— Eu só não vou te devolver o CD do The Black Eyed Peas. — disse Teodoro à garota desolada em sua frente.
— Foi presente, idiota. — respondeu ela, revirando os olhos marejados. — Não pegaria um presente de volta.
Ela arrancou a caixa dos braços de Teodoro, que respondeu com um grunhido irritado. Mesmo não sendo alto, ainda era maior do que Ângela, a garota com quem terminava. Na cabeça dele, isso dava à sua posição na cena um ar arrogante. Então, tentou compensar com simpatia.
— Um ótimo presente, aliás. Obrigado. — devolveu ele, expressando uma gratidão real, ainda que o contexto indicasse o contrário. — Vai ficar tudo bem.
— Não preciso de consolo. — Ângela esbravejou, dando as costas ao homem e andando apressadamente para longe da casa de seu mais novo desafeto.
Teodoro respirou fundo, olhando para a escuridão do céu. Virou-se para dentro de casa, trancou a porta e atirou-se no sofá, sentindo a primeira lágrima escapar de seu olho esquerdo. Uma vez disseram a ele que caso a primeira lágrima do choro saísse do olho esquerdo, queria dizer que ele estava chorando de tristeza. Naquele momento, pelo menos, era verdade.
— Podem sair. — gritou, direcionando-se ao casal de amigos que estava escondido em seu quarto.
— Deu merda, foi?
A frase veio de Tiago, o homem mais alto da cidade de Vila Petúnia, filho do dono da única pizzaria da cidade e melhor amigo de Teodoro. Saía do cômodo no qual estava em direção à sala, procurando amparar o amigo.
— Deu. — respondeu o garoto estirado no assento, logo antes de explodir em um choro descontrolado e exagerado.
— Oh, Deus. — Tiago disse em um tom de pena genuíno, ajoelhando-se ao lado do sofá verde onde Teodoro sofria. — Não se culpe de novo.
As emoções pareciam socá-lo no peito. Em sua mente, estava convencido de que cometera o mesmo erro de antes. O mesmo ato que acabou com o coração do Rafael do Ensino Médio, com a Júlia da Sorveteria e com o Lucas da Copiadora (apelidos criados por Tiago, que sempre se perdia entre tantos nomes comuns).
— Eu surtei, outra vez. — começou ele. — Procurei e consegui achar nela algo que indicasse que ela ia me deixar. É o que meu psicólogo diz que eu sempre faço. Eu não vejo assim, mas olha a merda, né? Eu fiz de novo.
As lágrimas pararam de escorrer por um segundo, mas Teodoro explodiu novamente no segundo seguinte.
— Ela nunca fez nada de errado comigo. Ela era tão otimista, sei lá... — chorou. Sua mente entrou em retrospectiva, numa visão otimista que não apareceu quando tomou a decisão de encerrar seu relacionamento. — Fala a real, Tiago: você acha que ela ia terminar comigo?
— Uai amigo, ela estava a ponto de te pedir em casamento. — respondeu Tiago, apertando a mão do menor em sinal de compaixão. — Você sabe que eu nunca te julgo nessas situações, mas dessa vez você surtou com pouca coisa mesmo.
Teodoro apenas ouvia, com a retrospectiva incessante passando como filme em sua cabeça.
— Eu sei que ela tinha aquele rolê todo com a mãe dela, mas estava disposta a ficar com você. Ela nem dava sinais de que ia te deixar, certo?
O amigo confirmou com a cabeça. Ouviu-se uma tosse familiar vinda do quarto.
— Gente, que noite dramática. — era Tuty, namorada de Tiago e amiga de infância de ambos os garotos. — Na moral, bateu o recorde.
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Teodoro Precisa Superar
Ficción GeneralTeodoro Braga vive na sombra de seu luto interminável. Aos vinte e um anos de idade, teve de enfrentar a morte de seu primo e amigo estimado, Caio Braga. A perda tornou-o um jovem ainda mais inseguro do que sempre foi, e quase conformado com sua te...