Como toda história da vida de alguém, há um começo e esse começo sempre se inicia com o nascimento. No meu caso eu considero um renascimento já que acredito na reencarnação da alma, mas isso não vem ao caso. Quando nasci tive problemas cardíacos e com poucas chances de sobrevivência. Minha mãe, que ainda era uma garota de 17 anos que fora obrigada a se casar com meu pai por ter engravidado tão jovem ficou perdida, ela não tinha o apoio de uma figura materna.
Vou contar sobre ela para vocês entenderem. Meus avós, que são seus pais, se divorciaram porque minha avó conheceu outro homem e foi embora com ele, deixando com meu avô os quatros filhos, sendo ela a única filha mulher e a primogênita. A minha mãe era muito nova quando isso aconteceu, ainda na sua adolescência. Ela ajudou meu avô a criar os meus tios, tendo que amadurecer muito rápido nessa questão. Logo então conheceu meu pai na escola, os dois namoraram e minha mãe engravidou aos 16 anos, ela alega até hoje que não sabia nada sobre sexo, e não sabia o que estava fazendo. Sendo assim, ela foi mãe muito cedo e com zero experiência na maternidade. Os meus avôs, paternos e maternos os obrigaram a se casar antes de eu nascer... e o resto saberão o que aconteceu.
Eu consegui sobreviver depois do nascimento, por isso também considero renascimento. Depois de alguns meses fiquei muito doente novamente, desidratação. Ainda muito pequena eu tive esse problema, e depois fui internada outras vezes por causas diferentes, pneumonia, mal de simioto entre outros. Percebendo-se que eu passei a infância toda em hospital sempre doente e com a saúde frágil.
Aos dois anos eu ainda não andava, e acharam que poderia ser normal. Aquela coisa, cada criança tem o seu tempo para se desenvolver e assim deixaram até os cinco anos. Viram que eu não andaria, e meu pai estava prestes a comprar uma cadeira de roda porque não aguentava me ver se arrastando no chão de terra com as mãos sempre machucadas, assim como o joelho. A minha avó paterna, que sempre ajudou minha mãe a cuidar de mim e da minha irmã que nasceu três anos depois de mim, era muito religiosa e apegada com os milagres nas mãos dos homens, ela acreditava que Deus sempre usava as pessoas para operar os seus milagres, como o caso de médicos, enfermeiros, bombeiros e etc. Vovó pedia que minha mãe me levasse para uma curadeira, pois morávamos em sítio, cidade muito pequena do interior do Espírito Santo, e onde todo mundo conhece todo mundo e nada passa despercebido.
Tal qual minha mãe, que vou chama-la de Lane, me levou. Podemos dizer que eu renascer mais uma vez depois de tantas, né? Sim, fizeram um ritual para lá de traumático para mim. Tiveram que abrir um boi, sim, um animal, um boi. Me colocaram no "bucho" dele, onde nada mais é que no estômago dele ainda quente, mas o animal estava morto. Lembro-me até hoje do cheiro, da sensação gosmenta nas minhas pernas, da "quentura". Me lembro de ter chorado querendo sair várias vezes e me deixaram lá por um bom tempo. Depois disso, passaram uma pomada com cheiro de sebo nas minhas pernas e depois uma meia calça, não podia pegar friagem em hipótese alguma. Não me lembro de muita coisa depois disso, só sei que em algum momento depois desse episódio eu consegui dar os meus primeiros passos, no dia em que minha mãe e minha avó estavam lavando roupas no tanque de costas para mim e minha irmã. Quando notaram, eu estava andando e caindo, do nada, de repente. Milagre? Não sei.
Tempos depois eu tive que adaptar minhas pernas para andar sem ajuda, pois eu sentia medo de cair o tempo todo. Segurava nas pessoas, paredes, tudo que pudesse ser meu apoio. Consegui levar uma vida "normal", ganhando autonomia a cada ano que se passava.
Aos nove anos, meus se separaram e nós morávamos na Bahia. Meu pai traía minha mãe, desde muito antes de se casar. Ele sempre foi muito mulherengo e acho que fazê-lo se casar aos dezessete anos foi um tremendo erro, ele não estava preparado e muito menos maduro para cuidar de uma família. Não basta apenas ter responsabilidade com os atos, mas precisa de maturidade o suficiente para conseguir levar adiante essas responsabilidades. Tal qual meu pai tivera algumas mulheres além da minha mãe. Lembro-me até hoje do dia em que ele saiu de casa, tiveram uma briga feia porque ele teve a ousadia de levar meu irmão caçula de menos de um ano para ver a amante. Não sei como, mas minha mãe descobriu. os dois brigaram tanto que houveram além de insultos, também agressão. Só me lembro de ter subido em cima do meu pai para ele parar de bater na minha mãe e fui arremessada na parede. Ainda tentei me levantar e ajudar minha mãe. Em vão. No fim, minha mãe jogou a chave do carro em um pasto que havia na frente de casa, para meu pai não encontrar. Esse foi o dia que ele saiu e nunca mais voltou para casa. Se divorciaram e ele praticamente sumiu. Depois descobrimos que a amante que está com ele até hoje estava grávida na época, e ela já tinha um filho de outro relacionamento.
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Segredos Guardados
Non-FictionAlgumas pessoas me disseram que minha vida viraria um livro um dia. Mesmo escrevendo meus livros e ficando famosa no meio, nunca contei coisas tão intimas e perigosas ao meu respeito, e a respeito de outras pessoas também. O que vou contar são coisa...