⚠ Apresenta insinuações sobre estupro e abuso, se você tem algum problema ou é sensível a esse assunto, NÃO LEIA. ⚠
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Começou quando eu tinha seis anos. Naquela época eu não entendia o que acontecia, mas conforme cresci, tudo ficou mais claro. No início, eu só tinha uma leve dúvida, mas depois de uma palestra na minha escola, a ficha realmente caiu. Lembro que me tranquei no banheiro e chorei. Chorei até não ter mais nenhuma lágrima, chorei até que demorasse para voltar 'pra sala e a professora viesse a mim preocupada e perguntasse.
"Você 'tá bem?"
Não.
"Sim". Esse foi o primeiro sim, a primeira vez que menti. Depois, sempre que me faziam essa pergunta, eu respondia a mesma coisa. Dizia que sim, me sentia bem. Que logo iria passar, era uma tristeza momentânea.
Bom, não passou. Na verdade, só piorou, por quê agora eu entendia, sabia o que estavam fazendo comigo, com o meu corpo.
Juro que tentei fazer parar, tentei dar um fim aquilo. Eu tentei várias e várias vezes, mas eu não consegui.
Doía, ah! Como doía. Doía acordar todo dia e não ter coragem de olhar no espelho. Doía não poder contar 'pra ninguém, por quê se eu abrisse a boca, iam me machucar (mais do que já machucavam, mas enfim...), iam machucar a minha mãe, meus amigos.
Doía me sentir um monstro, um ser incapaz, sujo, quebrado, um objeto que não serve 'pra mais nada. Doía cobiçar um sorriso genuíno, que não fosse falso, rir de uma piada ruim ou simplesmente ser feliz sem motivo.Doeu por horas que viraram dias, dias que viraram semanas, semanas que viraram meses, meses que viraram anos que pareciam séculos. Doeu até aquele dia em que minha mãe decidiu que eu tinha que fazer terapia.
"Ok, o que 'tá acontecendo com você?"
Minha progenitora entrou no meu quarto, parecendo uma pessoa normal, e quando digo normal me refiro a sem ficar correndo de um lado para o outro e não olhar nada ao seu redor. Na verdade,era a primeira vez em muito tempo que ela realmente falava comigo, sem os "bons dia" automáticos de sempre.
"Nada, por quê?"
"Ora, vamos todo mundo vê o que você 'tá diferente!" Com certeza, alguém contou 'pra ela. Minha mãe nunca saberia dizer por conta própria que alguma coisa aconteceu comigo. Primeiro por ela não ter tempo 'pra mim, ou 'pra qualquer outra coisa que não seja trabalho e contas, e segundo por que nós não conversamos à, sei lá, quase três anos?
Bom não importa. Não contei a-quase-três anos, por quê contaria agora?
"As pessoas mudam?" Por quê esse olhar desconfiado, é verdade. Pessoas mudam.
"Não tem nada de errado comigo, pode ir embora" Tirando a parte de que agora eu tenho medo da minha própria sombra, ou andar sem companhia na rua, ou em qualquer outro lugar...
Deu um suspiro cansado. Engraçado meu corpo está cheio de hematomas (que ela não pode ver) e nem por isso estou chorando de dor. Embora eles ardam como fogo e quando essa " conversa" terminar eu vou tentar chorar. É tentar, não sei se consigo demonstrar qualquer reação sem que seja culpa, ou dor (moral e física).
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Random"Começou quando eu tinha seis anos. Naquela época eu não entendia, mas conforme cresci, tudo ficou mais claro. [...] Eu não quero sentir isso [...]" Protesto contra o Abuso Sexual ou Psicológico contra crianças e adolescentes. [[Se você estiver le...