Capítulo I ~

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   Tem um garoto...

   Eu e Leo, um cara de cabelo cumprido que flerta com qualquer garota que aparece em sua frente e que, também, é meu melhor amigo, estávamos em uma festa que alguma líder de torcida aleatória que eu não fazia questão de saber quem era resolveu dar no fim de semana. Ele saiu para buscar uma bebida para nós dois e acabou me deixou sozinho na multidão de adolescentes bêbados e descontrolados.
   Após caminhar pela enorme sala de estar sem nenhum motivo em mente, encontrei um sofá roxo com um lugar vago no meio e me aconcheguei no mesmo, obtendo uma visão do espaço onde me localizava. Havia muitas pessoas dançando e se esfregando uma nas outras, mas uma única acabou capturando minha atenção. Era um garoto de cabelos curtos e escuros que dançava animadamente com mais dois outros garotos no centro da sala. Seus passos não seguiam um ritmo certo, parecia mais como uma luta, uma luta contra si mesmo. (Acho que ele estava perdendo hahaha, sou hilário). Ele se virou em minha direção e nos encaramos. Pude ver seus olhos asiáticos perdidos, preocupados, mas, mesmo assim, ele me lançou um enorme sorriso. Pena que o momento foi estragado por Leo, que chegou com dois copos vermelhos em mãos e se sentou ao meu lado.

 Pena que o momento foi estragado por Leo, que chegou com dois copos vermelhos em mãos e se sentou ao meu lado

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   Meu nome é Aaron Martinez, tenho 17 anos e estou no último ano do ensino médio.
   Desde duas semanas atrás, quando teve uma festa na casa de alguma líder de torcida, tenho observado e prestado atenção em um certo garoto: Andy Zhang. Andy é um garoto canadense de uma família chinesa pelo lado da mãe e russa pelo lado do pai. Ele não é popular, mas tem vários amigos.
   É estranho pensar que, antes do acontecimento da festa, nós nunca reparamos na presença um do outro. Ele já estudava na mesma sala que eu em várias matérias fazia anos e nunca notei o quanto ele era lindo...lindo? O que você está pensando, Aaron?!
   — Hey, cara, você está viajando na maionese de novo! — diz Leo me chacoalhando pelos ombros.
   — Ah, me desculpe. — recobro meus sentidos e ajeito meus óculos.
   Tenho que me controlar! Andy pode até ser bonito, mas não posso deixar que isso me distraia dos meus afazeres e conversas com Leo. Posso me prejudicar por ficar pensando nele.
   — Tudo bem, cara. Mas você anda muito em outro mundo! Está aonde? Na lua? Já sei! Está apaixonado e não para de pensar na sua garota!
   — O que?
   Eu, apaixonado? Nem em sonhos! Para mim o Andy é como uma inspiração, alguém que eu quero ser amigo! Ele é legal, divertido, bonito. Seus olhos escuros parecem o breu da noite e seu cheiro...ah que delícia de perfume que ele passa! Quando ele está nervoso, ele tem a mania de ficar passando a mão na nuca, tão fofo! Mas eu não estou apaixonado! Eu não sou gay!
   — Ihh! Ele está apaixonado! Que sorte a sua, cara. Aposto que ela é extremamente gata. — Leo encosta na árvore e fica olhando para o nada. — Eu queria ter alguém também. Mas ninguém gosta de mim!
   — Primeiro: eu não estou apaixonado e não sei de onde você tirou isso. Segundo: ninguém gosta de você porque você é chato e você vive dando em cima das garotas dizendo coisas pervertidas, ninguém gosta disso!
   — Eu gosto. Vou me namorar.
   — Faça isso e até eu não vou querer ser seu amigo.
   — Nossa, seu sem coração! — Leo me dá um soco de leve no braço e voltamos a comer nossos hambúrgueres de frango.

   Ao chegar em casa, me deparo com um carro velho vermelho parado do lado de fora. Entro no sobrado azul claro que acolhe minha família e tranco a porta. Reparo em uma garota de longos cabelos pretos soltos caídos sobre os ombros, sua posição não era uma das mais agradáveis de se ver, ela estava deitada e largada no sofá com um pacote de Doritos aberto no colo, uma caixa de lenços de papel e uma lata de cerveja em uma das mãos. Seus olhos estavam marejados e sua maquiagem borrada. Na televisão à sua frente estava passando algum desenho infantil que eu não consegui identificar.
   — O que está fazendo aqui, Emma? — Perguntei retirando meu casaco e deixando-o no braço do sofá — Onde está a Mamãe?
   — Mamãe saiu com o pai daquele moleque Leo. Vou ficar aqui até achar um novo apartamento para morar.  — respondeu minha irmã entre alguns soluços e pegando mais um lenço da caixa.
   — Esqueceu de pagar o aluguel de novo? — perguntei já na cozinha enquanto ia pegar algum biscoito para alimentar minha fome.
   — Terminei com Octavian e eu nunca mais quero entrar naquele apartamento! Você acredita que ele levou uma vagabunda loira para lá e comeu ela na nossa cama? Pois é!
   — Só agora que você percebeu que ele te traía? Não era óbvio? ー fechei a geladeira.
   — O que? Ele me traiu antes? Quando? Mata agora ele!!
   Subi as escadas ignorando o chilique que minha irmã estava dando no andar de baixo, entrei no meu pequeno quarto e coloquei meu celular para carregar. Deitei em minha cama e, por conta do cansaço, acabei por adormecer sem tomar banho.

