Adela

9 1 0
                                    

JUNGKOOK Castaños estava esperando o balcão, quando ouviu ao longe um grito penetrante . Aguçou os ouvidos e só escutou o rumor da manhã.  Pensou que havia sido o pio de uma das aracuãs que ciscavam pelas redondezas. Continuou sua tarefa e dispô-se a limpar uma prateleira. De novo ressou o grito , agora proximo e claro. E a esse grito seguiu-se outro, e mais outro. JUNGKOOK abandonou a prateleira e ,com um salto, transpôs o balcão.  Foi até a porta para ver o que estava acontecendo. Era domingo cedo e ele Não avistou ninguém, mas os gritos se tornaram cada vez mais frenéticos três meninos que corriam em sua direção, berrando :
  -uma morta! Uma morta !
   JUNGKOOK se adiantou e atalhou um deles, enquanto os outros dois por entre as casas .
    -o que foi ?-perguntou
   - mataram uma mulher ! Mataram uma mulher! - bradou o menino .
  - quem ? Onde?
   Sem responder , o garoto arrancou na mesma direção por onde havia chegado . JUNGKOOK o seguiu. Correram ao longo da trilha que conduziq ao rio, até chegarem a um campo de sorgo.
-ali!- exclamou o menino , sobressaltando, apontando um das margens do terreno.

O cadáver jazia entre sulcos. Jungkook  se aproximou devagarinho, com o coração disparando a cada passo . A mulher estava nua, caida de rosto para cima sobre um poça de sangue . Assim que a viu , ele Não  pôde mais tirar os olhos de cima dela.  Em seus dezesseis anos, várias vezes já sonhara contemplar uma mulher nua , mas nunca imaginara encontrá-la daquele jeito. Mais com assombro do que com luxúria, percorreu com o olhar a pele suave e inerte: era um corpo jovem. Com os braços estirados para trás e uma das pernas literalmente dobrada, ela parecia pedir um abraço final. A imagem o transtorno.  Ele engoliu em seco e respirou fundo. Percebeu o doce aroma de um perfume floral barato. Teve vontade de dar a mão à mulher , levantá-la e mandá-la parar com aquela mentira de que estava morta . Ela continuou nua e quieta. Jungkook tirou sua a  camisa--sua camisa de domingo -e cobriu-a o melhor que pôde . Ao se aproximar, reconheceu-a: era adela, e tinha sido apunhalada pelas costas .

Guiados pela outros meninos , chegaram em tropel vários curiosos. Apareceram pela trilha fazendo estardalhaço, até quase tropeçarem no cadáver.  O espetáculo da morta calou-os de repente . Em silêncio,circundaram o lugar . Alguns esquadrinharam furtivamente a morta . Jungkook se deu conta de que o corpo da ainda mostrava sua nudez. Com as mãos, cortou umas hastes de sorgo e cobriu com elas as partes expostas. Os outros o observaram, admirados, com intrusos irrompendo em meio a um ritual privado.

Um homem alto é magro grisalho abriu caminho . Era Namjoon téllez, administrador comunal de loma Grande. Deteve-se um instate,sem se atrever a ultrapassar o círculo em torno de jungkook e da morta . Preferia ficar à parte, como se fosse mais um na multidão. Mas era ele a autoridade, e, como tal , deveria intervir.  Cuspiu no solo , adiantou-se três passos e trocou com jungkook umas palavras que ninguém escultou . Ajoelhou-se junto ao corpo e levantou a camisa que cobria para observar-lhe o rosto.

  Namjoon téllez examinou o cadáver durante um bom tempo .por fim , cobriu-o de novo e ergueu-se com dificuldade.  Estalou a língua, puxou do bolso da calça um lenço e enxugou o suor que lhe escorria pela cara .

  - tragam um carroça- ordenou - precisamos levá-la para o povoado

   Ninguém se mexeu. Ao ver que ninguém cumpriu sua ordem, téllez perscrutou os diversos rostos que o observavam e se deteve no de jay park uma rapazinho magricela, desengonçado e cambaio .
     - ande , jay , vai buscar a carroça do seu avô
Como se o tivessem despertado subitamente , jay olhou primeiro para o cadáver depois para namjoon , girou a cabeça e saiu correndo em direção a loma Grande .

Namjoon e jungkook ficaram frente a frente, sem falar. Alguns curiosos perguntaram , entre sussurros:

  - Quem é a morta ?
    Embora , na realidade , ninguém soubesse quem era ela, um voz anônima sentenciou:
   - A Namorada de jungkook Castaños.

UM DOCE AROMA DE MORTEOnde histórias criam vida. Descubra agora