✖️ Capítulo 26 ✖️

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Voltei para casa e o meu pai estava na cozinha, talvez a preparar o jantar.

Já eu... estava talvez ainda mais confusa do que antes de ter decidido ir conversar com aquela mulher.

Questionava-me se tinha tomado a melhor decisão ou se encalhava ainda mais a minha vida amorosa.

— Olá, querida. Como é que correu a escola? — ouvi o meu pai da cozinha enquanto eu me sentava no sofá.

— Normal, eu acho.

— Estiveste com o Connor?

— Sim, pai. Mas não estive com ele à tarde, não te preocupes.

— Eu sei que me disseste a verdade, só estava a perguntar por curiosidade.

— Estou a ver.

Liguei a televisão e entreti-me um pouco com o que estava a passar.

Uns minutos depois, o meu pai veio se sentar ao meu lado e parecia triste, deprimido. Não por suas olheiras, que eram normais devido à sua profissão, mas porque ele olhava para baixo e estava calado.

Eu e ele somos iguais, adoramos falar e quando começamos, nunca mais nos calamos.

— Pai? Está tudo bem?

— Porque é que não deveria de estar? — sorriu.

— Porque não estás. Eu sei — suspirou e levantou o olhar, olhando para mim.

— Aconteceu uma coisa hoje no hospital.

— O que... o que é que aconteceu?

— Entrou nas urgências um miúda inconsciente, praticamente sem pulsação. Mas não conseguimos salva-la...

— Desculpa dizer isto, mas... isso não acontece constantemente na tua profissão?

— Sim, com o tempo aprendemos a lidar com emoções e este tipo de situações. Mas...

— Mas?

— Esta situação foi um pouco diferente. E mexeu comigo comigo principalmente...

— Mas afinal porque é que essa miúda morreu?

— Anorexia.

Aí é que me dei conta daquilo que ele estava a sentir e porquê. Senti uma dor enorme no peito ao saber que o meu pai ainda sofria com isso.

Tive a infeliz ideia, um dia, que tinha de emagrecer. No entanto, cheguei a pesar 24 kilos aos meus catorze anos com 1,58 de altura. Apenas há três anos atrás e ainda hoje estou a baixo do peso.

— Agora eu compreendo.

— Eu conseguia ver-te ali no lugar daquela garota e isso ainda me assombra.

— Desculpa... eu nunca devia ter feito aquilo.

— Eu só quero que me digas que nunca mais o voltarás a fazer.

— Eu prometo.

Sorri e abracei-o, tentando conforma-lo e transmitir-lhe confiança.

Confiança sempre foi aquilo que ele tentou pôr em mim depois de eu ter ido parar ao hospital e estar entre a vida e a morte.

Era a segunda vez que ele me via internada no hospital e nessa altura temeu que fosse a segunda vez que perderia a pessoa mais importante na vida dele.

Depois ele levantou-se e disse-me para eu ir tomar um banho que o jantar estaria pronto em vinte minutos.

Fui para o meu quarto e fui buscar o meu pijama antes de ir para a casa de banho. Quando voltei do banho para o meu quarto a secar o cabelo com uma toalha e assutei-me quando vi o Xiumin bem à minha frente mal entrei.

— Credo, Xiumin, que susto — fui até à minha penteadeira.

— Desculpa, já vi que te assusto muito ultimamente.

— Muito pelo contrário — sussurrei.

— Disseste alguma coisa? — o mesmo perguntou.

— Não, nada.

— Alex.. —- aproximou-se de mim e olhou-me pelo espelho — Eu sei que não gostas, mas... eu não pude evitar...

— O que é que foi, Xiumin?

— Eu... eu ouvi a conversa com o teu pai- olhei-o pelo espelho e em seguida virei-me para ele.

— Não tem mal, não era algo que não viesses a saber com o tempo.

— É mesmo verdade?

— Sim... o meu pai sofreu como muito pouca gente sofreu. E eu arrependo-me imenso, tanto de ter feito mal a mim mesma como de ter feito o meu pai passar por tanto por minha causa.

— E agora? Como é que estás?

— Anorexia cura-se com o tempo, e mesmo assim com poucos centímetros a mais ainda peso 44 quilos...

— Eu já tinha reparado que eras magra. Mas nunca pensei...

— Pudemos não falar mais disto, por favor? Deixa-me deprimida.

Baixei o olhar e esperei uma resposta da sua parte ou que se fosse embora. Mas não esperava o que veio a seguir.

Senti os seus braços rodearem o meu corpo e abraçou-me com força, como se a sua vida dependesse disso.

— És uma garota tão forte... mesmo que não tenhas noção disso. Não quero que voltes a sofrer assim.

Os meus olhos arregalaram-se e demorou algum tempo até que voltasse à realidade e finalmente o abracei de volta. Tinha a certeza que o tinha sentido sorrir com a cabeça no meu ombro.

Inesperado ou não, foi algo indispensável para que eu pudesse tomar uma decisão sobre o meu futuro. Agora tinha a certeza que faria a escolha certa.

My Sweet Ghost | XiuminOnde histórias criam vida. Descubra agora