Bati á porta do quarto dela, mas ninguém respondeu, pelo que decidi entrar. Ela estava a dormir.
Aproximei-me e desviei uma mecha de cabelo do rosto dela, que transmitia uma paz inconfundível. Dei-lhe um pequeno beijo no braço e levantei-me, mas ela acordou antes de eu poder desaparecer:
-Queres alguma coisa?- perguntou, com uma voz ensonada.
- Apenas te vim pedir desculpa pela minha reação, exagerei um pouco.
- Não faz mal. Eu não a levei mal, percebi a mensagem. Aquelas estátuas são muito importantes para ti e não queres que eu volte a entrar ali. Está entendido.
Ela ergueu as mãos em sinal de rendição e levantou-se para se dirigir á porta. Eu seguia-a e os nossos olhares encontraram-se por uns breves momentos:
- Eu sei que errei. Desculpa, não foi por mal.
- Estamos os dois perdoados. É isso que importa- tentei sorrir, mas a tentativa saiu falhada.
- Sim, estamos.
Saímos os dois ao mesmo tempo e cada seguiu o seu caminho. Fui ter como Albert, mas este estava muito estranho, os olhos estavam vermelhos e fixava algo distante. Ele só ficava assim quando pressentia a presença do Lúcifer, o anjo malvado que desejava a vingança depois de o meu pai o ter prendido no Inferno. Como o meu pai já morreu, ele está sempre a tentar magoar-me.
- Albert, o que é que estás a sentir? O Lúcifer está aqui?
- Ele está aqui. Vai tentar corroer a alma mais pura que habita esta casa.
A Lylianna. Procurei por ela em todos os recantos da casa, mas um grito vindo do jardim chamou a minha atenção. Quando lá cheguei, a Lylianna estava desmaiada no chão.
Ajoelhei-me ao lado dela e tentei reanimá-la:
- Lylianna, acorda, por favor! Se ele te corroeu, eu mato-o com as minhas próprias mãos!
O Albert acordou do transe e veio ajudar-me. Ouviu-se uma gargalhada ecoar no ar, seguida de um sussurro:
- Vais pagar pelos erros do teu pai, Malik. Vou-te tirar tudo aquilo que mais amas, tal como o teu pai me fez a mim.
Eu levantei-me num acesso de fúria e comecei a gritar:
- Eu vou matar-te, seu desgraçado!- o Albert travou-me, numa tentativa de me conseguir acalmar.
- Calma, menino. Ele não vale o seu esforço.
Voltei para junto da Lylianna, que começou a acordar lentamente:
- O que é que aconteceu?- sorri ao ver que os olhos dela continuavam azuis e não vermelhos.
- O Lúcifer tentou corroer-te mas a tua alma é demasiado pura e ele afastou-se.