O Último Homem

51 2 1
                                    

  Um dia, um fatídico dia, aconteceu um breakout no mundo inteiro, tão escuro virou a terra que o céu transbordou de estrelas e constelações, era lindo, belissimo, os olhos das pessoas automaticamente se tornaram azuis só de olhar para cima, era hipnotizante, porém, se no céu reinava as estrelas, na terra reinava o caos, as pessoas do mundo começaram a sentir falta de algo, algo um pouco insignificante, entretanto, necessário, os homens haviam sumido. Pai, irmão, tio, avô, amigo, filho, padrasto. Nada de homens na terra. Nada de qualquer coisa que se tivesse um formato peniano, sumiu também as cobras, as minhocas, os pepinos do mar, o peru de natal, a salsicha do supermercado, as berinjelas, os gansos. Aliás, os animais sofreram muito, os machos foram excluídos, sumiram como se nunca existissem, como se alguém simplesmente apertasse delete. As patas ficaram sem os patos, as vacas sem o boi. Caos no mundo do homem, caos no mundo animal. Como aconteceria reprodução? Como repassar a linhagem para frente sem homens? Era o fim de todas as espécies? Era o fim do mundo?

  Um herói surge, um garoto de 19 anos, virgem, virgem do pé até a cabeça. Ele pega sua pochet, seu crucifixo, sua bíblia, penteia bem o cabelo para o lado, passa gel, deixa que nem de vaca lambida, depois no topo de uma montanha, depois de andar por 7 dias ele, então, num alto-falante, anuncia.

- Mulheres. Mulheres da terra. Sei que estão desesperadas, sei que estão se sentindo sozinhas. Pois eis aqui, o único homem, o único homem que vocês estão vendo e verão daqui para frente. Todos o resto se foi, menos eu. Por que? Acho que eu sei porque, porque eu sou virgem. Porque eu sou puro. E eu anuncio, anuncio aqui e agora. Vou me manter assim, assim para sempre. Não adianta lutarem, não adianta me desejarem. Eu vou me manter virgem até o fim!

  As mulheres olham sem entender, o que aquele retardado estava falando? Não, espere. Ele é um homem? Um homem? Como assim um homem? Ainda existem? Perai, e ele falou que quer ser virgem? Estúpida criatura, estúpido ser, por isso foram extintos, por isso não mereciam nós mulheres. Só precisamos daquilo que ele tem entre as pernas. Nada mais. O resto que fique para os restos.

   Uma mulher grande, forte, daquelas que passam anos dentro da academia e tomam todo tipo de suplemento e medicação, grita alto, grita com força.

- Mulheres, ele quer a virgindade só para ele. Ele não quer dar para nós. É egoísta, egoísta como os homens eram. Vamos pegar o que é nosso por direito. Peguem ele, agora!

   A multidão enlouquecida de mulheres se reuniram com tochas, com facas, com canivetes e qualquer coisa cortante que acharam pela frente. Elas sabiam o que queriam cortar. Ele também sabia. E por isso ele fugiu, fugiu feito um condenado, passou noites escondido, se enfiava em cavernas abandonadas por ursos machos, escalava árvores, subia morros, descia morros, atravessou rios com um bote que ele mesmo projetou e nadou o fim da travessia porque o barco desmanchou-se ao bater numa pedra. Já estava cansado de fugir e de se esconder. Era cansativo, não parava nunca, os pés doíam, as pernas travavam, dor aqui, dor ali. Uma das dores começou a incomodar mais que as outras. Ele achou aquela dor estranha, peculiar, era numa parte.. bem específica. Nosso herói estava sofrendo de dor no pau. Um doença muito rara que só acontece em algumas pessoas. Ele sentia a rola pulsar na calça e ela doía, aí, teve que aproveitar uma chuva de granizo para pegar um punhado de gelo e pôr no saco, tava doendo para um caralho, au, au, au.

   Naquele dia estava escondido numa cabana abandonada. Estava com uma mão na consciência e a outra no saco. Seria Lúcifer querendo despertar algo dentro dele? A cobra do jardim do Edén? Ficou 3 dias descansando ali na cabana, até que uma hora a dor passou e os pensamentos também, ele, aparentemente, estava curado. Era um milagre! Um milagre! Pulava de alegria, finalmente, finalmente! Eis que escuta uma voz bem alta "Escutei algo dentro da cabana, vamos ver se não é ele!". Sem nem pensar duas vezes pulou pela janela de trás, pulou rápido, mas quieto, quieto como um gato, ele já era um animal, um animal que lutava pela sobrevivência, raciocínio lógico naquele momento era inútil, era correr ou perder os bagos.

O Último Homem do MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora