38 - Uma Conversa Sincera

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Narração: Wolfgang

Durante anos, treinei sozinho para ser o mais eficiente possível em combate e não deixar repetir o terror daquele dia. Força e velocidade são minhas pontas principais. Inteligência nunca foi o meu forte, mas desde pequeno, no orfanato, gostei de truques de mágica.

Por ter nascido com duas pontas aptas para o desenvolvimento, Força e Velocidade, sempre acompanhei os truques de artistas medianos que o orfanato trouxe para entreter as crianças. Truques simples eram usados, e davam a impressão de que a magia era real. Mas com a velocidade que eu tinha, acompanhar a apresentação, desvendando truques que confundiam a mente, era fácil.

No orfanato, quando se atingia a idade de quinze anos, era a sua condenação. As pessoas adotavam crianças, mas não adolescentes. Um dado que eu mesmo criei com base nos doze anos que eu fiquei observando era: até o quinto ano de idade, as crianças adotadas não retornavam, do quinto ao oitavo ano de idade, as crianças que eram adotadas raramente voltavam. Do oitavo ao décimo ano de idade, a realidade já mudava, sendo o máximo das crianças que não voltavam, mas apenas uma em mais ou menos quinze era de fato adotada. Após isso, eu mesmo, nunca vi um adolescente ser adotado. 

Quando completavam quinze anos, a condenação, como chamavam os garotos do orfanato, os adolescentes eram mandados para uma escola militar para se tornarem oficiais do governo. Haviam também boatos de que os garotos eram castrados, e assim davam lealdade infinita e vitalícia ao governo. Lavagem cerebral. Pegue alguém que não tem nada a perder, tire o mínimo de dignidade e então ofereça uma causa "nobre".

Esse processo de criação de soldados estava indo muito bem, desde que Edgar havia se apropriado de todo o poder militar do país. Ele estava aos poucos se tornando poderoso, e corriam boatos de que em dois ou três anos, haveria um golpe que o tornaria soberano.

Eu mesmo desacreditava dessa possibilidade.

Estava com treze anos, e nunca havia sido adotado, eu nunca me preocupei em ser... Sociável. As pessoas gostam das outras pelo lado que elas veem, e não queria que gostassem de mim pelo que eu não era.

Nesse meio tempo que fiquei no orfanato, após a morte de meus pais em um acidente de carro, treinei sozinho minha velocidade, sem ter a mínima noção do que era o Pentágono de afinidade.

Um dia, uns dias após completar quatorze anos enquanto todos estavam no salão principal, me escondi sentado próximo ao canto do grande salão, logo a frente da porta principal, na parede oposta. Estava lendo algo, quando uma mulher, mais alta que as cuidadoras do orfanato, entrou molhada da chuva torrencial que estava. Sua feição de mãe, cabelos loiros, corpo esbelto e ágil. Em sua cintura havia uma bainha com uma espada. O ornamento alaranjado na bainha preta me fascinou. Enquanto todas as outras crianças se alinhavam em uma fila e faziam de tudo para mostrar que eram quietos e tranquilos, o que na verdade não passava de uma boa encenação, eu me aproximei.

- Essa bainha, é muito bonita. - Disse com sinceridade.

A mulher olhou para mim com um certo espanto. Mas logo entendeu.

- Você sabe lutar? - Perguntou com um sorriso terno.

- Eu já vi muitos filmes de luta com espadas.

A mulher desembainhou a espada lentamente. As crianças recuaram, como vi pelo espelho do salão central, que ficava atrás da mulher, logo a minha frente, mas quando vi minha própria expressão, me surpreendi. O ruído da lâmina saindo da bainha me fez sorrir, algo que não me lembrava de ter feito antes. A mulher terminou de puxar a bainha da espada, e levantou a lâmina no meu pescoço. As crianças estavam desesperadas sem emitir um único som. Mas eu estava tranquilo. Nunca gostei daquele lugar, nada era interessante.

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