Solidariedade - Sarah

112 7 0
                                    

Assim que acordei fiquei sabendo do que aconteceu, meu coração ficou tão pequeno, eu não o conhecia muito bem, mas nunca desejei a morte de ninguém, e não esperava que um homem tão alegre e feliz morresse tão cedo, a verdade é que a gente nunca sabe quando a morte vai bater em nossa porta.

- A onde a senhorita está indo tão cedo?

- Vou até a casa do David pai, preciso vê-lo, ele deve estar destruído.

- Ok. Diga a ele que nos estaremos aqui para o que ele precisar.

Sem entender a solidariedade humana, que por sinal, só aparece em alguns poucos momentos da vida, fui até a casa do David, torcendo para ser bem recebida.

Assim que bati na porta, uma senhora baixinha apareceu com um sorriso encantador nos olhos, sim, nos olhos, afinal, algumas pessoas tem essa capacidade de não sorrirem apenas com os lábios, e isso me fascina.

- Bom dia, o David está?

- Bom dia criança, o David já está na livraria. Acho que ele superou rápido a morte do pai, ficou até mais responsável de um dia pro outro.

- O David é forte. E a senhora, é da família?

- Sou sim. Sou avó do David. Não sou mãe daquele chato, que Deus o tenha, mas sim da mãe do David. Minha filha era uma pessoa tão adorável, pena que casou com um imprestável.

Um pouco sem reação, apenas sorri, e disse que iria até a livraria. No caminho me perdi no pensamento de como deveria ser a mãe do David, ele já havia me dito que ela era incrível, mas talvez ela fosse mais que isso, e o David seria a sua cópia em um sexo diferente, assim como eu e o meu pai somos, pelo menos as vezes.

Quando cheguei na livraria o David me encarou com uma expressão estranha, fiquei paralisada por alguns segundos, não sabia se deveria comentar a morte de seu pai, ou se deveria apenas pedir desculpas e tentar sorrir.

- Pode começar se desculpando, embora eu já tenha te desculpado, acho que gostaria de ouvir isso da sua boca.

Por que ele sempre tem que saber o que falar na hora certa? Eu que deveria ter esse dom, e não ele.

- Só pra te lembrar, foi você que me agarrou.

- Desculpa Sarah. - Sua expressão mudou tão rapidamente, seu olhar ficou tão triste que me fez sentir pena dele. - Eu prometo não fazer mais isso.

- Não quero que prometa nada, eu super apoio que as pessoas façam o que tem vontade na hora que tiverem vontade, não me prometa que vai deixar de fazer algo que você quer, isso é injusto com você.

- Pensei que você não tivesse gostado. Mas, então você está dizendo que eu devo te agarrar?

- Se essa for a sua vontade.

Me arrependi de dizer tais palavras assim que elas saíram da minha boca, mas eu já tinha dito, e de qualquer forma, sempre fui a favor de fazer o que quero e quando quero, não podia tirar esse direito do David.

- Você é complicada Sarah, acho que nem os filósofos te entenderiam.

- Eles não sabem tudo David.

Então uma cliente se aproximou pedindo informação sobre um livro, fiquei chateada por ela ter interrompido nossa conversa, com tantos funcionários e ela tinha que ir logo perguntar ao David.

Fiquei observando o David trabalhar, as vezes ele se parecia tanto com o seu pai que era fácil se confundir, se ele não fosse mais novo e mais bonito, acho que as pessoas nem perceberiam a diferença.

- Acho que já vou indo, te vejo na escola?

- Não hoje, tenho que resolver algumas coisas. - Sua expressão ficou triste de novo. - Agora as coisas estão mais difíceis por aqui.

Não resisti em lhe dar um abraço, afinal, acho que era o mínimo que eu poderia fazer. Seu abraço foi tão forte que deu pra sentir o quanto ele precisava daquilo, o quanto precisava de um abraço, de um pouco de atenção, ele estava em um momento tão difícil em sua vida, e talvez olhasse em volta e não visse ninguém ali, afinal, as pessoas que sempre estariam do seu lado agora estavam todas mortas, ele estava sozinho de certa forma.

- Eu nunca fui boa com isso David, e acho que nunca vou ser, mas eu quero que você saiba que eu estou aqui para o que você precisar, mesmo que as vezes eu seja fria e pareça não me importar, eu me importo, e você se tornou um amigo pra mim, e eu nunca fui de deixar os meus amigos sozinhos. Sempre que você precisar, pode me chamar, e mesmo que não seja nada, eu vou estar aqui do teu lado.

- Obrigado Sarah. - Sua voz um pouco embaraçada, parecia que estava chorando. - Isso era tudo que eu precisava ouvir agora.

SarahOnde histórias criam vida. Descubra agora