♢ "A terrível janela."

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26 de fevereiro de 2011.

     Era um dia normal como qualquer outro, acordei sonolenta, era sábado. Sem escola, livre de qualquer obrigação. Me aproximei do espelho, eu sentia meu corpo estranho, como se algo estivesse errado. Quis investigar o que estava acontecendo. Levei um tempo até eu conseguir desgrudar minhas próprias pálpebras. Me perguntava se realmente era necessário, mas a minha curiosidade me deixava inquieta.  

     Ela caminhei com preguiça, sentindo minha cama chamar para dormir mais um pouco. Eu não gostava de acordar cedo aos sábados. Mas enfim, olhei minha imagem refletida no espelho. Tudo  estava como sempre, meus cabelos um ninho de passarinho, a marca de baba no canto direito de minha boca, algumas remelas no canto dos olhos. Meus olhos então desceram mais um pouco, meu pescoço marcado pelos lençóis... pera... tem alguma coisa errada. Havia um pequeno volume na altura dos mamilos, marcado no tecido de algodão do meu pijama. Rapidamente tirei a blusa, e lá estava:

  Dois minúsculos seios se formando.

  Pisquei atônita.

    Estava realmente acontecendo comigo? Por que agora? Por que não daqui a dez anos? Por que ó mãe natureza?

   Eu não me sentia,e muito menos estava preparada para passar de fase do dia para a noite. Sentei em minha cama ainda desacreditada, olhava para baixo e tentava imaginar que estava sonhando e logo iria acordar. Isso, era um sonho... já, já passa... é só fechar meus olhos, respirar fundo e passa... tem que passar...

   Isaac preocupado com minha demora; foi até o meu  quarto, me chamou, não respondi. E como não obteve resposta, resolveu entrar.

- NÃO ENTRA! EU TENHO SEIOS! - gritei em desespero quando escutei a porta ranger.

    Ele não sabia como agir, então só fechou a porta e correu até a cozinha onde mamãe estava.   

    Ela subiu até o meu quarto, e entrou sem fazer muita cerimônia. Ok, por que todo mundo entra sempre que não tem resposta minha? Precisamos rever umas regras aqui. 

- Eu tenho seios mamãe... - falei ainda desacreditada, e mamãe sorriu, ela sorriu - eu tenho seios! - dei ênfase pra se funcionava, se ela entendia a gravidade- SEIOS!

- É meu amor, você está crescendo. - ela respondeu como se fosse simples.

- Eu não quero... - falei sentida - não agora mamãe. Eu não quero.

  Eu funguei sentida.

   Sabia que meus seios iam crescer mais, e isso ia chamar a atenção dos meninos e das outras meninas, e eu não queria chamar a atenção de ninguém. Eu-eu só queria ser a Alika, não a Alika com seios.

   Mamãe me abraçou, me confortando em minha crise existencial. Era inevitável, e todos sabiam o que iria acontecer. Eu ia crescer e virar uma mulher. Mesmo contra minha vontade.

     Por que mãe natureza?

___________

     Respirei fundo antes de sair de casa com a roupa mais larga que tinha em meu closet. Queria esconder aqueles dois montinhos, enquanto ia até o shopping na cidade mais próxima, com a missão de comprar sutiãs. Sutiãs para mim... socorro.

    O Isaac tentava agir normalmente, mas era evidente que ele se encontrava tão nervoso quanto eu. Sua mão suava frio, e eu estava com medo do que estava pra acontecer comigo. Eu não sabia como agir, então só estava ali, existindo.

    Fomos direto para a loja de lingeries, a tia Ana fez falta, ela saberia nos distrair e tomar isso menos torturoso. E o Isaac... bem ele se recusou a entrar a fundo na loja, ele queria só estar ali para me dar apoio moral.

The lost cometOnde histórias criam vida. Descubra agora