Na Estrada...

59 8 15
                                    


Tenshin Han odiava dirigir. Ele certamente preferia voar, era melhor, mais rápido, e não era tão incômodo à noite. Mas ele precisava levar o caminhão com a produção da fazenda até a cidade. Era uma das poucas coisas que ele fazia, no fim das contas, porque todo o resto ficava a cargo de Chaos, que tinha poderes telecinéticos e, por isso, arava, plantava e colhia tudo na fazenda sozinho sem o menor esforço. Até mesmo a negociação da colheita era feita por ele, por telefone. E sempre resultava em lucros fabulosos.

Restava a Tenshin Han dirigir o caminhão e fazer as entregas, afinal, o amigo tinha a aparência de uma criança de seis anos e nunca poderia dirigir. O consolo era que assim que entregasse tudo, podia guardar o caminhão numa cápsula e voltar voando bem mais rápido. Mas já era noite e os faróis dos carros e caminhões da estrada, vindo na direção contrária, incomodavam sua sensível visão. Era o preço de se ter três olhos. Ele ansiava chegar logo ao posto de parada para fazer uma boa refeição e descansar até o dia seguinte.

- Highwaaaay to heeeeell! I'm on the highway to hell! Oh yeah!

Na boleia da imensa carreta, Lunch cantava junto com o rádio. Ela adorava dirigir, especialmente quando a carga era perigosa. Ela não tinha medo de nada, qualquer problema ela podia resolver com o par de pistolas que ela guardava no porta-luvas. Ela usava um macacão abotoado na frente, azul marinho e branco, e um boné de transportadora sobre os cabelos louros. Estava animada, mas sabia que deveria parar e procurar um lugar para pernoitar na estrada.

Conhecia aquele caminho bem, conhecia um bar ao lado de um hotel onde ela poderia se divertir por algumas horas antes de dar uma dormida boa numa cama não tão macia, mas suficiente para uma noite na estrada. Ela não era do tipo que ligava para conforto.

O bar não era um primor de limpeza, mas tinha refeições decentes. Tenhsin Han já pernoitara ali algumas vezes. E estava tão cansado depois de várias horas na estrada que achou, já que só iria pegar a estrada na manhã seguinte, que poderia tomar uma cerveja antes de pedir uma refeição.

Sentou-se no balcão. Na parte de trás do bar havia mesas de sinuca e um alvo de dardos na parede, e alguns homens estavam por ali se divertindo, alguns ruidosamente. Havia ainda uma jukebox, mas ninguém parecia se animar a colocar nenhuma música para tocar. Ele olhou para frente e chamou o balconista, um sujeito gordo e barbado que não parecia muito amigo da higiene.

- Pode me trazer uma cerveja, por favor?

A educação e gentileza dele contrastavam com a grosseria do gordo do bar, que colocou um copo e a garrafa de cerveja sobre o bar e a abriu, olhando para ele intrigado, antes de perguntar:

- Isso na sua testa é mesmo um olho?

Ele suspirou. As pessoas podiam ser bem desagradáveis.

- Sim, é um olho. Sim, ele enxerga. Agora posso tomar minha cerveja em paz?

Tenshin tomou um gole da cerveja quando escutou as portas em vaivém do bar abrindo. Não virou-se para olhar, mas reconheceu a voz feminina que gritou:

- Um shot de tequila, Nelson. Pode levar direto lá na minha mesa de sempre!

Ele arregalou os três olhos, mas não se atreveu a olhar para trás. Sentiu quando ela passou atrás dele, a poucos centímetros das suas costas, cantarolando "Highway to hell" e foi direto para a jukebox, onde olhou o sortimento de músicas e escolheu algumas, colocando moedas e apertando vários botões. Na mesma hora a jukebox começou a tocar a música que ela cantarolava.

Tenshin Han não conseguia tirar os olhos dela, que, no entanto, ainda não o havia visto. Ela abriu a frente do macacão, expondo um top preto, e baixou-o até a cintura, onde amarrou as mangas ficando como que se usasse uma calça baggy. Ela logo estava entre os homens que jogavam dardos, e em cinco minutos já havia apostado – e vencido – quatro vezes acertando o centro exato do alvo.

Na estrada...Where stories live. Discover now