Notas iniciais: História escrita para o Desafio Write Along do grupo do Facebook Drarry Br.
A música escolhida foi Smile de Jeff William e Casey Lee.
Espero que gostem <3
***
Você está dormindo.
Sabe que está dormindo pois, ao entrar naquele átrio, para e conta os dedos. Há mais de dez, nos sonhos sempre há mais de dez. O elevador desce com um rangido e as grades douradas se abrem dando-lhe passagem. O chão flutua aos seus pés, a sensação fria em sua barriga com o deslizar agitado para baixo. Aproximando-se. Portas abertas. Deixando o cubículo e avançando pelo piso frio que parece prendê-lo.
Você atravessa o corredor de pedra negra e se depara com uma grande porta.
Ela o frustra e, ao mesmo tempo, lhe causa curiosidade. O desejo de abri-la o atravessa, juntamente ao temor gerado pela revelação que pode trazer. O desconhecido é como uma piscina fria, calmo e disfarçado, imperceptível, porém pronto para paralisá-lo no momento em que o primeiro passo for dado. A mão se estende, desejo e medo batalhando firmes em seu interior. A porta não apresenta resistência, abrindo-se para uma sala escura e circular iluminada por sutis chamas dançantes. Seus olhos percorrem os arredores, parando em cada uma das portas, confusos, assustados; o coração já não mais controla as batidas, elas soam altas e rápidas, tal qual a respiração que escapa por entre seus lábios. A parca luz que lhe apontava o caminho percorrido desaparece. A entrada se fechou, abandonando-o a sorte. A sala gira ao seu redor, confundindo-o ainda mais, apagando quaisquer vestígios de uma entrada ou saída.
Você hesita.
Existem opções demais, caminhos demais que desaguam em mais escolhas. Sem direção, completamente perdido. Seu eu interior lhe diz que escolher ao acaso é uma péssima ideia. Abrir uma das portas significaria machucar um dos seus amigos tão amados, e não é esse o seu desejo. O sentimento se intensifica, implorativo, ansioso, incitando-o a avançar. Seus batimentos ecoam em seus ouvidos, a boca seca quando enfim grita para o vazio:
— O que quer de mim? Para onde eu devo ir?
Uma porta se abre, quase como se esperasse suas perguntas. Suas mãos cerram-se em uma tentativa de conter aquele nódulo que parece enganchar em sua garganta. Por algum motivo, suas pernas tremem.
Você as força a prosseguir.
Atravessa o umbral e se vê no alto de uma plataforma afundada, rodeado por vários degraus de pedra. O ar se torna mais frio, travando em seu peito e cortando sua face que se encontra estranhamente molhada de lágrimas. Descendo os degraus, acompanhado apenas pelo som oco dos seus próprios passos, há um arco de pedra encerrado por um véu que parece ondular a parca luz. Seus olhos o segue, hipnotizados. O aperto em seu peito lhe diz que há algo ali, algo que lhe foi tirado, algo que não pode ser trazido de volta. O som dos seus soluços acompanhar o sussurrar das vozes.
"Há pessoas ali!"
Você pensa.
Porém, não pode vê-las.
Uma voz surge do além, ecoando nas paredes de pedra e dizendo-lhe:
"Ora, você não percebe? Eles estão ali. Só estão escondidos."
Os sussurros aumentam, tomando sua mente e fazendo-o derramar mais lágrimas. Elas escorrem geladas pelo seu rosto, enquanto uma determinação escaldante se instala em seu coração.
Você quer vê-los.
O arco se parte. Fios de prata se estendendo pelo ar por toda a sala. Nuvens translúcidas e pálidas que tomam forma diante de seus olhos. Pernas. Tronco. Braços. Cabeça. Rostos que se formam, feições que lhe magoam e lhe passam a sensação de conforto. Eles aparecem ali, chamados pelo seu desejo de vê-los, ou talvez, quem sabe, os próprios desejos tenham os trazido até ali.

YOU ARE READING
Smile
FanfictionHarry não consegue parar de sonhar com o véu pelo qual Sirius se foi. Dele, as pessoas que ele mais desejava ver começam a sair para lhe fazer uma visita. Uma que ficaria marcada para sempre em sua alma. [Desafio #WriteAlong]