Entramos na cabana e ele nem olha para mim. Ah, por que eu não falei nada?!
Ele vai direto para o quarto e eu sento do lado de Egor depois de colocar minha bolsa em cima da mesa.
- Está tudo bem?! – Egor pergunta enquanto Helina está entretida com alguma coisa que está passando na velha TV.
- Sim... Eu acho.... – Eu falo e cruzo os braços.
Eu levanto e vou até a pequena janela que tem acima da pia da cozinha. Imagino ver a minha mãe, em pé ali fora, e meu olho enche d’agua, e depois as lagrimas caem, desesperadamente, mas choro em silencio para Helina nem ninguém ver.
- Me desculpa. – Zory fala atrás de mim.
- Tá... Eu não estou chorando por isso. – Eu falo limpando minhas lágrimas.
- Eu sei... Eu também sinto falta dos meus pais. – Ele fala e me abraça.
Choro ainda mais com o rosto afundado em seus ombros. Parecia que alguém estava apertando o meu coração.
- Mi? – Helina fala me vendo chorar e eu enxugo minhas lagrimas e vou pro quarto. Zory vem atrás e fecha a porta logo em seguida.
- Mischa, vai ficar tudo bem. – Ele fala.
- Vai? Porque eu não estou vendo nada bem! Desde quando isso começou só o que você fala é que vai ficar tudo bem, mas as coisas só pioram, eu não aguento mais.
- A única coisa que a gente pode ter é esperança. – Ele fala em um tom tão sincero e puro.
Eu respiro fundo, balanço a cabeça e sorrio fingindo que estava tudo bem, mas a verdade é que não, não estava nada bem.
- Não ouse dar esse sorriso para mim como se eu não te conhecesse. Me desculpe por hoje, eu vou ficar sempre do seu lado, não importe o que. – Ele fala e eu dou um sorriso, de verdade.
Abro a porta do quarto e saio, ele continua lá deitado.
Sento do lado de Helina e pego ela no colo, enquanto Egor lavava os morangos e guardava.
- Cadê a mamãe? – Helina me pergunta e eu fico estática. Egor olha para trás e faz uma cara de assustado para mim, esperando que eu fale alguma coisa.
Meu olho enche d’agua de novo mas eu seguro as lagrimas. Zory chega na sala e olha para mim.
- A mamãe – Eu começo e Egor volta a olhar para frente, querendo esconder suas lagrimas. Zory mantem seus olhos fixos em mim esperando a próxima palavra. – Helina, a mamãe – Por algum motivo meu coração apertava e eu não conseguia terminar. Zory continua me olhando mas sem nenhuma expressão. – Ela não vai mais voltar. – Eu falo de uma vez e coloco ela de volta no sofá e me levanto voltando para o quarto.
Zory pega ela no colo e tenta a explicar melhor. Nenhum dos dois falaram nada e nem fizeram caras mas eu sei que essa não foi a melhor maneira de contar.
Enfio minha cabeça no travesseiro e choro lembrando dela. “Isso acontece. Todo mundo morre. Todo mundo morre”. Eu falo para mim mesma mas parece não adiantar já que minhas lagrimas só caem com mais frequência.
Tomo um banho e me sinto um pouco melhor.
Vejo Helina adormecida no colo do Zory quando entro na sala. Sorrio.
____________
UM MÊS DEPOIS
Estou deitada no sofá vendo o noticiário. As tropas russas estão fazendo de tudo para conter a invasão das tropas americanas.
Ouço um barulho na porta, como se alguém tivesse batendo. Paraliso na hora e o medo toma conta de mim. Egor está tomando banho e Zory e Helina estão ao meu lado. Zory olha para mim e percebe rapidamente minha expressão, ignoramos o barulho até que ele se repete.
- Ok, vá para o quarto! – Zory fala.
- Não, eu vou ficar aqui com você! – Eu falo e pego Helina no colo.
- Mischa, vai pro quarto! – Ele fala mais uma vez com a mão na maçaneta, eu dou alguns passos atrás mas não chego no quarto.
Ele abre a porta com uma das mãos, e a outra segurando um pedaço de madeira.
A cara de espanto, tanto minha quanto do Zory, aparece ao ver do que se trata. Dois jovens, uma menina e um menino, parados ali na porta. A cara de assustados denunciavam serem russos.
A menina, envolvida pelos braços do menino, estava chorando. Zory não falou nada, apenas fez um gesto para que entrassem.
Os meninos que aparentavam ter a nossa idade ficaram imóveis no meio da sala. O menino tentava acalmar a menina, sem sucesso.
- Eu sou Georgiy, essa é minha irmã, Lana. – O menino fala meio atordoado. – Os soldados americanos mataram nossos pais e nossa irmã, nós não sabíamos para aonde ir, e então vimos essa cabana – Ele fala mas não consegue terminar, mesmo não chorando, ele está desnorteado.
Eu apenas coloco minha mão na boca.
Eles se sentam no sofá e eu sento na cadeira.
- Vocês podem ficar aqui se quiserem. – Zory fala e eu balanço a cabeça.
- É sério? – A menina, Lana, fala pela primeira vez, sua voz era uma mistura de sofrimento com tristeza.
- Sim, claro. Não tem muita comida mas nós damos um jeito.
- Obrigada, obrigada mesmo. – Georgyi fala e abraça a irmã mais uma vez.
Gente, eu sei que eu demorei muitooooo para escrever esse cap., mas eu estava muito ocupada, com provas e tal... Não ficou muito bom, mas espero que gostem!!!