ALISSON
[???]Era um fato incontestável que não houvesse uma única alma — viva ou morta — naquela cidade que não tivesse pelo menos um pouco de conhecimento sobre os Filhos da noite.
Não era de grande surpresa quando alguém, misteriosamente ou não, aparecia em óbito. Criaturas morriam o tempo todo. A grande surpresa, de fato, era o número.
— Nesta manhã foram oito perto da prefeitura. Eu chuto mais dez pelo fim do dia, e você?
Oito em uma manhã, ouvi um sujeito proferir enquanto eu estava a caminho da livraria onde trabalho.
Em sua grande maioria, eram os que possuíam poder, como feiticeiros e fadas. Eu diria, os mais esnobes de Vanoloon. Era compreensível, afinal, todos aqui queriam justiça contra o sistema de nossa cidade. Mas aquele era o sangue no qual não queríamos carregar em nossas mãos.
Todos possuíam fardos para carregar consigo, algo que nos dificulta a pregar os olhos dia após dia.
As mortes realizadas. O desejo de continuar vivendo sendo brutalmente retirado das vítimas. Este fardo era carregado pelos Filhos da noite.
[...]
Foram, no total, cinco pedrinhas chutadas para longe enquanto caminhava em direção a livraria.
Mas, depois de tanto caminhar, enfim chego ao bairro onde moravam os feiticeiros mais respeitados da cidade.
Faltam apenas duas quadras.
Os mesmos zelavam pelas barreiras de proteção de Vanoloon, afim de não permitir que nenhum humano entrasse em nosso mundo protegido. Haviam conflitos entre as duas espécies, e estes não seriam resolvidos tão cedo.
Observo o outro lado da rua onde nesta não haviam casas luxuosas como de costume, e sim um gramado consideravelmente alto.
Quando estou perto de atravessar a rua, uma figura, no meio da grama, entra em meu campo de visão e tenho dificuldade em enchergá-la. Logo fica mais visível.
Era um homem, coberto de sangue e desespero, esbarrando em seus próprios pés ao mesmo tempo em que olhava para trás de si.
Com a respiração descompassada não penso duas vezes, corro em sua direção para tentar ajudar-lo enquanto o mesmo gritava por socorro.
Porém, logo atrás do que julgo ser um feiticeiro, outro sujeito aparece, com uma sobretudo que quase chegava aos seus pés e um capuz grande o suficiente para cobrir seus olhos e deixa-lo irreconhecível.
Automaticamente paro quando observo o machado ensanguentado em suas mãos. Ele agiu rápido o suficiente para nocautear o feiticeiro com um só golpe em suas pernas.
Com as pernas perdendo o equilíbrio conforme o medo se expandia, corro em direção a um carro e me escondo atrás deste, olhando pela janela do motorista a cena.
Aquilo era um assassinato. Estava acontecendo, era real.
Sinto meu sangue gelar e meu coração quase saltar pelo peito. O que eu faria? Assistiria um assassino acabar com a vida de um homem atrás deste veículo, ligaria para a polícia ou tentaria impedir tal ato?
Ligar para a polícia me parece uma boa opção, mas, merda, havia deixado meu celular em casa hoje.
Minhas mãos tremiam, e eu simplesmente, não sabia o que fazer.
— Por favor, t-tenha piedade! — o feiticeiro diz, se engasgando com o próprio sangue. — Eu lhe dou quanto dinheiro desejar!
Havia tanto sangue que a grama estava pintada de vermelho, assim como um rastro da sangue se fazia presente na calçada.
Um chute é transferido no estômago do feiticeiro.
— Que sua arrogância o condene. Justiça a todos que foram vítimas de tua avareza — outro chute. — Que os anjos tenham piedade.
E, dito isso, um tiro é acertado no meio da testa do feiticeiro.
Olho para o corpo agora sem visa com os olhos arregalados, meus olhos se enchem da lágrimas e forço minhas mãos com força em minha boca para que um grito não escape.
Ele morreu.
E eu não pude fazer nada.
Sinto a falta de ar chegando tamanho meu desespero, o qual aumenta quando o homem direciona seu olhar para o veículo no qual estava escondida.
Fodeu. Eu iria morrer.
Uma risada cínica ecoa pelo local, calma, porém carregada de ódio.
— Momento errado, hora errada. É uma pena.
Eu nunca fui de pedir algo para forças superiores, eu não possuía algum tipo de crença. Mas, agora, eu estava pedindo para qualquer Deus existente que me amparasse naquele momento. Olhei para os lados, não tinha para onde correr sem ser vista.
Lágrimas caiam compulsivamente sob minhas mãos trêmulas. E, como se fosse possível, todo o medo e pânico antes sentido elevou-se quando senti uma lâmina pressionar contra minha garganta.
Rápido e certeiro.
— Um movimento brusco, e você está morta. — ele avisa, e eu assinto rapidamente. O mesmo me solta sem delicadeza, vou de encontro ao chão. — Qual seu nome?
Não consigo responder de imediato. Ele mantinha-se longe o suficiente para que eu não consiga enxergar sua face por baixo do capuz.
— Responda. — a voz rouca eleva-se e eu estremeço.
— A-Alisson.
— Você não viu nada, não passou por aqui e não escutou nada. Entendeu, Alisson?
Aquele machado me apavorava.
Apenas consegui assentir com a cabeça. As palavras sumiram.
— Ótimo — ele limpou o objeto na própria manga, a sujando de sangue. — Uma boa tarde.
E vira as costas, andando tranquilamente como se não carregasse nenhum peso em suas costas, — talvez ele não o tivesse — girando aquela merda de machado entre os dedos.
Nada saía. Nem mesmo um grito. Parecia impossível esquecer as cenas recém vividas por mim de minha memória. Eu ainda sentia a lâmina em meu pescoço.
Me apoio no chão para enfiam conseguir levantar e em passos lentos e dificultosos, ando em direção ao corpo. Esperança ainda existia.
Porém, ao chegar perto, tropeço em algo. Aquele pingo de esperança desvaneceu-se.
Eram milhares de feiticeiros mortos no chão, aquele era mais um de centenas de corpos sem vida ali.
Lágrimas ameaçam cair e eu as impeço. Não iria chorar, não ali.
Observo o tiro no meio da testa do recente falecido. Mas como poderia? O homem nem ao menos tocou em uma arma.
Eu gostaria de nunca saber quem, de fato, havia o matado.
NOTAS:
prólogo grandinho pra começar esse universo que eu amo. espero que gostem tanto quanto eu.
aos leitores antigos, favor não dar nenhum spoiler sobre o desenvolvimento. isso é uma reescrita.
se o prólogo ja começou assim, imagina os proximos. vcs que lutem.
obrigada por chegar ate aqui 💜
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Filhos da noite
ActionO mundo mudou. Agora, seres sobrenaturais vivem entre nós, escondidos em sua própria terra, porém eles também tem algo a temer. Alisson Horvath nunca se interessou pelo assunto "Filhos da noite" até que em uma tarde, se vê presenciando um assassin...