Detenção - Sycaro

Detenção

  Rodrigo nem ousava gastar esforços para escutar atentamente o que seu professor explicava, olhava-o com uma expressão de extremo desinteresse, batucando uma melodia aleatória sobre a capa de seu caderno. Sua perna direita sacudia inquietamente, uma maneira de aliviar seu estresse, bem... na grande parte das vezes aquilo funcionava.

  Aliviou-se ao ouvir o soar barulhento e desconfortável do sinal anunciando o término da aula, observou todos os alunos rapidamente guardarem seus materiais escolares na mochila afobados. Riu de maneira discreta, começando a organizar os seus próprios, contudo notou um envelope amarelo abaixo de seu caderno, franziu as sobrancelhas em dúvida apanhando-o em sua mão. O rodou buscando indícios de quem poderia ser seu remetente, para sua infelicidade não obteve o que lhe era desejado. Abriu cautelosamente a carta extraindo de lá uma folha dobrada com um adesivo de coração que a mantinha fechada, removeu lendo atenciosamente o bilhete. "Você poderia me encontrar hoje na detenção?" redigido com uma caligrafia bonita.

  Retirou os olhos do bilhete prestando atenção nos colegas de sua classe. Nenhum apontava alguma evidência de comportamento incomum, o que lhe deixou ainda mais intrigado, seria aquilo alguém tentando lhe pegar uma peça? Era a hipótese mais plausível.

  O moreno revirou os olhos e soltou um longo suspiro, ajeitando a armação de seu óculos em seu rosto, colocou a anotação estranha no bolso de seu moletom, e retornou a guardar os materiais.

  Ao finalizar, percebeu que estava sozinho na sala, era comum aquilo ocorrer, já que nunca se apressava em arrumar seus pertences. Fechou sua mochila e colocou uma alça sobre seu ombro direito, assim saindo do cômodo, acenando gentilmente para a faxineira que havia acabado de entrar.

  Andava sereno pelos largos corredores da escola, vendo apenas alguns professores e outros profissionais ali consigo, porém algo o fez ficar um pouco em dúvida. Um garoto baixo andava em sua direção, ele aparentava estar nervoso e meio distraído, mas ao mesmo tempo concentrado em algo. O pequeno tinha a pele tão clara quanto porcelana, usava um boné rosa com algo escrito no canto, a blusa de frio que vestia quase o engolia já que suas mãos estavam cobertas pelas mangas compridas, e seu cabelo castanho-escuro alcançava seus ombros. Rodrigo arqueou uma sobrancelha deitando a cabeça vagamente para o lado, e por fim quando ele lhe notou parecia ter achado o que tanto buscava e, de modo desastrado, ele caminhou rápido até si.

— Oi, você é o Rodrigo? — O pequeno perguntou com uma voz tímida, um rubor florescendo em suas bochechas.

— Sim, por quê? — Rebateu com a voz mais rouca do que desejava.

— É que... um amigo meu, queria conversar com v-você — Gaguejou, abaixando a cabeça envergonhado, brincando com a manga de sua blusa grande. "Adorável", pensou o maior.

— Hum, sei. E onde esse teu amigo tá?

— Na sala da detenção.

— Certo... tchau, eu acho.

— Tchau. — Murmurou o garoto, erguendo sua cabeça um bocado e sorrindo tímido, já estava pronto para ir embora, entretanto, uma última fala de Rodrigo o fez parar seu trajeto.

— Qual seu nome?

— Ah, é A-André.

— Hm, até mais, André — Proferiu o moreno antes de se virar e apenas acenar para o menor.

...

  Dirigiu-se um pouco impaciente para a "sala da detenção", quem quer que seja iria pagar caro por lhe fazer chegar atrasado em sua casa naquele dia. Andou um pouco até ver uma porta que possuía uma placa com os dizeres: "Detenção", e lá adentrou.