E o que eu sou?
Uma personagem.
Personagem? Só isso?
Não. Você carrega sentimentos e pensamentos, quase como uma pessoa.
E o que uma personagem faz?
Vai até o fim.
Que fim?
Da história, oras.
Da minha historia?!
Sim. Mas pra ir, você precisa se montar.
Me montar?
Sim. Primeiro você precisa de um narrador. Alguém que crie lugares e situações pra que você se aventure até chegar ao fim.
E por que não posso chegar ao fim sem a aventura?
Porque estamos no começo e para chegar ao fim é preciso atravessar uma longa ponte. Essa é a aventura. Se quiser, eu posso ser um narrador pra você.
– Está falando sério? – personagem disse enquanto seus olhos cintilavam
Ainda há algo errado. Você precisa de um nome.
– Algo marcante? – ele me perguntou
Eu precisava de um nome, algo que marcasse a personalidade do personagem, mas até agora ele não tinha personalidade nenhuma.
Pensamos nisso mais tarde.
– Agora então já podemos partir pra aventura?
Espere! Não! Você precisa de uma imagem, de um motivo pra seguir até o fim e, claro, de valores.
– Certo. E onde consigo esses tais valores?
Mais adiante no nada onde se encontrava, personagem pode avistar uma cabana de madeira com o telhado todo coberto de musgo. Uma placa em cima da porta dizia em letras alegres e decoradas com arabescos: Loja de Valores.
– Quando você disse que eu podia ver eu realmente vi. – ele me informou, encantado.
Sim, é para isso que sirvo. Eu te dou vida.
Assustado com o que via, personagem se aproximou da cabana. Abriu a porta com cuidado, balançando um sininho que avisava que ele havia acabado de entrar.
– Bom dia! – disse alguém atrás de um balcão aos fundos da loja. Era uma mulher loira e baixinha que carregava um sorriso solar no rosto.
– Como compro valores? – personagem me perguntou
Escolha alguns e eles te custarão uma experiência, é isso que fará a sua história e te enriquecerá como personagem. Te deixará mais perto de ser uma pessoa.
– E um dia eu poderei ser uma? – personagem parecia animado com a ideia, mas eu tinha de contar a verdade.
Não. Você está em um mundo de fantasia, para ser uma pessoa você teria de nascer na realidade, assim como eu. Mas não fique triste, personagem. Escolha seus valores e então poderei escolher seu nome.
Personagem se aproximou do balcão da loja de valores com cuidado, observando tudo ao redor. Era a primeira vez que ele via algo assim. Na verdade, era a primeira vez que ele via algo.
– Eu sou uma personagem. – personagem disse à mulher baixinha que continuava com seu sorriso solar.
– Estou vendo. – ela respondeu radiante
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Viagem para o Fim
Short Story"A fantasia vem de coisas que são reais, Hasan. Em outras palavras, isso tudo, inclusive você, vive dentro de mim."