Cor de Marte | Chaelisa Version

1. Azul

Mal acreditava que tinha acabado de pôr os pés em casa novamente.

Lisa e Chaerin haviam acabado de chegar a Seul e estavam completamente exaustas da viagem. Por mais que tenha passado três anos perambulando pela Europa com sua mãe, Lisa sentia falta de sua casa em Seul. Mas não se engane, perambular no dicionário de Lalisa Manoban significa muito mais do que apenas andar por aí, como muita gente diria. Afinal, visitar vários países distintos de um continente nem tão familiar e estudar em algumas das melhores escolas e alguns dos melhores cursos de desenho que o dinheiro pode pagar não é bem o que se imagina para férias prolongadas.

Novamente o termo "Férias Prolongadas" também podia ser uma maneira mais amena de Lisa dizer: Meus pais se separaram e para curar a dor eu e minha mãe resolvemos passar três anos sem precisar olhar para a cara de Marco Manoban.

Pois é, férias não faziam mal a ninguém.

Não faziam, mas deixavam uma saudade grande das coisas que deixaram para trás. Lisa sentia falta de poder andar por Seul e de Hongdae em suas várias saídas com seus amigos - aliás, suas amizades coreanas também estavam em tal lista de coisas que sentia saudade - principalmente de Jennifer Kim, também conhecida como Jennie, sua melhor amiga desde que se conhecia por gente. Também sentia falta de Jihyo, a empregada que trabalhava em sua casa e de seu bolo de chocolate com cobertura de brigadeiro que sempre comia quando se sentia triste ou acontecia algum evento especial, portanto, voltas de viagens estavam inclusas

— Jihyo! — Diz a menina correndo para abraçar a mulher assim que abriu a porta do apartamento e a encontrou as esperando de braços abertos na sala.

— Meu Deus, menina, como você conseguiu crescer tanto? — Jihyo sorria abraçada a menor enquanto Chaerin empurrava algumas das milhares de malas para dentro de casa. — Que saudade que eu estava sentindo. Sua e de você, dona Chaerin.

Jihyo sorri para a patroa e as duas se abraçam emocionadas. Apesar de relação profissional, a pessoalidade das duas já ultrapassava a questão de afeto. Elas se consideravam parte da família uma da outra.

— Também senti muita falta, Jihyo. — Chaerin sorri para a mulher. — Aliás, tenho que te mostrar as lembrancinhas que compramos 'pra você quando estávamos em Paris. — Logo as três se puseram a colocar as bagagens dentro do apartamento para poderem comer e botar o papo em dia em paz.

Depois de comerem degustando cada pedaço do famoso bolo de chocolate, cada uma foi para seu canto a fim de desfazer as malas. Lisa estava na metade da segunda quando escuta algumas batidas na porta, que logo foi aberta, anunciando a presença de Chaerin no cômodo. A menina conseguia perceber que a mãe estava um tanto nervosa com o assunto que queria tratar e apenas confirmou suas suspeitas quando a mais velha lhe perguntou: — Está tudo certo para voltar às aulas amanhã?

Lisa havia combinado com a mãe que assim que voltasse para Seul, também retornaria às aulas do Colégio Grupo e, consequentemente, veria pela primeira vez em três anos o dono e diretor da tal escola, ninguém mais ninguém menos que seu pai, Marco Manoban.

— Claro. — Lisa foi breve antes de terminar de dobrar uma das pilhas de roupas em cima de sua cama e ir para seu armário arrumá-las. Chaerin seguiu a filha e se encostou no batente da porta entre o quarto e o cômodo com o armário.

— Filha, eu sei que você não quer falar sobre isso, mas não dá mais 'pra adiar. Você vai encontrar com ele amanhã!

— Você quer que eu fale o que, mãe? — Lisa se virou para Chaerin claramente irritada. — Eu encontrei meu pai almoçando com outra mulher e uma garota da minha idade que descubro ser minha meia-irmã, por isso também descubro que nenhum dos dois vêem em cores por causa um do outro. Vocês se separaram e ele resolve ir morar com a outra família. Ele deixou de ser seu marido, mas infelizmente ainda é meu pai. Fim do assunto!