Capítulo II

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Eu acabo de jantar e vou me deitar, minha tia aparece na porta e pede para entrar, a permito.

- Sabe, Victor, não era isso o que queria para você. Não sei lidar com essa situação. Nunca tive filhos, é como se você fosse o primeiro. Espero que entenda minhas ações, darei conta delas com o tempo.

Ela não havia me dito uma palavra desde a morte de minha mãe, mas agora falava bastante.

- Tudo bem, tia Lucy. Eu entendo. As coisas estão ficando difíceis.

- Bom, agora vá dormir. Sonhe com os anjos.

Ela sai do meu quarto e vejo as luzes da casa se apagarem, com elas, os meus olhos. Eu apago.

Os ventos sussurram pelo meu corpo: os mate, os mate... Uma voz de criança, aguda e alta. Matar? Matar quem? Por que? Uma sombra se estende pelo teto, deixando uma figura na clareza da porta: a figura de minha irmã.

Ela está lá, com sua bicicletinha cor de rosa, balançando seu cabelo trançado. Eu grito para que ela volte, mas a mesma não me ouve. Laura está morta. Me dou conta disso, abro os olhos e acordo, horrorizado.

O despertador toca em seguida, me assustando mais ainda. E para piorar, Lucy aparece na porta, me olhando com seus olhos de dragão.

- Está bem Victor? Parece assustado.

Digo que estou bem e ela desliga o despertador. A cama está encharcada. De novo não.

- Andou tendo pesadelos de novo?

- Não, estou bem.

Cubro a urina com o cobertor e espero que saia do quarto. Lucy sai e meu celular toca:

- Eai Victor, está bem? Pronto para mais um dia?

É Hernandes, meu melhor amigo. Hernandes nunca gostou de ir a aula pois era péssimo em todas as matérias, detestava estudar.

- Olá Hernandes! Estou bem, mas não pron... Espera, tem alguém na linha.

- Victorrrrrrrrrrrrr, fez a tarefa de português? Eu fiz, acho que está tudo certo.

Agora Amanda, também minha melhor amiga. Ela é focada nos estudos, quer que seus amigos sejam também, faz de tudo por nós.

- Ei Amanda! Eu não fiz, esqueci. Era para hoje?

- Sim Victor...

- Desculpe. Vou desligar, a gente se vê na escola.

Eu desligo e faço o mesmo com Hernandes. Às vezes penso que não sou um bom amigo, mas acho que eles entendem, me esforço para ser.

Me troco e vou para a aula, além de não ter feito a tarefa chego atrasado. A professora, que achei que fosse chamar Lucy, me puxa para o canto e me conforta:

- Está tudo bem, Victor. Você anda passando por muitas coisas, é previsível que não consiga fazer tarefas... Pode me entregar semana que vem.

Ela estava sendo um amor de pessoa, deixando o mundo que sou mais leve.

O dia havia sido normal, e já estava na hora de dormir, minha tia não gostava que eu dormisse depois das dez, então já vinha me por pra dormir:

- Tenha bons sonhos Victor, amo você.

Ela me amava? Fora a primeira vez que a ouvi dizer isso. Fiquei sem reação, ela provavelmente entendeu e me deixou sozinho para que pudesse dormir.

Estava cansado e apagar era tudo o que eu queria, mesmo com medo de outro pesadelo. O que eu não sabia, era que aqueles pesadelos eram só o começo, e que agora tudo iria mudar.

Fique acordado VictorOnde histórias criam vida. Descubra agora