O Dia Em Que A Terra Parou

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Já dizia Júlio Verne que tudo é possível. Já mandava Gabriel, O Pensador: Diz o que você quer dizer, fala o que você quer falar, faz o que você quer fazer, pensa o que você quer pensar. Já dizia Suzanne Collins: A sorte nunca está ao nosso favor. Já dizia a Lei de Murphy: Tipo pode e VAI dar errado.
Por isso, o dedo indicador marcando a página 104 de Viagem ao Centro da Terra, fui falar com professor Giuliano naquela manhã de setembro. O frio me cortava os ossos, e quase perdi o ônibus. O motorista me cumprimenta.
Estava escuro: o sol não havia nascido. Geralmente, eu teria ignorado. Afinal, eram cinco da manhã. Mas, não naquele dia. Quem dera eu tivesse ignorado.
***
- Mas... Tem certeza, Lisa? - confirma Oprah.
- Absoluta. Como queria não ter...
- Então vá logo falar com ele!
- Eu ia! VOCÊ me puxou e jogou meu sapato pela janela! Aliás, só... por quê?
- Elizabeth, você acabou de me dizer que...
- NÃO! EU contarei!
Vou até Giuliano.
Respire, Elizabeth
Respira.
Respira.
- Elizabeth? Tudo bem? - preocupa-se o professor. Tudo bem, tudo bem. Ele dá física e biologia, calma, calma...
- Mais ou menos. Professor… você notou algo estranho? — ele faz uma cara engraçada e nega. — Nada?
— O fato de o sol não ter nascido hoje é um fato estranho?
— Sim! — exclamo — E o fato de estar três vezes mais frio que o normal em novembro…
— Já entendi sua teoria. — ele diz, me conduzindo para a sala de aula. — Me diga, Lisa, você entende o que isso quer dizer? Se você estiver pensando no que eu acho que está e estiver certa?!
— Tenho. E tenho quase que certeza da minha hipótese.
— E por que não certeza?
— Porque o senhor me ensinou que não se deve ter certeza na ciência.
— Você seria capaz de DEFENDER sua tese?
— Por quê tudo isso? O senhor mal me conhece…
— Você acha que nunca te observei? — ele aponta para o livro em minhas mãos — Júlio Verne? — assinto. — A partir do momento em que você percebeu que algo está errado, você passou a ganhar meu respeito. Sabe o que muitos pensaram? Chuva ácida. Frente fria. Mas não. Você e eu sabemos que não é algo tão simples assim. Então, Lisa, — ele tira uma mecha castanho escuro de meus olhos— me diga, você pode defender sua tese na frente da classe?
— Eu acho que sim. — ele me empurra para dentro da sala. Meu coração acelera. Não sei falar em público, não sei falar em público…
— Olá, classe. Vocês já tem 14, 15 anos. Já são grandinhos o suficiente para notar que alguma coisa está errada. Eu estou aqui com Elizabeth, e provavelmente vocês nunca ouviram-na falar. Mas, hoje, 9°C, eu estou aqui com ela, e ela tem uma tese a defender. — arregalo os olhos. Não consigo. Não consigo… — Elizabeth?
— Oi. — dou um meio sorriso, fraco. — Meu nome é Elizabeth Taylor. — o sotaque britânico que sempre lutei para esconder volta a toda. — Eu não tenho muitos amigos, pois eu sou nova nos USA e… bem, poucas pessoas aqui já me ouviram falar qualquer coisa. Eu sou leitora de Júlio Verne e eu… eu gosto de música. Mas eu vim defender uma tese aqui. — vou até a janela e me apoio nela, rezando para que ninguém veja a tremedeira de minhas pernas. — Vocês devem ter notado que ainda não clareou. E são… Sete e meia da manhã. Está mais frio do que o normal e… bem, olhem. — pego um fio de cabelo de minha cabeça. O fio cai imediatamente. Todos arregalam os olhos. Vou até o globo terrestre. — Como vocês sabem, a Terra gira ao redor do Sol e ao redor de seu próprio eixo, o que ocasiona os dias e as noites e, pela inclinação do ângulo, as estações do ano. A minha hipótese é que ela… ela…
O professor Giuliano olha para mim, as sobrancelhas franzidas. Tomo coragem.
— A minha hipótese é de que, devido a um, digamos, superaquecimento gerado pelo aquecimento global, o núcleo da Terra parou de girar. Ele gira num sentido, a Terra gira no outro…
— E daí? — grita uma garota lá no fundo, com roupas de gótica. Ela é a mais popular da escola. Ela provavelmente odeia meu visual britânico. — O que temos a ver com isso?
— É que, bem, nós moramos na Terra e…
— Nossa! — grita outro garoto — Você não é um alien?
Fico corada feito uma pimenta.
— Eu, eu… enfim, o núcleo da Terra parou de girar, consequentemente…
— Deixa de enrolação!
— A minha hipótese é de que a Terra parou de girar.

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⏰ Última atualização: Oct 26, 2019 ⏰

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