Respirei fundo, sentindo o aroma floral gostoso com o qual já estava acostumada. Toda vez que pisava na guarita do prédio de Dalila, o cheiro das flores do jardim invadia meus pulmões, geralmente fazendo um sorrisinho surgir em meu rosto. Mas hoje eu estava preocupada, ansiosa demais pra sorrir. Assim que me viu, Andy abriu a porta para mim, como em toda sexta-feira, e eu entrei, respirando fundo outra vez. Trêmula, passei por ele, que me deu um sorrisinho amigável por detrás do balcão da portaria, e subi pela escada, inquieta demais para esperar o elevador. Aquela poderia ser a última vez que eu estaria naquele prédio. Meu estômago revirou de nervosismo só de pensar. Assim que o primeiro andar entrou no meu campo de visão, vi Dalila me esperando com a porta de seu apartamento aberta. Minha garganta ficou totalmente seca assim que seus olhos castanhos me encararam.
Me aproximei da porta, com a respiração discretamente ofegante, mas sem nenhuma relação com os lances de escada que subi. Não soube como agir, até que ela abaixou o olhar e me deu espaço para passar. Com sérias dificuldades pra respirar de tão apreensiva, eu entrei e parei a alguns passos da porta, de costas pra ela, enquanto a ouvia trancá-la. Tomando coragem, me virei em sua direção, e a observei encarar o chão e prolongar aquele silêncio sepulcral por mais alguns segundos.
- Como você tá? – ouvi Dalila murmurar, com um pouco de cuidado na voz, e quase não soube responder, porque seu olhar se fixou no meu.
- Bem. – respondi, com a voz falha, e pigarreei de leve para firmá-la. – E você?
- Já estive melhor. – ela falou, assentindo devagar e voltando a encarar os próprios pés. Mais silêncio.
- Não quer se sentar? – ela disse, me olhando novamente após mais algum tempo quieta, e indicou o sofá com um gesto de mão. Me sentindo uma visitante incômoda, fiz que não com a cabeça e esbocei um sorriso cordial, evitando olhar em seus olhos. Dalila respirou fundo, colocando as mãos nos bolsos do short jeans, e perguntou, com a voz baixa:
- Como foi a excursão?
Soltei um discreto risinho miserável ao ouvir sua pergunta, me lembrando de todos os péssimos momentos daquele dia. Nem que eu quisesse seria capaz de explicar o quão torturante aquela excursão tinha sido.
- O que você acha? – murmurei, encarando meus tênis com a expressão vazia. – Não podia ter sido pior. - Dalila abaixou seu olhar, parecendo um pouco culpada pela minha resposta, e eu continuei. - Ter que passar o dia inteiro com pessoas que eu não gosto e que também não gostam de mim, quase perder o chaveiro que minha avó me deu de presente, e pra encerrar com chave de ouro, quase ser assaltada enquanto esperava minha mãe ir me buscar na escola. Grande dia, sem dúvida.
- O que? Você quase foi assaltada? – Dalila repetiu, com a voz um pouco sobressaltada, e eu pude ver seu rosto demonstrar preocupação. – Como assim?
Ergui meu olhar pra ela, e entortei a boca, balançando a cabeça negativamente.
- Não foi nada demais. – respondi, sem querer citar o momento em que a professora Augustin apareceu e expulsou aquele cara estranho. – Minha mãe chegou bem na hora e ficou tudo bem.
Dalila continuou me encarando, com o olhar meio aflito e a testa levemente franzida, e eu sustentei seu olhar, séria por fora e desmoronando por dentro. Tudo que eu queria naquele momento era abraçá-la, só isso já me faria um bem enorme.
- Eu devia ter dado um jeito de ir com você. – ela disse delicadamente, como se tentasse enxergar meus pensamentos através dos meus olhos. – Evitaria muita dor de cabeça.
- Pois é. – suspirei, sentindo minhas entranhas se revirarem de ansiedade dentro de mim ao ouvir seu tom de voz reconfortante. Se eu dissesse que estava lacrimejando, seria muito ridículo?
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My Biology - Vamila
RomanceO que fazer quando você se vê envolvida com sua professora de biologia, mas terrivelmente atraída por sua insuportável professora de laboratório? Camila não esperava pelas reviravoltas de seu último ano no colégio e nem que seus pensamentos seriam t...