Prólogo

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     Teodoro destrancou a porta de sua casa, liberando um suspiro aliviado que indicava a conclusão de mais uma semana de trabalho. Dessa vez, porém, significava mais do que isso: o sábado mais aguardado do ano estava logo à sua frente. Finalmente, após alguns meses de hora extra e suor derramado, viajaria até a encantadora Porto Seguro para rever seu primo e passar as festas de fim de ano com ele. As implicações de tal viagem para eles eram tantas que sua felicidade não podia ser contida, levando-o a saltitar pela aconchegante sala de estar.

   Melhores amigos na infância, Caio e Teodoro foram inseparáveis por anos. Saíam para brincar, conversavam sobre a vida e, simplesmente, eram crianças juntos. Passavam dias na casa um do outro, envoltos na pura magia que é o começo da vida. Os dias de descanso dos adultos eram aproveitados na casa de praia do avô, na cidade de Porto Seguro, onde os dois sentiam-se extasiados com tamanha felicidade. Tudo isso foi muito frequente nos primeiros anos de suas vidas. Contudo, passaram a perceber certo abalo na relação amistosa do pai de Caio e a mãe de Teo, que antes formavam a dupla de irmãos mais próxima que as crianças já haviam visto. Esse abalo começou a crescer à medida que ouviam sussurros sobre herança e dinheiro, assuntos que não os interessavam na época, mas, ainda assim, os preocupavam.

   Já na adolescência, passaram a se encontrar com uma frequência muito menor, pois os problemas existentes entre os mais velhos pareciam ter se agravado. Porém, nada disso impediu que continuassem os mesmos melhores amigos de sempre, desviando de qualquer obstáculo que os impedisse de manterem contato. Os laços que os conectavam continuavam os mesmos, tão fortes quanto sempre foram.

   Foi assim até o melancólico dia em que o patriarca da família faleceu. Como conclusão da intensa discussão que ocorria entre os pais de ambos, o pai de Caio herdou a amada casa de praia, tomando a decisão de se mudar para lá e fugir do caos que havia se tornado aquela família. O acontecimento foi um choque para Teodoro, que foi deixado aos prantos por não poder sequer dizer adeus pessoalmente ao melhor amigo e sem estabilidade mental para questionar os termos daquela herança. Dessa vez, o contato entre ambos foi cessado sem aviso prévio. As diversas vezes em que Teodoro implorou à mãe para conversar com o primo foram em vão, pois a ira familiar parecia ser mais relevante do que a felicidade do garoto. Bem, era o que ele enxergava na época. Entretanto, o amadurecimento o fez aceitar aquele cenário de guerra, respeitando os motivos da mãe e do tio.

   Anos após, já estável trabalhando na única pizzaria que funcionava em sua pequena cidade, o garoto recebeu uma mensagem no Facebook que trouxe memórias e saudade à tona: Caio havia encontrado seu perfil. Teodoro nunca se incomodara com o fato do primo não ter o procurado online, pois ele mesmo nunca fizera isso, mas aquela mensagem havia sido como um presente para o adolescente abandonado que ainda se manifestava nos momentos mais vulneráveis do seu cotidiano.

   Esse acontecimento marcou o momento em que o velho laço familiar foi reestabelecido entre os dois jovens. Numa conversa animada e quase afobada, atualizaram um ao outro sobre as mais específicas desventuras ocorridas durante os anos de separação. Era claro que nada havia mudado, pois até mesmo as velhas piadas internas ainda esgueiravam-se no meio do assunto de maneira graciosa. Eventualmente, o assunto de um reencontro físico simplesmente apareceu, e tomou proporções reais.

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   Teodoro, então, enviou uma mensagem de texto ao primo, avisando que estava em casa e já iria terminar de empacotar suas coisas para viajar no dia seguinte.

   Largou o celular no sofá e, então, dirigiu-se até seu quarto para realizar a tarefa. Entretanto, o glamuroso início da canção Naturally de Selena Gomez o fez dar meia volta. Seu telefone estava tocando, fazendo-o pensar sobre sua clara indisposição de mudar o toque para uma música mais atual, ou ao menos do álbum mais recente da artista, que já completava dois anos. Ele ainda o ouvia todos os dias, de qualquer forma, pois 'o Revival foi uma revolução'.

   Ele sorriu ao ver que era sua mãe quem chamava, atendendo imediatamente.

   — Oi, mãezinha. — disse, percebendo que sua voz refletiu para a mãe o seu sorriso, o qual estava estampado na sua cara.

   — Oi, Teodoro... — ela respondeu, de forma que o filho constatou que estava aflita. Sua voz expressava desespero, e era possível ouvir folhas de papel sendo viradas com força ao fundo, como se estivesse com pressa.

   — Mãe, você tá bem? — questionou, com o sorriso já desfeito. O menor sinal de negatividade vindo da mãe era capaz de entristecê-lo. Amava ela muito. — O que foi, mulher?

   — Teo, vem aqui em casa pra gente conversar. Seu primo morreu.

Teodoro Precisa SuperarOnde histórias criam vida. Descubra agora