-Sempre me senti em casa em meio ao fedor dos bares. A mistura caótica de todas as conversas idiotas com a música brega que pulava chiada de um rádio velho. O conforto de ver pessoas com vidas quase tão medíocres quanto a minha.
- Me traga o vinho mais caro e o melhor cigarro que tiverem – pedi ao jovem que cumpria o papel de garçom.
- Você tem capital pra isso? Digo... olha a imundície em que está.
- Seu pivete! – fiz minha carteira surrada cuspir quatro notas de cem em sua mão – Você deveria lamber a lama dos meus sapatos por esse dinheiro. Agora traga oque eu pedi! Sinto que hoje ela vai me levar.
Sem entender ele saiu em busca do exigido. Voltou minutos depois com o troco.
- Fique com o troco, pague um drink para qualquer puta que lhe interessar – Eu sabia que ele não recusaria o dinheiro, e com isso eu queria humilhá-lo.
Quando tudo já estava na mesa e meu bafo já era ácido uma jovem se aproximou e sentou-se ao meu lado. Não era bela, mas possuía o charme da depravação. Fumava um cigarro delicadamente e tinha a ousadia de tentar me intimidar com o olhar.
- Posso lhe fazer companhia?
- Não – lhe respondi prontamente.
- Se acha melhor do que alguém aqui seu merda?
- Bem pelo contrário! Só não quero mais nenhuma vaca me extorquindo, afinal, a maior vaca de todas já está na minha cola. Sabe! Ela não vai gostar de ver você aqui comigo e acredite não é alguém com quem você queira problemas.
A jovem se retirou com uma cara de escárnio que lhe deu um ar ainda mais sexy. Por segundos me arrependi de ter perdido tal oportunidade. De qualquer forma, ela estava vindo. Eu senti sua presença logo nas primeiras tragadas do dia, espremendo meus pulmões. E possesiva como era, eu teria problemas ainda maiores.
Então veio a crise de tosse. Tapei a boca com um lenço e quando vi lá estava aquele muco vermelho e nojento me encarando. Foi o momento em que ela entrou no bar, sedutora como sempre. Dessa vez usava um lindo vestido negro como sua essência, as costas nuas exibindo suas tatuagens indecifráveis. Caminhou direto em minha direção e enquanto desfilava, todas as atenções masculinas, e algumas femininas, estavam sobre seu traseiro.
- Hoje você vem comigo! – Direto ao ponto como sempre.
- Eu sei, eu sei. Me deixe pelo menos terminar essa garrafa. Me acompanhe. – Enquanto falava pedi um copo e lhe servi vinho.
- Já chega seu porco! É sempre a mesma palhaçada, encontro você em bueiro como este e sempre acaba no mesmo. Me oferece um drink um cigarro e despeja todo seu papo de merda para me passar a perna.
- Calma ai sua piranha! Eu já sei que não terei a mesma sorte de sempre. Eu sei o que você sente por mim e acredite, lhe acompanharei de bom grado no fim da noite, apenas me deixe terminar essa última garrafa. Veja dessa vez gastei tudo o que tinha nesse vinho falsificado. Aproveite comigo.
Mal fechei a boca e um rapaz depositou um copo de Whisky em frente a ela. Dessa vez era um cara diferente e que apontava para o outro panaca que antes tinha me atendido.
- Admiradores? – Eu disse dando risada.
Ela fixou os olhos nos meus e enquanto isso o jovem que lhe tinha mandado o drink caiu sufocado no chão. Morto.
- É esse o fim de quem me tira por uma puta. Eu pareço uma puta? Eu pareço uma puta burra que pode ser enganada?
- Você parece uma dócil dona de casa. Dessas que qualquer homem sonha em se casar. – Em quanto falávamos, uma confusão se gerou ao redor do rapaz morto. Vi brotar dos lábios dela um sorriso sacana e incontido.
- Vamos! Não vejo a hora de te beijar. – Disse ela com a voz rouca e indecente.
- Eu vou bebendo e pensando no assunto. Mas sabe hoje eu estou bem conformado em me entregar a você.
- Vai ser o beijo mais doce da sua vida meu bem.
- Vamos lá se esforce mais e me convença.
- Eu não fui treinada para essa parte seu verme. Ninguém nunca havia me recusado antes de você. Qual é o seu problema, cara?
- Meu problema é você doçura. Você impregnada nos meus pulmões. Me rasgando de dentro pra fora, me fazendo tossir sangue. E eu amo esse problema. Te beijar agora seria o fim do meu maior prazer, que é viver em sua companhia todos os dias.
- Saco! Você já deveria ter partido comigo a muito tempo imbecil. Cafajeste! Vou te deixar agonizando por mais um tempo. Mas na próxima eu te levo. Sem conversa fiada.
- Claro pombinha! – Ela saiu me fitando e sorrindo. Que curvas surreais. Na próxima eu não me escapo, pensei.
- Pivete, traga mais cigarros! – Gritei. Todos me olharam e só então lembrei que ele estava morto.