Lily puxou Frella pela camisola velha e suja e espreitou para fora. Não viu ninguém nas plataformas adjacentes. As portas continuavam fechadas e as janelas atravessadas por tábuas.
– Quantos brancos existem aqui? – questionou Lily, voltando para dentro. Ela não tinha intenções de ir na frente.
– Mais do que aqueles de que gostaria de me lembrar – respondeu-lhe Frella.
– Como vamos passar pela Suprema? – questionou uma voz trémula vinda de trás.
– May, não esperava que te juntasses a nós. Encontraste a tua coragem?
– Não se trata de mim. Trata-se destas duas crianças. Elas merecem recuperar as suas vidas.
– Mal os conheces. Talvez sejam uns diabretes – riu-se baixinho.
– Afinal, como planeias passar pela Suprema?
– Segue-me e vais ver. Tenham todos em atenção que a partir de agora devem fazer o mínimo de barulho possível.
Frella assumiu o comando. O grupo, agora de oito pessoas, usou o passadiço para saltar de plataforma em plataforma. No meio do vazio que se fazia sentir, Frella mostrou-se bastante confiante, isto até chegar perto da plataforma que se encontrava próxima da Suprema.
– Ok, hora de improvisar – disse. – Como te chamas, pequena?
– Lily.
Frella ajoelhou-se e juntou as mãos em forma de concha para que Lily colocasse um pé:
– Lily, coloca o teu pé nas minhas mãos. Tu és a mais leve.
Lily percebeu que tinha que subir ao telhado. Em cima do telhado, Frella sussurrou-lhe o que devia fazer: – Preciso que contes as vozes que ouvires. Sem barulho, por favor. Embora a audição deles seja fraca, temos de evitar ao máximo emitir qualquer som.
– Fraca, Frella? Eles ouvem bem, até demasiado. Os brancos têm o dom de ouvir entre mundos. Eles ouvem tudo o que se passa no nosso e no deles. A dificuldade está, por vezes, em distinguir de onde vem cada um dos sons.
– Sim, o que a chorona disse. Mas antes, pega nestes pedaços de pano – Frella passou-lhe para as mãos tiras rasgadas da túnica do jovem branco. – Ata-as à volta dos pés. Vai ajudar-te a fazer menos barulho. E tem cuidado, pois os telhados de tábuas costumam ser traiçoeiros.
– O que a May queria dizer com o mundo dos brancos? – questionou Lily.
– Quando conseguirmos sair daqui, perguntas-lhe. Agora mexe-te!
Lily olhou para o amigo. Rory continuava estranhamente calado e com os seus olhos perdidos no nada. Talvez sair daquele lugar o ajudasse a voltar ao normal. Agarrada a essa ideia, foi rasteira até ao telhado da Suprema. Não lhe foi difícil perceber qual seria, pois ficava num cruzamento de passadiços. Na verdade, já ali tinha estado. A Suprema era a senhora idosa que tinha visto anteriormente. Ali, colocou-se o mais atrás que conseguiu e deitou-se de barriga para baixo, encostando o ouvido nas tábuas secas e envelhecidas. Naquela posição, esperou até conseguir ouvir vozes.
– Uma... duas...
O tempo passava e eles pouco ou nada falavam. Lily ficou no telhado mais tempo do que o esperado.
Quando regressou para junto do seu grupo, viu-os a todos com panos em volta dos pés. Frella segurava a forquilha que tinha tirado do jovem branco, que pousou para ajudar Lily a descer.
– Quantos contaste?
– Quatro brancos e uma branca.
– Nesse caso, são seis. A Suprema nunca fala, apenas sussurra ao ouvido do seu general – esclareceu Frella. – A porta estava aberta?
– Acho que não.
– Ok! Mantenham-se atrás de mim. Tentem não fazer barulho. Será melhor se não tivermos de medir forças... – Frella voltou a pegar na forquilha e segurou-a com força.
O grupo imitou Frella, que andava aninhada para evitar as janelas e as pequenas frinchas e buracos nas paredes.
Lily deixou-se ficar para trás para poder conversar com May:
– O que queria dizer quando falou do mundo dos brancos? – sussurrou.
– Oh, o mundo dos brancos... é difícil de descrever, porque, no mesmo momento, eles são capazes de estar aqui e não estar ao mesmo tempo, percebes?
– Como assim? – perguntou confusa.
May deixou que a direção do seu olhar fosse a resposta. Lily parou e espreitou por uma das frinchas. Ela viu quatro camas rústicas e estreitas de uma só pessoa, onde brancos dormiam na mesma posição. Os quatros estavam voltados para cima, de pernas esticadas e braços sobre a barriga. Ao invés de cobertores, eles usavam as suas túnicas com todos os botões abotoados para se cobrirem.
Lily ficou confusa, porque não percebia como aquilo seria a resposta à sua pergunta. Estaria May a dizer-lhe para se calar, já que havia o perigo de acordarem aqueles brancos?
– Não percebo – deixou claro.
Enquanto isso, antes que May pudesse voltar a falar, Frella gritou:
– Corram! Corram pelas vossas vidas! Lily, a pedra!
A porta da sala da Suprema estava aberta e, apesar dos esforços em passarem despercebidos, o general viu-os e a Suprema usou um dos poderes que mais assustavam os antigos prisioneiros: a capacidade de comunicar através do pensamento com qualquer um dos seus soldados.
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Etéreo: Vila Suspensa
Teen FictionLilith Smith é uma menina de quinze anos, magra e não muito alta. Os seus olhos verdes sobressaem entre os cabelos negros e despenteados que lhe cobrem parte do rosto. Ela mora debaixo de um teto modesto com a sua mãe, pai, irmã e irmão. Apesar de g...