O LOBO E SEU FARO CAPITULO 3

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O LOBO E SEU FARO.

CAPÍTULO 3.

-Mais uma vez, mais uma maldita consulta, mais sangue sendo avaliado, e nem um resultado venho a esse hospital a anos e você não dá uma solução, e nem um diagnóstico. Você acha que gosto de deixar meus compromissos e ficar vindo até aqui em vão e sempre ouvir a mesma ladainha.

-Eu sei exatamente porque vem até aqui ,  você confia em mim, eu sou seu médico mas também já fui seu amigo, num passado distante, mas eu já fui, numa época que você era mais humano, te conheço muito bem .Por isso nunca procurou outro profissional, aparece em horas cada vez mais absurdas, não aceita que eu deixe nem uma enfermeira te avaliar,  as vezes acho que você vem até mim para ouvir umas verdades ,porque naquele fim de mundo esquecido por Deus. E mais, se procurar outro médico ele não iria entender esse seu lado doente e destorcido, iria querer saber qual o motivo de seu corpo ter tantas cicatrizes, que mal são curadas e logo aparece outras.  Você é um louco desgraçado que se autoflagela.

-Cala a boca, você não está na minha pele, não sabe de nada, o meu fardo é ardo, o meu tormento não tem tamanho, você poderia viver outras vidas, mas nunca iria saber do que eu sinto.

-Os exames estão todos limpos, não existe doença, seu corpo está sadio como os touros da sua fazenda, e os cavalos soltos pelo pasto com suas pernas fortes, acho que acabamos por aqui, vou te recomendar um psicólogo um psicanalista um psiquiatra uma equipe completa.

-Eu me recuso, você continuará me atendendo, eu pago mais me diga quanto quer receber.

-Não seja cretino, já te disse você não tem nada, seu problema está além dos meus conhecimentos como médico UROLOGISTA, não existe doença em você põe isso na sua cabeça, o seu problema é psicológico, eu vou te recomendar uma pessoa de confiança.

-Eu já disse que não, só me consultarei com você, não ouse abrir meu caso para terceiros você tem um código de ética entre médico e paciente.  -Ok, ok eu entendi Lúcios, como sempre a última palavra é sua, mas nós acabamos por aqui, não quero mais velo em meu consultório.



 Conheço cada corredor desse hospital, cada sala de exame, esse larápio do Cezar não me receita nada concreto já tomei remédios por conta própria, mas não adiantou, apenas cuida das minhas feridas e me dispensa como se se dissesse pegue um pirulito e vá para casa.

Vagueio o corredor procurando a saída, sou tomado por um perfume um aroma devastador, espantando os meus pensamentos e a vontade de arrancar a cabeça daquele médico de merda.

 O cheiro me toma procuro na corrente de ar que traz o vento para me orientar, meu olfato apurado, me guia meu corpo a anos adormecido palpita, o cheiro, o sinto entrar por minhas narinas me embebedando, minha respiração acelera e os pelos do meu corpo se levanta, ouriçados. Não vejo nada a minha frente me perturba essa sensação que me toma me deixando tonto, aturdido.

São emoções perdidas do meu corpo da minha mente, já tinha até esquecido como era me sentir vivo, será que Cezar tem razão?  Tudo não passa de coisas da minha cabeça, mas porque isso agora, preciso de uma resposta.


Gritos são expelidos da minha boca com ódio, tudo a minha volta está quebrado e revirado, soco o espelho para não ver meu reflexo. Os cacos se dividem em mil pedaços, a essa altura os funcionários da casa já devem estar longe.

Saio pela casa gritando e acabando com tudo a minha frente, minhas mãos estão sangrando, mas eu não sinto nada, caio de joelhos frustrado mais uma vez pelo fracasso por me sentir menos. Eu não sei o que foi aquilo no hospital, mas na prática não aconteceu nada, absolutamente nada, meu corpo está morto, afirmo derrotado.

Deixo meu corpo cair no chão e o silêncio preenche no vazio, passo minhas unhas por meus braços abrindo os pequenos ferimentos que estavam secos e tratados.

Sinto o cheiro do sangue, se esvaindo da minha carne não me movo, minha garganta está seca e os gritos já não se fazem ouvir.

Me levanto depois de horas isolado, e largado como um bicho asqueroso, vejo meu sangue espalhado pelo chão e alguns resquícios na parede, mostrando e provando, minha loucura.

Sim, loucura, porque somente alguém louco veria seu sangue se esvaindo de seu próprio corpo e não faria nada para conter, afinal qual é o propósito de deixar seu sangue se esvair, se não for por desejar a morte.

Mas no meu caso isso é mais um tormento arrastado por anos de agonia e aflição, quanto mais eu me firo, mais meu corpo reage ao contrário me punindo por puni-lo.

É um inferno, nem gripe se aproxima pareço amaldiçoado eu tenho tudo e ao mesmo tempo nada. Deixo a casa na capital indo direto para o aeroporto, uso um terno negro para não ter nem um problema com manchas de sangue, e despertar o interesse dos curiosos.

Ainda não consigo entender o que me aconteceu naquele hospital, eu juro que senti algo despertar meu corpo desse sono profundo no qual ele vive, maldição estou tão desesperado por solução, que comecei a imaginar e sentir coisas improváveis.

CINCO DIAS DEPOIS.

Chegar em minhas terras   é a segunda coisa no mundo que me causa prazer, aqui eu sou o alfa ninguém ousa passar por cima de um comando meu   porque o castigo é certeiro, e irá dançar sobre meu chicote.  Sim eles me temem, eu gosto de ser temido, o ódio deles o desprezo lançado de seus olhos sobre mim, não me afeta.

São como cachorros, mesmo eu gritando e subjugando ameaçando, fazendo eles trabalharem até a exaustão eles são obedientes, e quando eu chamo eles vêm aos meus pés e se tivessem rabos eles até abanariam para mim.

Fico mais tentado a passar por cima de todos por serem tão submissos, quando não estou meu cão fiel é meus olhos e meus ouvidos, me informa de todos os movimentos feitos na vasta Santa Ana com seus três mil alqueires de terras.

Mal coloco os pés na terra e jacinto despeja os acontecimentos.

-Coronel tem gente nova por essas bandas.  Vou soltando a gravata e caminhando em direção aos estábulos, chego na baia do meu cavalo preferido lhe dando um punhado de feno em sua boca. -De quem se trata? 

-Eu não sei não senhor, mas é uma dona, ela interferiu na hora que eu estava punindo aquele garoto dos infernos, que vivi roubando o pomar e não trabalha direito.

-Quando aconteceu isso? -Hoje bem cedinho, lá na vila dos esquecidos.

-E o que você fez. -Nada não senhor, eu disse a ela que ela estava se metendo onde não devia eu virei meu cavalo e vim mi embora.

-Não gosto de gente estranha perambulando minhas terras. -Traga o moleque ele deve saber de quem se trata, pois ela advogou por ele, eles se conhecem.

-Mais uma coisa coronel. -Diga. -Ela ameaçou chamar a polícia e me denunciar.

-Tola, é realmente nova por essas bandas, logo ela saberá quem é a lei e a ordem nesse lugar só preciso saber onde ela está, e por qual motivo está, quase toda a região me pertence não será difícil encontrá-la.  

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O Cheiro do pecado completa.Onde histórias criam vida. Descubra agora