02. Por que?

1.4K 121 7
                                    

No início do nosso casamento, Adão era um bom marido, carinhoso, atencioso, nos dávamos muito bem, pois, mais do que marido e mulher, ele e eu éramos melhores amigos, ele me tratava como uma princesa, me amando e me enchendo de carinhos, como um verdadeiro casal de Hollywood, como muitos humanos, diriam hoje em dia. Um relacionamento perfeito, digno de cinema, ou até quem sabe, de um best seller, que conta uma linda história de amor, eu o amava muito, tanto que, morria de medo de desagrada - lo, mesmo tendo dentro de mim, no mais intimo de meu ser, sem que eu soubesse disso, um espírito quase indomável. Como eu ia dizendo, Adão era um bom marido no inicio do nosso casamento, mas depois se tornou um sujeito insuportável e mandão. Faz isso, busca aquilo, você tem de me obedecer, é ordem de Deus, quase como se ele fosse o amo, e eu a escrava, sempre pronta para servi - lo, no que ele quisesse de mim, pois, desde que ele se sentisse feliz, a minha própria felicidade, não tinha a menor importância para ele.

Sinceramente, eu estava quase perdendo a razão, e cometendo uma loucura, um pecado, que mais tarde seria cometido pelo primeiro filho dele, com a sua segunda esposa, mas isso ainda ia demorar bastante a acontecer. Um dia passeando pelo jardim do Éden me deparo, com o tal de Lúcifer encostado numa árvore repleta de frutos vermelhos e apetitosos, apenas de olhar. Ele era tão lindo, que nem parecia ser de verdade, quase como uma ilusão, ou quem sabe, uma miragem encantadora.

- Nossa Lilith, você está horrível, nem de longe me lembra, a jovem tímida e cheia de sonhos, que um dia, eu vi sendo criada do barro, junto com aquele inútil, a quem você ainda chama de marido, e que nunca te mereceu - Ele parecia, estar sendo brincalhão, mas em seus olhos, pude ver, o que parecia ser raiva, e eles, estavam muito sérios. Sérios até demais, até mesmo para ele, que quase nunca sorria para ninguém, que não fosse o próprio Deus, o ser mais perfeito de todo o universo - Você merecia melhor sorte do que esta, esse seu marido, o Adão, ele é, simplesmente, um estúpido, que mal sabe se virar sozinho. Praticamente, um imprestável, que não serve para, absolutamente, nada, Lilith, e você sabe muito bem disso.

- E por que você se importa com isso, afinal? Isso nem é assunto seu, até onde, eu sei, bem - Pergunto muito irritada, em um tom bem mais rude, do que, o que eu pretendia usar com ele - Até onde eu sei, você me despreza, desde que nos conhecemos, Lúcifer, e isso já faz bastante tempo, até onde me lembro muito bem.

- Porque, mesmo que você não acredite em mim, na sinceridade de minhas palavras, ao te observar, todos os dias, e noites, eu meio que, acabei me apaixonando por você; se aproxima de mim e me envolve no calor de seu abraço - Você não é igual a ele, e nem sequer precisou comer o fruto do bem e do mal... Lilith você quer fugir comigo deste lugar e construir comigo o meu, bem, o nosso reino, longe deste idiota?

- Não podemos; me afasto dele, com dificuldade, pois mesmo sem querer me sinto atraída por ele - É um pecado contra Deus! Eu sou uma mulher casada e você - O observo atentamente, tentando não cair em tentação, naquele momento - Você é um anjo, e Deus jamais o perdoaria, caso um dia, viesse a se envolver comigo

- E você acha certo servir de escrava para uma criatura caprichosa como Adão? - Ele se reaproxima de mim e coloca uma mexa de meu cabelo atrás da orelha; minha princesa de cabelos de fogo, você não merecia isso.

Nesse instante nossos lábios se tocaram e eu senti algo novo... Que jamais senti por Adão, ou por qualquer outro homem, que veio depois dele, mas que eu precisava ignorar a qualquer custo pelo nosso bem e principalmente, pelo meu, que por certo, seria a mais castigada, pois, desde cedo, aprendi, que a corda sempre arrebenta para o lado mais fraco. E infelizmente, eu era a parte mais fraca, daquela corda. Me afastando de Lúcifer, eu decido voltar para perto de Adão, mesmo sem as frutas, que ele me pediu, que pegasse para ele, ou melhor dizendo, os frutos, que o mesmo, exigiu de mim.

O pecado é algo bastante difícil de se evitar, pois através dele, realizamos o nosso maior desejo, que muitas vezes, não é o mesmo, que Deus deseja para nós, Ele nos testa o tempo inteiro, e estava me testando, através daquele anjo, que mais tarde, seria o meu último e verdadeiro amor, não que eu fosse viver como uma freira, ou santa, até porque, ao que tudo indicava, eu não tinha a menor vocação para ser nenhuma delas. mesmo começando a me apaixonar por Lúcifer, eu ainda amava, e muito, ao meu marido, e justamente por isso, eu queria tentar ser feliz ao seu lado, por mais chato que o mesmo estivesse, agora que se valia dos nossos papéis no jardim do Éden para me humilhar, me fazendo de escrava, se esquecendo do principal, que eu era a sua esposa.

- "Eu não sei mais o que fazer, sentir, pensar, ou fazer. Sinceramente, eu não sei de mais nada, nem mesmo, quem eu sou" - Começo a pensar nisso inquieta, enquanto pegava o caminho mais longo, para voltar para onde Adão estava me esperando, certamente muito nervoso comigo, na época eu cheguei a pensar, que com razão, levando em conta a minha demora - "O que eu devo fazer, afinal? Me entregar à um amor pecaminoso nos braços de um arcanjo"? - Eu, então, meio que, engulo em seco, antes de continuar com aquela minha linha de raciocino, bastante peculiar e estranho, para aqueles dias, ainda nos primórdios dos tempos - "Ou, tento ser feliz ao lado do meu marido, o Adão, um companheiro feito para mim, assim coo eu, por certo, fui criada para ele, mesmo que, apesar de que... Ele não tenha mais nenhum respeito por mim?

Para essas minhas perguntas, somente o tempo tinha, as respostas, e infelizmente, ou felizmente, num futuro não tão distante, eu pagaria muito caro, por cada uma delas, principalmente, por conta, de minhas próprias escolhas, cada vez menos sensatas e seguras, para mim mesma. Escolhas essas, que mesmo de terem sido difíceis de terem sido feitas, foram mesmo assim, para o bem, ou para o mal, de toda a minha existência, marcada pela tragédia e a dor, de falsos amores, e paixões fulgazes, e passageiras...

Mas que mesmo assim, ainda eram escolhas, s minhas, e de mais ninguém...

Lilith, a história não contada... (reescrita)Onde histórias criam vida. Descubra agora