I. O Mito

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– Para onde vamos? – indagou Lily, agarrando-se às pedras e aos ramos que integravam um trilho estreito, localizado numa ligeira colina que se encontrava entre duas pequenas ruas.

– Tu bem sabes para onde vamos! – disse-lhe o amigo.

Rory tinha exatamente a mesma idade que Lily. Era mais alto do que a maioria dos rapazes da sua idade e os seus olhos eram de um tom castanho, mas ligeiramente esverdeados. Ele era também um aventureiro, e isso refletia-se no entusiasmo com que saltava de pedra em pedra, indicando o caminho.

– Mais devagar! – pediu Lily entre dentes. Ela temia que os seus calções de verão não fossem a indumentária apropriada para uma corrida.

– Depressa! Temos que lá chegar antes do pôr do sol ou não vamos descobrir a verdade sobre o mito.

– Tens a certeza que é boa ideia?

– Lily! Já falámos sobre isto. Pensei que querias descobrir se aquilo não passa de um mito absurdo.

– Mas... e se for verdade?

– Estás com medo?

Lily não lhe respondeu. Ela não tinha a certeza do que sentia. Na verdade, o mito não passava de um pretexto para ver a costa. Como nunca lá tinha ido antes, estava curiosa em perceber se aquilo que os amigos lhe contavam era verdade. Seria a água tão azul? Seriam os barcos tão grandes? Seria tão ensolarado? Seriam as pessoas tão bonitas como diziam? A costa soava-lhe como um pequeno paraíso na terra.

Depois de atravessarem a colina, chegaram ao cruzamento e seguiram pela estrada. Pelo caminho, uma senhora, já com alguma idade, aproximava-se deles, sentada numa carroça puxada por um cavalo negro. Ela viu-os e parou.

– Querem boleia? – perguntou-lhes gentilmente.

Lily e Rory trocaram olhares.

– Sim – respondeu-lhe o rapaz.

– Então, saltem para a traseira e acomodem-se. Para onde vão exatamente?

– Para a costa, senhora – continuou o rapaz –, também vai para lá?

– O que dois jovenzinhos vão lá fazer? Não falta muito para escurecer. Não sabem do mito? Se alguém estiver lá no primeiro brilho da primeira lua cheia de verão, irá despertar o que não deve ser despertado! Ninguém vai estar lá depois das seis horas da tarde.

– Os militares já não fazem a vigia?

– Nem precisam, meu rapaz. Há outro tipo de pessoas a fazê-lo. Na verdade, sempre houve. Os brancos.

– Brancos?

– Sim. O nome advém da forma como se vestem. Eles são a parte oculta do mito, conhecida e contada apenas por aqueles que os viram, isto porque o seu aspeto tem muito pouco de normal. As pessoas não querem parecer malucas ao falar de uma história tão inverosímil, compreendem?

– Estou a ver – disse o rapaz incrédulo. – A senhora já os viu?

– Para minha vergonha, sim. Eu decidi ignorar aquilo que as pessoas contavam. Decidi acreditar que eu, sendo uma adolescente, conhecia e compreendia melhor o mundo. Imaginem a minha cara quando descobri que não era assim. Acho que a minha arrogância morreu no dia em que os vi. Fiquei tão assustada e envergonhada... pensei que ia desmaiar. E quem me dera ter mesmo desmaiado. Dessa forma teria sido poupada ao que se seguiu.

– E o que se seguiu? – perguntou Lily. Tinha absorvido cada uma das palavras da mulher. Ela parecia-lhe sábia e, não menos importante, alguém familiar e em quem sentia poder confiar.

Etéreo: Vila SuspensaOnde histórias criam vida. Descubra agora