[Trovão]

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Não confie em qualquer um. Foi o que aprendi, do pior jeito possível.

Tinha aquele garoto na minha sala, quando eu ainda estava no meio da jornada de me tornar um herói. Era bobo, simpático, legal com todo mundo, até um pouquinho safado. Não era alguém de se desconfiar.

Mas havia algo claramente errado com ele, eu podia sentir. Se eu me pegasse olhando por cima do ombro, encontraria seu olhar. Seu olhar gelado, apático, olhos amarelos selvagens me perfurando a alma. Na época, ignorei. Achei que minhas paranóias estavam falando mais alto, pois o garoto geralmente era tão amigável. Ainda assim, isso continuava acontecendo.

Não era próximo dele, nunca fui, mas a sala parecia se amarrar por conta dele. Sempre brincando, rindo, fazendo piada. Se exibindo, se mostrando e se humilhando no próximo instante. Cercado de amigos, de iscas. Silenciosamente, discretamente, ele continuou entre nós, sempre o palhaço da turma. Ganhando nossa confiança.

Anos se passaram.
As coisas estavam estranhas.
Estávamos em perigo.

Eu gritava por socorro, pendurado pelo meu capuz, a meio segundo de cair no abismo abaixo de meus pés tremendo desesperadamente. Estava muito ferido para me levantar sozinho, por um momento quase pensei em me soltar, talvez com o Black whip eu conseguisse parar minha queda, mas me senti tontear só de pensar em fazê-lo.

Uma mão agarrou-me bruscamente pelo braço logo quando o capuz ameaçou rasgar. Olhei para cima, vi seus cabelos, mas não consegui ver seu rosto direito. Tentei chamar seu nome, agradecer, pedir para que ele me levantasse, mas... Havia algo muito errado. Ele não me respondia. Mal se mexia, tirando o fato de sua mão ficava cada segundo mais apertada no meu braço, as unhas afundando na pele ao ponto de machucar. Por mais que eu chamasse-o, nada o faria se mexer, nem meu sentimento de poder cair a qualquer momento. A esse ponto eu estava gritando em desespero, implorando que ele não me deixasse cair.

E então, o trovão iluminou sua face, e vi toda a maldade por trás de sua máscara bondosa, olhos furiosos e sorriso malicioso, prontos para me mandar para o inferno

Não estava chovendo.

O trovão veio do fundo de sua alma, a eletricidade me atingindo, me fritando cada centímetro do corpo, meu braço cruelmente largado, abandonado para quebrar e morrer. Ele acabou com a minha vida, pois sabia do meu segredo. Traiu nossa sala, os deixou em frangalhos. O tempo todo, era nada mais que um peão no jogo doentio da liga. Um peão com síndrome de Rei, que destruiu tudo que conhecíamos.

"Você nunca devia ter confiado em mim, Midoriya". Foram suas últimas palavras para mim. A verdade mais dolorosa que já havia ouvido.

Não deveria ter confiado nele.
Não deveria ter confiado em ninguém.
Não deveria ter confiado nem em mim mesmo.

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⏰ Última atualização: Nov 12, 2019 ⏰

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