para longe de nós duas.
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Doce Espartilho
ChickLitFui feita de inseguranças, mas não fui eu quem escolheu assim, eu decidi ser quem segura as outras e quem as levanta.