   Já havia passado duas aulas das que eu tenho junto com Andy e o garoto ainda não mostrou sinal de vida na escola.
   Preocupado, pedi licença ao professor e fui até o banheiro masculino do andar. Entrei em uma das cabines livres, sentei em cima da tampa do vaso sanitário e comecei a criar teorias sobre o que pode ter acontecido com Andy para não vir na escola hoje.
   De repente, ouço um barulho de algo se chocando fortemente contra a porta trancada da cabine onde eu estava e me senti obrigado a encarar os desenhos indecentes da porta imaginando o estava acontecendo do outro lado.
   —  Pare! Nunca mais fale comigo novamente! — a voz fina de um garoto foi interrompida por alguns gemidos de desconforto — Se afaste! Seu nojento! Repugnante!
   Assustado, subi no vaso sanitário e cautelosamente olhei por cima da porta para tentar entender o que se passava. Me assustei.
   Tinha um garoto encostado de costas para a minha cabine que logo reconheci: Andy. Havia um outro garoto que prendia o meu asiático com os braços e tentava beija-lo toda hora. Eu nunca conversei com esse cara antes, mas lembro de  sempre vê-lo com Andy e mais um outro, seja lanchando ou indo embora juntos.
   Meu garoto canadense deu um tapa forte no rosto do outro cara, acho que ele se chama David, o que deixou uma bela marca avermelhada na bochecha dele.
   — Não se aproxime de mim nunca mais, seu bastardo!
   David,  então, deu uma olhada para cima apenas com os olhos e, com o canto da boca, deu um leve sorriso. Saiu do banheiro masculino sem lavar as mãos como se nada tivesse acontecido. Fuja mesmo! Senão eu dou um belo chute nas tuas bolas!
   Andy, com nojo, correu até a pia mais próxima e lavou as mãos e a boca desesperadamente com água e sabão. Aquilo não deveria ter um gosto muito bom... O garoto olhou para o espelho e ficou se encarando, seu rosto estava marcado por restos de lágrimas e seus olhos estavam vermelhos, o que mostrava que ele estava chorando fazia pouco tempo. Sem dar um suspiro ou um aviso, socou o espelho fazendo-o se despedaçar e cortar sua mão. Um pouco de sangue pingou no chão e na pia. Eu, extremamente preocupado, queria sair o mais rápido da cabine e ir cuidar de sua mão machucada, mas minhas pernas não me ajudavam, eu estava em choque e tremendo.
   O sinal tocou e Andy saiu do banheiro abrindo a maçaneta com um papel*. Já era o intervalo ( almoço, hora do lanche, recreio ou seja lá como vocês chamam isso, se quiserem posso até cantar “meu lanchinho”) e, com a fome forte que eu estava, finalmente consegui me mover e sair do lugar.


   Me encontrei com Leo no mesmo lugar que nos encontrávamos no intervalo desde que nos conhecemos: um gramado perto de uma grande árvore que, aos outonos, se enchia de folhas secas em diversos tons de amarelo, laranja, vermelho escuro e marrom.
   — Demorou um pouco hoje, cara. Onde estava? — perguntou meu melhor amigo cabeludo se encostando na árvore e relaxando com metade de um sanduíche, provavelmente de frango, em uma das mãos.
   Eu não era e nunca fui bom com mentiras, então uma resposta rápida e vaga de apenas uma palavra foi dita: “Banheiro!”
   Conhecendo Leo, eu sabia que o moreno desconfiava que não havia sido uma ida ao banheiro comum e que algo tinha acontecido, mas, por sorte, ele não quis tocar no assunto. Agradeci muito por isso, eu não gostaria de relembrar a cena do meu querido Andy sofrendo nas mãos de seu falso amigo.
   Após alguns minutos de silêncio apenas apreciando o sabor de nossos lanches, passamos a falar sobre nossos assuntos diários como botas de couro e aliens.
   Estávamos em um debate aleatório sobre alguma coisa aleatória quando uma sombra pairou sobre minha pessoa e uma doce voz se comunicou conosco:
   — Olá meninos, posso me sentar com vocês?

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⏰ Última atualização: Jan 08, 2020 ⏰

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