Capítulo 1

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POV Macarena Achaga - Rio de Janeiro

Relaxei meu corpo na poltrona e encostei a cabeça sentindo a mesma latejar. Eu me encontrava na sala do meu apartamento e na minha frente tinha todo o trabalho de uma semana inteira que guardei para a última hora. Tomei mais um gole da caneca com café e pestanejei o momento em que achei que trabalhar no sábado seria uma boa ideia. Apreciei a voz de Caetano Veloso nas caixas de som no outro extremo da sala e respirei fundo voltando a minha concentração nos papéis. 

Conclui alguns comandos no computador e anotei algumas observações no canto superior da folha torcendo para estar aceitável. Olhei para o relógio que já marcava 12:45 e me preparei para enviar os arquivos via email. Assisti a bolinha girar no canto inferior direito da página e me concentrei em terminar o meu café percebendo a silhueta encostada na porta.

- Ei, bom dia - Respondi com entusiasmo deixando a xícara em cima da mesa - Ou nesse caso, boa tarde - Sorri simpática enquanto ela se aproximava já trazendo alguns pertences que reconheci como seus pela noite passada.

- Boa tarde - Devolveu o sorriso e se sentou no sofá ao lado da mesa.

- Café? Acabei de passar - Ofereci indicando a caneca em sua direção.

Acenou de forma negativa com a cabeça e observou melhor o cômodo ao redor.

- Já irei pedir um táxi, não quero te atrapalhar - Voltou sua atenção para mim e me encarou com seu castanho intenso - Muito trabalho? - Perguntou apontando para a pilha de papéis.

- Menos do que parece mas o suficiente para eu nunca mais deixar para o final de semana. E eu já concluí, você não vai atrapalhar, pode tomar o café antes de ir - A senti pensativa sobre o que responderia e a observei melhor antes de concluir - A gente poderia conversar um pouco, sei lá, é que passamos a noite toda juntas e eu não sei nada sobre você, nem seu nome - Ofereci mais um sorriso simpática com a intenção de deixá-la mais confortável com a situação.

- Amélia - Respondeu enquanto se acomodava melhor no sofá de couro preto - Me desculpe por ontem, eu estava extremamente bêbada.

- Você não precisa se desculpar, eu gostei da noite e acho que você se saiu muito bem, estávamos todos extremamente bêbados afinal, não se preocupe. - Me levantei na intenção de ir pegar o café e a vi levantar de súbito ao meu lado.

- Eu realmente preciso ir, mas obrigada?! Não quero parecer rude, eu gostei da noite também e adoraria repetir caso você esteja afim alguma hora dessas, você tem meu contato creio eu e poderíamos marcar. Um jeito mais aceitável de nos conhecermos melhor. 

Analisei a mulher a minha frente enquanto a ouvia falar, gostava da sua voz, um pouco rouca e cheia de determinação. Seu cabelo estava levemente bagunçado e seus lábios permaneciam vermelhos como lembrança da noite que tivemos. A Amélia envergonhada de hoje de manhã não se parecia nem um pouco com a mulher até então desconhecida que conheci no bar, já levemente bêbada e com vinte formas diferentes de me impressionar falando sobre a vida. O resto da noite se passou que nem sentimos.

Acabei concordando com marcamos um outro momento e falamos mais algumas coisas banais sobre o calor que estava fazendo na cidade e marcas de café. Ouvimos o celular apitar indicando que o táxi já tinha chegado, nos despedimos com um breve abraço e com a promeça de nos vermos em breve. Abri a porta com a intenção de levá-la até a entrada do prédio e nós demos de cara com uma figura feminina prestes a bater na minha porta. Reconheci a mulher na minha frente e sorri para ela. Permiti a passagem de Amélia concluindo ambas por olhar que era melhor ela descer sem mim, se despediu com um breve aceno nas mãos, deixando eu e a minha vizinha de cima, que não estava com uma cara nada boa, sozinhas.

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