Alice no país das maravilhas (Peça teatral releitura)

Capítulo único

Alice no país das maravilhas

(Cenário: bosque)

Era uma vez, uma linda jovem que vivia num reino distante chamado Aracaju, seu nome é Alice. Ela ama a terra dela, mas não consegue um emprego, preocupada e sem saber o que fazer, ela vai passear num bosque. Der repente... Um coelho passa correndo por ela, a jovem o segura pelo braço e pergunta;

ALICE - Por que você está tão apressado?

COELHO - Não tenho tempo para conversar, vou ir para o país das maravilhas, lá terá emprego para mim!

(Cenário: buraco/ país das maravilhas)

Animada com a possibilidade de conseguir um trabalho, Alice segue o coelho, entra numa estranha toca e segue rumo ao país das maravilhas. (Muda o cénário para o país das maravilhas) Chegando lá fica impressionada, tudo é muito diferente... As pessoas, as coisas, e por falar em pessoas, umas flores que ali estavam pareciam zombar da jovem.

FLOR 1 - Olha só aquela garota... O modo como fala e se veste, deve ser nordestina!

FLOR 2 - Isso mesmo, eles só falam errado!

FLOR 3 - E ainda por cima vem para nossa região só para fazer bagunça

FLOR 1 - Mas são um bando de ignorantes, burros mesmo!

Triste, Alice caminha cabisbaixa, no meio do caminho acaba trombando com o gato risonho.

GATO - O que faz aqui jovem?

ALICE - Estou procurando emprego, mas não sei por onde começar

GATO - Seu fosse você seguia aquele caminho (aponta), o centro comercial do pais das maravilhas

Alice enche-se de esperanças novamente, vai caminhando alegre e presencia o chapeleiro maluco e a lebre de março, eles vendem coisas por lá, o chapeleiro vende chapéus e a lebre alguns objetos usados.

CHAPELEIRO MALUCO - Chapéus! Vendo chapéus! Chapéus...

ALICE - Estou com tanta fome...Não ando me alimentado bem desde que cheguei

CHAPELEIRO - Olá jovem!, pelo seu sotaque não deve ser daqui, está com fome? Vamos lanchar.

(Nesse momento é montada uma mesa, ou então um piquenique no chão)

Os três vão tomar um chá, assim como Alice, o chapeleiro também é nordestino, ele conversa com ela e diz como a vida é difícil no país das maravilhas, ele foi para lá com muitos sonhos e esperança, mas acabou sofrendo preconceito, olhares tortos e comentários maldosos.

ALICE - Chapeleiro como consigo um emprego por aqui?

CHAPELEIRO - A situação aqui também está dificil, mas você é jovem, talvez consiga alguma coisa no castelo da rainha de copas

LEBRE - Se não ser certo você pode trabalhar conosco como vendedora ambulante

ALICE - Obrigada, irei partir

(pessoal do apoio recolhe o piquenique, ou mesa, logo após muda o cenário)

(Cenário: castelo da rainha de copas)

(entra os demais funcionários e gesticulam tarefas, varrer chão e etc.)

Alice parte novamente, dessa vez a caminhada foi um pouco mais longa, mas qundo viu pessoas vestidas de vermelho percebeu que estava no caminho certo, era os funcionários da rainha. Animada Alice dirigiu-se a ela, a rainha de copas. Uma mulher que tinha poder e altivez, vestia-se bem, e parecia ser bastante autoritária.

RAINHA DE COPAS - O quem é você e o que faz aqui no meu castelo?

ALICE - Vim de longe e estou em busca de um emprego...

RAINHA DE COPAS - Hum...Mais uma retirante, esse povo nordestino...mas emfim, se é emprego que tu quer então terá.

Alice passou a trabalhar no castelo, ela fazia de tudo, trabalhava várias e várias horas por dia, mas o salário era tão pouco... A rainha era bastante autoritária, e sempre soltava comentários maldosos em relação a origem de Alice, dizia que ela tinha que aprender a falar direito, e que o nordeste é região de gente analfabeta.

O tempo foi passando e Alice estava cada vez mais exausta, fazia hora extra e rainha não pagava, e além disso as condições de trabalho eram péssimas e até mesmo perigosas.

ALICE - Ei, você não acha que tem algo muito errado por aqui?

FUNCIONÁRIO DA RAINHA - Tipo o que?

ALICE - A gente trabalha tanto! Mas nosso salário só vem atrasado

FUNCIONÁRIO DA RAINHA - E o que poderemos fazer? Se a gente denunciar perderemos o emprego...

ALICE - É verdade... Mas eu não aguento mais irei me demetir

(Funcionários saem, entra a rainha)

Alice dirigiu-se a rainha para pedir ás contas, a reação da rainha não foi uma das melhores.

RAINHA DE COPAS - Você tem um contrato comigo, não pode se demitir!

ALICE - Posso sim! As condições de trabalho aqui são péssimas! Eu vou te denunciar

RAINHA DE COPAS - Ah , mas não vai mesmo! SOLDADOS! CORTEM-LHE A CABEÇA!!

Os soldados da rainha pegam alice pelos braços e a levam para ser executada, ela se mexe bastante tentando escapar, mas não consegue, então apenas ajoelhou-se esperando o fim. Der repente todos escutam um grande barulho, alguém arrombou a porta.

POLICIAL 1 - PARADOS AI! AQUI É A POLICIA!

DELEGADO (A) - Recebemos uma denuncia anônima e vinhemos conferir! As condições aqui são péssimas!

POLICIAL 1 - Pegamos você em flagrante rainha vermelha!

DELEGADO - Esse lugar será fechado e você respinderá pelos seus crimes

RAINHA VERMELHA - NÃÃÃOOOO!!!! ME LARGUEM! EU SOU DONA DISSO AQUI, EXIJO UM ADVOGADO!!

(Funcionários reaparecem tristes, a rainha branca aparece e conversa com alguns deles, gestos )

Após o incidente os funcionário da rainha vermelha ficaram sem emprego, tristes e desesperados, mas como a nóticia correu os jornais, a rainha branca dona de um castelo, quis dar oportunidade para essas pessoas.

(Cenário: castelo da rainha branca)

ALICE - Muito obrigada rainha branca!

RAINHA BRANCA - Não precisa me agradecer, é minha obrigação como empregadora, oferecer condições favoráveis de trabalho, respeitando os direitos da classe trabalhadora.

ALICE - Irei trabalhar duro para voltar a minha terra, lá lugar melhor não há!

(Todos os personagens organizam-se no palco)

O que ocorreu com Alice ainda é comum nos dias de hoje. Muitos nordestinos acabam mudando de região em busca de oportunidades e chegando lá são marginalizados, sofrem a chamada xenofobia, que é quando um individuo sofre preconceito por ser de uma região ou nacionalidade diferente. Outro problema que foi retratado é o trabalho escravo, De acordo com o artigo 149 do Código Penal brasileiro, são elementos que caracterizam o trabalho escravo: condições degradantes de trabalho, jornada exaustiva, trabalho forçado (manter a pessoa no serviço através de fraudes, ameaças e violências físicas e psicológicas). Denuncie! Empatia é a palavra chave para combater qualquer froma de preconceito.

(Toca luiz Gonzaga - A vida de viajante) FIM