Dozentos Dias Sem Ela

| Fugir |

Eu pedia a vida que se fosse a me trazer alguém, que trouxesse junto a calma e a paciência, um dia tranquilo, deitado na rede enquanto contávamos histórias. Mas Naomi não era nada calma, nem paciente e muito menos tranquila.

- Corre!!!- Gritou Naomi enquanto corria.-

- Vamos!!!- peguei na mão de Naomi enquanto corríamos.-

Aquele dia eu tinha tomado uma decisão, eu fugiria com ela, deixei uma cartinha para os meus pais e fui. Eu não tinha nenhum problema grave, eu não estava sendo fugitivo, mas ela sim. Naomi sempre foi "doida", ela se metia em coisas que não deveria estar citada como o roubo da loja de CD's que seus colegas da pesada resolveram assaltar e fazer de cúmplice. Ela estava em todos os jornais e até mesmo programas de TV.

Ela me disse que fugiria sozinha e que se eu quisesse ir junto ela iria do mesmo jeito, me jogou um olhar que ao mesmo tempo pedia "por favor, aceita!". E eu, claro, fui.

Ela tinha algo que era impossível dizer não

Ela fingia nunca se importar com seus problemas, tirando a confusão do roubo. Enquanto estávamos no meu carro e ela contava suas histórias do passado, enquanto dançava e balançava sua peruca rosa de "disfarce", (sempre achei que ficava fofa assim).

Eu ainda estava em dúvida do motivo de aceitar a ideia de ter fugido, na verdade, acho que eu precisava de emoção e adrenalina, algo faltava.

[...]

Aquele dia eu a tinha conhecido melhor, achamos uma casa abandonada que era de madeira, tinha muito pó, e coisas velhas, aqueles típico de filmes, só que não de terror. Ficamos umas 4 horas só pra limpar e arrumar as coisas por ali e enquanto eu a ajudava, e ela estava limpando o guarda roupa, coloquei a mão em minha nuca, a outra na cintura, eu parei pra pensar que parecíamos um casal acabando de se mudar pra uma nova casa, mas segundos depois parei pra pensar novamente que aquilo não passava de amizade.
Ok, já sabemos o fim desse episódio, é que eu nunca fui de admitir muito o que sentia, igual a ela no primeiro dia que me beijou.

- Por que fez isso?- perguntei.-

- Eu te odeio.- respondeu ela.-

Sempre achei engraçado o fato de ela amar coisas românticas mas não ser romântica, e ela me evitava.

Era engraçado lidar com Naomi, sua bipolaridade, suas mudanças de opinião a cada 5 minutos, suas crises, seus surtos de empolgação, seu estresse. Mas não fosse tudo isso, não seria ela.

Esse dia a gente comemorou, bebemos duas garrafas inteiras de Jack Daniels, colocamos músicas como pretty girl-Clairo, cantamos juntos e damos risadas de nós mesmos, deitamos um em cima do outro no chão e ficamos olhando para o teto da sala.

E sinto falta de tudo isso, do primeiro dia, da nossa primeira decisão e principalmente a primeira loucura, da primeira vez que te vi com seu desfarce de cabelo rosa e de sua dança sexy enquanto escuta sua música favorita.
Hoje é o décimo terceiro dia sem você. No primeiro achei que talvez não fosse passar, no segundo eu pensei que passaria, mas agora é incerto e isso me corrompe.

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