63º Capítulo - Lucy

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Aquela atitude de Clara fora completamente inesperada. No início, quando vi seus músculos saltados e várias cicatrizes por seus braços, logo decidi: morro, mas não luto com minha filha. Supus que de imediato seria atacada, e por isso já estava pronta para deixar-me partir. Desviei o olhar para a batalha ao redor com o coração na garganta, imaginando como seria a dor de uma flechada.

Provavelmente logo descobriria. Pensei, mas tudo se desfez quando notei o ambiente lento e enevoado que circundava a luta. Tudo e todos pareciam alheios a nós duas. Estávamos a sós em meio a uma guerra.

Encarei-a, hesitante. Por que ainda não havia avançado contra mim?

Apertei o punho da espada, esboçando no rosto uma expressão confusa, fundamentada na questão "o que vamos fazer?". Seu olhar era inteligível.

_ O dom... – sussurrei, na tentativa de ajudá-la a entender o que estava acontecendo.

Incerta, minha filha assentiu. Clara parecia travar uma própria batalha interna.

Continuei a encará-la.

De repente, num gesto rápido retirou a espada do cinto e largou-a, fazendo-a cair rumo ao chão, produzindo um som desagradável ao chocar-se com uma pequena pedra. Em seguida, fez o mesmo com o arco e a aljava.

O que ela estava fazendo?

Num impulso, minha filha deu um passo à frente e lançou-se em meus braços, surpreendendo-me da forma mais doce possível. Retribui de imediato. Larguei a espada e abracei-a também.

_ M-mãe... – balbuciou ela. – E-eu não queria... Eu...

_ Shhh... – sinalizei, pedindo silêncio e apertando-a mais contra mim. – Você só está confusa, meu anjo, mas sua essência é boa... Sempre foi.

Naquele instante, Clara afastou-se um pouco. Movida por minhas palavras, encheu os pulmões de ar e começou a falar:

_ Lembra-se de nossa conversa, mãe? Antes de tudo acontecer, antes de eu ser exilada? – insegura, meneei a cabeça em sinal positivo. – Pois bem. Lembra-se do que te disse? Minha essência pode ser boa, mas não é boa o suficiente para me fazer ficar na Luz...

_ E não é má o suficiente para fazê-la ficar no Caos. – completei, fazendo-a enrijecer.

_ Mesmo assim, não queria ficar aqui nem lá... Não queria... – ela suspirou, entrecortando sua fala para tomar coragem. – Não queria fazer parte disso.

Mordi o lábio.

_ Clara, lembra-se do que lhe falei no dia daquela conversa? Que se soubesse disso antes, teria deixado claro que poderia partir assim que cumprisse seu papel na batalha? – questionei. Ela assentiu.

_ Quer dizer então que...

_ Sim. Quer dizer que você está livre para partir. - declarei.

O Ciclo de Sangue - A Escolha da Herdeira (livro 02)Onde histórias criam vida. Descubra agora