we're getting real close

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- Bora, Mike, mete o pé nessa porra! - Richie se esticava para gritar no banco de trás do antigo carro de Mike, que juntou o dinheiro que ganhava de seu avô por dois anos para conseguí-lo.

- Beep, beep, Richie! Para de gritar, tá deixando o Mike nervoso! - Ben exclamou, projetando-se para frente para que pudesse ver o cacheado, que bufou e jogou o peso contra o banco outra vez, cruzando os braços.

O carro estava lotado. Mike no volante, Bev no banco do passageiro, Richie no canto esquerdo do banco de trás, Stan no meio e Ben no outro canto. E estavam todos a caminho da casa de Eddie.
O garoto vinha de uma família difícil, para se dizer o mínimo. Sua mãe, Sonia, era (mega) superprotetora a um nível quase doentio. E por esse motivo, Sonia odiava o grupo de amigos do filho, que sempre o arrastavam para suas aventuras - ela os achava um bando de perdedores. Eles pareciam orgulhosos com o título.
Depois de uma longa discussão com sua mãe, Eddie estava proibido de sair naquela noite. A mulher havia escondido as chaves da porta de entrada para que o menino se conformasse com sua decisão e passasse a noite jogando videogame. E ele faria o exato oposto. Seus amigos o resgatariam daquele inferno, como sempre.

No rádio, tocava "Empty Cups", e Richie cantava - ou gritava - os versos enquanto dançava e se remexia, fazendo o carro todo tremer.
"Oh the way that he dances on me makes me not wanna leave"

- "He"? Ih, tá gay? - Bev provocou.

- Que gay, o quê, garota? Bota a mãe do Eddie aqui na minha frente pra ver se eu não como! Até parece que não me conhece, eu hein. Eu me confundi; por acaso virou crime errar letra de música?

- Aham, Richie. - Bev riu.

Richie revirou os olhos e encarou a janela com a testa franzida. Ele odiava quando tocavam nesse assunto, principalmente na frente de todos os seus amigos. Quando pequeno, ele fora humilhado pelo sujeito Bowers no fliperama enquanto jogava Street Fighter com seu primo. Ele não queria mais nada além de jogar e apostar algumas fichas; mas naquela noite o chamaram de "bicha" e "veado" por querer jogar mais uma vez com o rapaz, que frente aos valentões, preferiu expor Richie. Ele odiava ser rotulado dessa maneira. Mas o que odiava mais era gostar, sim, de garotos.
Fixou o olhar vago em uma sujeira na janela enquanto as calçadas, árvores e casas passavam rápido em segundo plano. Suspirou.

- Chegamos. - Mike anunciou, puxando o freio de mão depois de ter estacionado em frente ao portão de Eddie - Como faremos ele sair?

- Deixa comigo. - Richie caminhou confiante até a direção da janela do garoto, pegou uma pedrinha do chão e atirou no vidro.
Nada.
Pegou outra pedrinha, atirou outra vez.
Nada.
Olhou para os amigos que o encaravam, impacientes.
- Tá, vocês venceram, eu ligo pra ele - revirou os olhos, puxando o telefone do bolso.

- Richie? - Eddie resmungou, com a voz rouca de quem acabara de acordar.

- A princesa já está pronta? A carruagem chegou - Richie zombou.

- Vai se foder. - bravejou, enquanto Richie ria sozinho - Eu não posso sair hoje, tá bom? Minha mãe...

- Sim, sim, eu sei, a sua mãe é uma escrota e tal, mas talvez você deveria checar a sua janela.

Eddie franziu a sobrancelha. Caminhou até a janela e se debruçou sobre ela, pressionando o telefone contra seu ouvido. Piscou por uns segundos antes de responder. Richie sorriu largo e acenou para ele.

- Ah, não. Vocês querem que eu saia pela janela, não é?

- Bingo.

- Vocês são malucos. Eu não vou pular essa coisa. Eu posso quebrar um braço ou uma perna OU OS DOIS!! Não vai rolar. Não mesmo!

Lá embaixo, Richie sorria para Eds com ar vitorioso, como se dissesse "nós dois sabemos que você vai ceder".
Depois de vinte minutos de uma boa conversa, alguns gritos de Eddie e a promessa de dois lanches com milkshake, o garoto concordou em descer pela janela.

Tirou uns quinze minutos para se arrumar. Encarava o armário aberto como se estivesse vazio. Passeou os dedos por todas as roupas penduradas e suspirou. Apanhou a melhor combinação que conseguia criar e se vestiu. Escolheu um perfume bacana e espirrou um pouco no pescoço. Olhou o reflexo no espelho e deu de ombros.
Abriu a janela, sentou no parapeito e tentou alcançar a árvore mais próxima com o pé. "Não é tão perto quanto eu pensava...", pensava, enquanto suas pernas tremiam ao olhar para baixo. Seus amigos gesticulavam em silêncio para que o garoto continuasse, que ele estava indo muito bem!
Para Eddie, absolutamente qualquer coisa naquela situação representava uma ameaça. Fechou os olhos e tentou levar seus pensamentos a algum lugar feliz. Richie. Richie. Sentiu seu rosto ferver em um misto de raiva do mais alto por colocá-lo naquela situação e de constrangimento por pensar nele, em primeiro lugar. Abriu os olhos, sacudindo a cabeça levemente, como se buscasse afastar seu rápido devaneio. Respirou fundo e apoiou o pé na árvore. De uma vez, jogou seu peso e agarrou o tronco, soltando um grito seguido de vários "sshhhh!!" dos outros garotos. "Por favor, mãe, esta noite é uma linda noite para hibernar até amanhã de manhã...", ele torcia por pensamento.
Escorregou pelo tronco da árvore e logo estava no chão junto com o resto. Bateu suas mãos nas calças em um gesto desesperado. Tantos germes.

- Vamos logo, Rapunzel. O Bill tá esperando.

- Sabe eu NÃO SEI SE VOCÊ VIU O QUE ACABOU DE ACONTECER MAS EU DESCI DA JANELA ME ESFREGANDO EM UM TRONCO DE ÁRVORE. EU PROVAVELMENTE TENHO CINCO TIPOS DE DOENÇAS DIFERENTES AGORA - Eddie gritava sussurrando, gesticulando com as mãos.

Richie sorriu. "Como é bom vê-lo".

- Eu vou na frente, losers - Beverly anunciou.

- Precisamos ver como vamos fazer com o Eddie no carro, já somos em seis e no carro cabe apenas cinco de nós... - Stan calculava suavemente, direcionando o olhar para cima, tentando achar uma solução.

- Ah, não se preocupem! O Eds é pequenininho, ele cabe no banco de trás com a gente. Fofinho, fofinho, fofinho! - Richie provocou, apertando as bochechas do mais baixo com os dedos.

- Vai se foder, Richie! Você sabe que eu odeio que me chamem de Eds - disse, empurrando a mão de Richie de suas bochechas.

Por fim, se acomodaram no carro. Ben, Stanley, Eddie e Richie se apertavam no banco de trás para que todos coubessem ali. Já estava bem escuro, mas as luzes dos postes na rua iluminavam o interior do carro de vez em quando. Conforme o carro se movia e chacoalhava, Richie sentia a perna de Eddie atritando contra a dele, fazendo com que sua pele se arrepiasse. Eddie não parecia se importar tanto, pois digitava em seu telefone com seus dedos ágeis e não se mexia. O moreno suspirou aliviado. "Tranquilo, Rich. Tá tudo sob controle".

empty cups // richie + eddieOnde histórias criam vida. Descubra agora